INTRODUÇÃO
No lar, os conceitos mais importantes da vida são ensinados e o caráter da família e principalmente dos filhos, é formado. Por isso, devemos compreender e ensinar sobre a importância do culto doméstico. Nesta lição, definiremos a palavra culto e também a expressão culto doméstico. Veremos ainda à luz da Sagrada Escritura o registro da prática do culto no lar nas páginas do Antigo e do Novo Testamento; destacaremos ainda que apesar de ser a Igreja o lugar onde a família adora e aprende a Palavra do Senhor, não é o único lugar, pois o lar deve ser uma extensão da Igreja. Por fim, elencaremos alguns motivos que podem impedir a prática do culto doméstico e quais os benefícios que a família usufrui quando tem um lar piedoso.
I - DEFINIÇÃO DAS PALAVRAS “CULTO” E “CULTO DOMÉSTICO”
De acordo com o Aurélio, o termo “culto” significa “uma adoração ou homenagem à divindade em qualquer de suas formas e em qualquer religião”. Teologicamente significa: “tributação voluntária de louvores e honra ao Criador” (CLAUDIONOR, 2006, p. 127). Já a expressão “culto doméstico” é definida como “uma reunião da família, sob a liderança dos pais cristãos, com a finalidade de cultuar a Deus no lar” (RENOVATO, 2013, p. 115).
II – A PRÁTICA DO CULTO DOMÉSTICO NO AT
2.1 Adão e filhos. Quando o registro bíblico nos mostra que os filhos de Adão ofereceram ao Senhor as primícias do seu trabalho (Gn 4.3,4), demonstraram haverem recebido de seus pais conceitos sólidos sobre Deus e seu relacionamento com o homem. Do contrário, como poderiam eles saber acerca do culto verdadeiro?
2.2 Abraão. O patriarca Abraão, considerado “pai da fé monoteísta” pelas três maiores religiões do mundo (judaísmo, cristianismo e islamismo), não foi somente chamado por Deus para servi-lo e cultuá-lo (Gn 12.1-3), como também recebeu a missão de ensinar a sua posteridade o caminho de Deus (Gn 18.19). Vemos que Abraão cumpriu sua tarefa espiritual ensinando o seu filho Isaque a cultuar ao Senhor. Destacaremos algumas indicações disso: (1) Isaque sabia quais os elementos do culto a Deus (Gn 22.7,8); (2) se dispôs a ser o cordeiro em holocausto ao Senhor (Gn 22.9); (3) mantinha uma vida de oração (Gn 24.63; 25.21); e (4) edificou altar ao Senhor (Gn 26.24,25).
2.3 O povo de Israel. O lar era a unidade básica da sociedade bem como a primeira escola que um menino judeu conhecia. O Antigo Testamento mostra o grande valor dado às crianças e a grande responsabilidade que pesava sobre os ombros dos pais, porquanto os filhos eram tidos como dons de Deus (Jó 5.25; Sl 127.3; 128.3,4). As crianças eram treinadas em seus deveres religiosos ou outros (I Sm 16.11; II Rs 4.18). Porém, o elemento religioso ocupava sempre o primeiro plano, seguindo a orientação divina (Dt 6.4-9; Sl 78.3-6; Pv 4.3) (CHAMPLIN, 2004, p. 271).
2.3.1 A parte pedagógica das festas e dos memoriais. O próprio Deus determinou por meio de Moisés, o seu servo, que era dever dos pais usar as festas religiosas para ensinarem os seus filhos, a fim de que eles soubessem o sentido que estava por trás de todo cerimonial da Páscoa e assim entendessem o porquê da celebração “E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o sacrifício da páscoa ao SENHOR, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas” (Êx 12.26,27). Semelhante orientação deu o Senhor a Josué assim que o povo atravessou o Jordão, ordenando-lhes que pegassem as pedras que estavam no meio do rio, a fim de que erguessem um memorial, para que, quando os seus filhos lhes perguntassem o sentido daquele ato, eles lhes lembrassem as grandezas do Senhor (Js 4.1-7).
2.3.2 Onde deveriam ensinar. A incumbência dos pais incluía ensinar os filhos a adorarem somente ao Senhor (Dt 6.4); a amá-lo de todo coração, alma e força (Dt 6.5); e falar-lhes as Escrituras, e isso deveria ser aplicado principalmente no lar: “E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em TUA CASA, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de TUA CASA, e nas tuas portas” (Dt 6.7-9). A palavra “casa” nesse texto vem do hebraico “bayth”, e significa “casa, habitação ou edificação na qual vive uma família” (Dt 20.5), mas também “pode se referir à própria família” (Gn 15.2; Js 7.14; 24.15). O que Deus estava transmitindo é que o principal local de ensinamento das verdades espirituais e morais aos filhos é no seio familiar, pois é no lar onde os filhos gastam a maior parte do seu tempo.
III – A PRÁTICA DO CULTO DOMÉSTICO NO NT
3.1 O exemplo de Jesus. O lar em que Jesus foi criado seguia a mesma orientação mosaica quanto a responsabilidade dos pais de educarem seus filhos no temor do Senhor. Pois desde o seu nascimento, Jesus fôra encaminhado para o templo, como na ocasião em que foi circuncidado com oito dias de nascido (Lc 2.21-24); a narrativa bíblica ainda diz que seus pais o levavam a Jerusalém para as festas religiosas anualmente (Lc 2.42); ainda está registrado a respeito do próprio Jesus que “chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler” (Lc 4.16).
3.2 O exemplo de Timóteo. O jovem obreiro Timóteo, sem dúvida alguma, é outro exemplo de um filho que foi criado em um lar onde havia culto doméstico, que também seguia as ordenanças contidas em deuteronômio. A influência de sua mãe Eunice e de sua vó Lóide sobre a sua formação moral e espiritual, eram dignas de elogios por parte de Paulo (II Tm 1.4,5). Estas servas de Deus empreenderam esforço na vida de Timóteo desde quando era muito criança (II Tm 3.15).
IV – O LAR COMO EXTENSÃO DA IGREJA
Embora a Igreja seja o ambiente propício para o louvor, adoração e pregação da Palavra de Deus (Sl 27.4; II Cr 7.15,16), não é o único lugar onde a Palavra deve ser ensinada (At 5.42). O lar do cristão, deve ser uma extensão da igreja onde os pais reproduzem a sã doutrina (II Tm 3.14,15). Os pais cristãos têm a incumbência e séria obrigação de transmitir sua herança espiritual e moral aos filhos (Ef 6.4). Esse legado gira em torno da experiência pessoal do livramento divino do pecado (Rm 6.23); da revelação de Deus em Jesus Cristo (Jo 14.6; Hb 1.1); e, da sua morte por nós na cruz (Jo 3.16-18; Tt 2.11-14). Logo, os pais cristãos devem aproveitar todas as oportunidades de tratar com seus filhos dessas questões fundamentais e passar a eles gratidão pessoal por aquilo que Deus fez. Ainda que a criança tenha na igreja professores da Escola Dominical e outros mestres importantes em sua vida, os pais não devem jamais se omitir da responsabilidade que receberam de Deus de ser a fonte principal de instrução espiritual e moral dos seus filhos (Pv 22.6).
V – OBSTÁCULOS PARA REALIZAÇÃO DO CULTO DOMÉSTICO
5.1 Desencontros dos horários da família. Não podemos negar que diante das atividades diárias (ativismo), muitas vezes torna-se difícil, mas não impossível reunir toda a família por causa dos desencontros de horários. No entanto, somos mordomos daquilo que Deus nos confiou, inclusive do tempo (Ef 5.16; Cl 4.5). Temos debitado em nossa conta diariamente 24hs que devemos administrar com sabedoria a fim de não ocuparmos todo o tempo com coisas triviais em detrimento das coisas que realmente são importantes. Portanto, temos que nos esforçar para realizar o culto doméstico constantemente. Lembremos das palavras de certo pensador “não ter tempo para Deus é viver perdendo tempo”.
5.2 Fadiga do dia. Muitos pais alegam não fazer culto doméstico em seus lares por causa do cansaço consequente do trabalho diário. É importante salientar que mesmo com a correria do dia a dia, não podemos negligenciar esse momento espiritual tão importante, simplesmente por causa da fadiga (Pv 13.4; 15.19; I Ts 5.17; Hb 6.11,12).
5.3 Pouca importância. Em alguns lares a espiritualidade da família está em crise. A frieza e a mornidão espiritual têm impedido que os membros da família vivam em comunhão com Deus. Isto se dá pelo fato de alguns lares, darem pouca importância a oração, adoração e leitura bíblica no seio familiar. A preocupação de muitos pais atualmente é apenas com a formação intelectual e profissional dos filhos. Todavia, a Bíblia nos mostra o que devemos priorizar (Mt 6.33; Cl 3.1).
VI – BENEFÍCIOS DO CULTO DOMÉSTICO PARA A FAMÍLIA
O pastor Orlando Boyer, em seu livro TODA A FAMÍLIA, enumera dez benefícios que o culto doméstico pode trazer a família:
- Torna o ambiente familiar agradável;
- Enriquece a comunhão entre os membros da família;
- Evita desavenças e acaba com os focos de desunião;
- Leva os filhos a perseverarem em seguir a Cristo;
- Prepara-nos a render melhor o serviço e a glorificar a Deus no trabalho diário;
- Dá-nos força para enfrentar, com coragem, os problemas e tentações do dia;
- Faz-nos passar o dia na presença do divino Amigo e Ajudador, o Espírito Santo;
- Aumenta a influência e a obra da Igreja no mundo;
- Anima outros lares a seguir o exemplo;
- Honrar ao nosso Pai celestial e manifestar nossa gratidão a Ele.
CONCLUSÃO
Através do culto doméstico os princípios bíblicos são ensinados pelos pais aos filhos a fim de que eles jamais esqueçam. Esse momento é imprescindível à estabilidade espiritual da família porque é o momento em que todos estão reunidos para louvar ao Criador desta instituição e aprender como servi-lo.
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
KOSTENBERGER, Andreas. Deus, casamento e Família. VIDA NOVA.
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