INTRODUÇÃO
Estudaremos nesta lição, sobre o dilema do “profeta-levita” Habacuque
com Deus. Analisaremos, que este servo do Senhor, era um homem que
buscava respostas perturbado pelo que observava na sua nação (Reino do
Sul -Judá). Em seu livro, o questionamento principal do profeta
Habacuque a Deus, resume-se a duas perguntas cruciais: (1) Porque o
Senhor contempla a maldade de Judá, e mesmo assim não a castiga? (Hc
1.1-4); e (2) Porque uma nação corrupta como a Babilônia, deveria
conquistar a nação de Judá, que era menos má? Por fim, após estas duas
perguntas ao Senhor e sua rápida resposta, o profeta termina sua
profecia com um dos mais belos cânticos da Bíblia, exaltando ao Senhor
apesar da iminente derrota de seu povo pelos caldeus.
I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA HABACUQUE
Asseguram os estudiosos ser Habacuque da tribo de Levi […] O final de
seu livro deixa claro que, de alguma forma, ele era também habilitado
oficialmente a participar da liturgia do Templo: “... Ao mestre de musica. Para instrumento de corda” (Hc 3.19). O
termo traduzido no texto citado como “instrumento de corda” é “neginoth”,
que tem em si a ideia de tanger um instrumento. O capitulo 3 de seu
livro é um arranjo musical feito por ele mesmo. Logo, acredita-se que
ele também era um levita (COELHO; DANIEL, 2012, p. 72). O comentarista
da Bíblia Pentecostal diz: “A referência ao “cantor-mor” sobre
os instrumentos de música (Hc 3.19), sugere que ele pode ter sido um
músico levita a serviço do santo templo em Jerusalém” (STAMPS, 1995,
p.1334).
1.1 Nome. O autor deste livro identifica-se como “o
profeta Habacuque” (1.1; 3.1). Além disso, não oferece nenhum outro dado
acerca de sua pessoa nem de sua família; e como acontece com a maioria
dos “Profetas Menores”, quase nada se conhece sobre Habacuque. Ele não é
mencionado em nenhum outro lugar da Bíblia (ELLISSEN, 2012, p. 372).
Habacuque é um dos profetas pré-exílicos e só ele, em todas as Sagradas
Escrituras, recebe esse nome, que pode significar “abraçado”, “abraço”
ou “abraço amoroso”. Uma tradição dos rabinos liga o nome do profeta a
(2Reis 4.16), fazendo-o filho da sunamita: “Disse-lhe o profeta: Por este tempo, daqui a um ano, ABRAÇARÁS um filho” […]. Segundo especialistas, seu nome deriva provavelmente de um vocábulo assirio usado para designar uma planta “hambakuku” .
Jerônimo, no quinto seculo d.C., afirmou que o nome do profeta derivava
de uma raiz hebraica cujo significado era “segurar”, e que recebera
esse nome, ou por causa do seu amor a Deus, ou porque lutara com Ele
(COELHO; DANIEL, 2012, pp. 70-71).
1.2 Livro. No livro de Habacuque o autor usa ilustrações e comparações cheias de vida (Hc 1.8,11,14,15; 2.5,11,14,16,17; 3.6,8-11).
Podemos identificar na obra pelo menos três estilos literários
distintos: (1) o diálogo entre o homem e Deus, o que faz lembrar uma
espécie de diário (Hc 1.1—2.5); (2) um conteúdo semelhante ao dos demais
livros proféticos do AT, na passagem dos cinco “ais” (Hc 2.6-20); e (3)
uma parte poética,, semelhante aos salmos (Hc 3). Assim, podemos dizer
que ele é um diálogo, pode ser uma profecia ou um poema. O
livro demonstra a grandeza e a excelência de Deus sobre todas as nações
(Hc 2.20; 3.6,12), enfatizando a soberania divina. E destaca com a
mesma intensidade a fé dos justos (2.4) e a exultação que deve ser dada
ao Senhor (3.18,19).
1.3 Período que profetizou. Há apenas três referencias históricas em todo o livro de Habacuque. A primeira se encontra na declaração “Deus esta no seu santo templo” (2.20) e a segunda, na nota ao final do livro “Ao mestre de musica. Para instrumento de corda”
(3.19); e em Habacuque (1.6) temos a outra referência histórica onde o
texto fala da iminência de um ataque dos caldeus. Esses textos indicam
claramente que o autor profetizou antes de o Templo construído por
Salomão em Jerusalém ser destruído em 586 a.C. por Nabucodonosor. Por
isso, a data sugerida para a profecia de Habacuque na maioria dos
estudiosos bíblicos a mais provável é a que se situa em 609 a.C., no fim
do reinado do bom rei Josias no reino do Sul (Judá), o qual começou seu
governo aos oito anos de idade (2 Cr 34.1-33). “O quadro de
violência, contendas e apostasias, tão generalizadas em Judá na época
de Habacuque (Hc 1.2-4), parece caber dentro do período que se seguiu
imediatamente após a morte de Josias, em 609 a.C” (SCHULTZ, 2009, p. 472).
1.4 Contemporâneos. “Habacuque foi contemporâneo de
Sofonias e Jeremias em sua terra (Judá) e de Daniel na Babilônia”
(MEARS, 1997, p. 282 – grifo nosso).
II – JUDÁ NOS DIAS DE HABACUQUE
2.1 Situação política. O império mundial da Assíria
caíra exatamente como Naum havia profetizado. O Egito e a Babilônia
disputavam então a posição de liderança. Na batalha de Carquemis, em 605
a.C, na qual Josias foi morto, os babilônios foram vencedores […] Os juízes eram corruptos e julgavam conforme os subornos que recebiam (MEARS, 1997, p. 282).
2.2 Situação social. A reforma de Josias terminou com
sua morte em 609 a.C, e as sementes de corrupção plantadas por Manassés
frutificaram com rapidez sob o reinado de Jeoaquim, trazendo um
desequilíbrio social muito grande […] Judá era corrupto e estava prestes
a ser julgado (ELLISSEN, 2012, p. 373).
2.3 Situação espiritual. Os tempos de Habacuque eram
críticos. As suas palavras se justificam plenamente pelo contexto
político e espiritual de seu tempo. Logo depois da morte do rei Josias.
Joacaz, seu filho, assume o trono, mas só reina por três meses. Faraó
Neco vem da campanha em Carquemis no Egito (605 a.C), depõe Joacaz e
coloca seu irmão, Jeoaquim (ou Eliaquim) no trono, em seu lugar.
Judá (Reino do Sul) começa agora a pagar tributo ao Egito. E pior: a
impiedade voltou a reinar como nos dias do rei Manassés (2Cr 33.1- 20;
2Rs 21 1-18) e de seu filho Amom que seguiu bem os passos maus do pai (2
Rs 21.19-26; 2 Cr 33.21-25). As reformas feitas por Josias haviam tido
um resultado superficial. Não atingiram em cheio o coração do povo que,
mal enterrara seu bom rei, já se entregava de novo ao paganismo (COELHO;
DANIEL, 2012, p. 75).
III – A SITUAÇÃO DE JUDÁ NOS DIAS DE HABACUQUE
Os acontecimentos que acarretaram a destruição de Judá, em 586 a.C, e o
exílio de seus habitantes na Babilônia estavam diretamente relacionados
à incompetência política de seus líderes e à apostasia religiosa […]
(2Rs21; 2Cr 34,35). Quando os assírios foram derrotados em Nínive (612
a.C), o Egito tomou o controle de Judá. Alguns anos depois (605 a.C), a
Babilônia derrotou o Egito e levou os judeus cativos para sua terra (2Rs
24.18 - 25.12) (SCHULT; SMITH, 2005, p. 227). Vejamos qual a situação
de Judá neste período:
• Os justos e os pobres eram oprimidos (1.4;13-15);
• O povo vivia em pecado aberto (2.4; 14-15);
• Havia adoração aos ídolos (2.18-19).
Mediante esta situação, Habacuque faz uma declaração de que “o justo viverá por sua fé”, onde alguns estudiosos do AT preferem dizer: “o justo por sua fidelidade viverá” (Hc
2.4) que é o texto chave do AT usado pelo apóstolo Paulo em sua
Teologia da Justificação como também pelo escritor da Carta aos Hebreus (
Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.37-38). Texto este que refere-se aos exilados
que foram levados cativos pelos caldeus, mesmo sendo fieis a Deus, como
por exemplo: Daniel, Hananias, Misael e Azarias (Dn 1.1-6).
Habacuque tem sido tem sido denominado de “o livro que começou a Reforma” (ELLISSEN, 2012, p. 375). Reflitamos o porquê da punição do Senhor contra Judá:
• O Sofrimento é fruto diretamente do pecado (Gn 3. 13-19; Rm 5.12; 3.23; 8.20);
• Deus não é o culpado pelo sofrimento do povo (Pv 26.2; Lm 1.8,9,14,18,20,22);
• Existe a Lei da semeadura (Gn 37.20-28;
42.21-22; 2Sm 16.22; Mt 7.1-2; 2Tm 3.13; Gl 6.7-8; 2Co 9.6; Mt 6.19-20;
Tg 5.24; Ec 8.11-13; Os 5.7-8; 10.13; Pv 22.8; Jó 4.8; Et 3.6,8,9; 5.14;
10.8);
• A situação trágica de Judá foi causa dos seus próprios pecados (Jr 26.7-11,16; Lm 4.13; Jr 42.14; Lm 4.17);
• O homem queixa-se dos seus próprios pecados (Gn 50.20; Lm 3.39; Pv 19.3; Mq 7.9).
IV – A ESTRUTURA DA MENSAGEM DO LIVRO DE HABACUQUE
Diferentemente da maioria dos profetas, Habacuque não profetiza à
desviada Judá (Reino do Sul). Ele escreveu para ajudar o remanescente
piedoso a compreender os caminhos de Deus no tocante à sua nação
pecaminosa (STAMPS, 1995, p.1335). Analisemos a divisão da estrutura
deste livro:
• Em (Hc 1. 5-11) Deus diz ao profeta o que ele está prestes a fazer.
Revela o poderio do terrível inimigo de Judá e a devastação que deixará
em sua passagem. Descreve a arrogância e o orgulho do inimigo em
atribuir seu êxito ao seu próprio deus e à sua própria grandeza;
• Em (Hc 1. 12 - 2:1) vemos o modo pelo qual o profeta luta com este problema;
• Em (Hc 2. 1-20) o profeta versa sobre o gracioso tratamento de Deus
com Habacuque, e o modo como ele capacita o profeta a compreender a
situação geral. Deus lhe dá uma visão maravilhosa do futuro, e como no
final, se resolverá perfeitamente;
• Em (Hc 3. 1 - 19) o livro descreve a reação do profeta mediante sua
“visão” mostrada pelo Senhor e seu registro de um dos mais belos hinos
do AT. Vejamos um rápida análise deste hino profético considerado como um belíssimo salmo litúrgico:
Os salmos não eram apenas cantados, também eram entoados. Por isso,
seus compositores costumavam fornecer, juntamente com suas composições,
algumas informações, tais como o instrumento adequado ao cântico, o tom
em que ele deveria ser tocado e, as vezes, até a voz mais apropriada.
Podemos ver isso nas epígrafes dos salmos (4, 5, 6, 8, 9, 12, 22, 45,
46, 53-62, 67, 69, 75, 76, 80, 81, 84, 88, etc). O Salmo 46, por
exemplo, de autoria dos filhos de Coré deveria ser cantado em voz de
soprano; e o 6, de Davi, com instrumentos de corda em tom de oitava. O final do livro de Habacuque mostra que o capitulo 3 de seu livro é um arranjo musical feito por ele
mesmo. Logo, acredita-se que ele também era um levita (COELHO; DANIEL, 2012, p. 72 ).
V – A ATUALIDADE DA MENSAGEM DE HABACUQUE PARA A IGREJA
O justo não vive pelo que vê, sente, percebe, imagina ou pensa, mas pela fé. “Porque andamos por fé e não por vista” (2Co
5.7). Não que essas coisas não sirvam, vez por outra, para alimentar a
nossa fé, mas não podem ser consideradas fundamento para ela.
Nossa fé está fundamentada no próprio Deus, e também em sua Palavra. O
justo está baseado nela. Sua sobrevivência e êxito dependem da Palavra
de Deus (SI 1.1-3). Jesus deixou isso bem claro em seu Sermão da
Montanha, na metáfora das casas edificadas sobre a areia e a rocha (Mt
7.24-27). Em outras palavras, nenhuma adversidade, por mais intensa e
intransigente que seja, é eficiente o bastante para desestruturar a vida
daquele que vive sinceramente pela fé. Se a vida do servo de Deus em
por fundamento qualquer coisa que não seja a verdadeira fé, ela
desmorona já na primeira intempérie.
5.1 Habacuque, “um tipo” de Cristo. Normalmente, o
ministério profético é diferenciado do sacerdotal da seguinte forma:
enquanto o sacerdote apresenta diante de Deus as causas humanas (Lv
4.26), o profeta faz caminho inverso, entregando ao povo aquilo que
recebeu do próprio Deus (Jr 1.5). Assim, o ministério sacerdotal é
intercessor, enquanto o profético é caracterizado pela transmissão da
orientação divina ao povo. Os dois eram bem definidos e se completavam.
Lemos que Habacuque, apesar de ser profeta, exerceu um ministério
intercessor assim como Cristo (Is 53.12; Rm 8.34; Hb 7.25). Ele não
apenas profetizou como Cristo, mas também intercedeu fervorosamente pelo
seu povo, como fez nosso amado Senhor (Hb 4.14-16).
CONCLUSÃO
Aprendemos com o profeta levita, que o homem sofre por causa de seus
pecados cometidos, e que o Senhor sempre está disposto a conceder uma
nova oportunidade, mas, para perdoar, sempre usará a disciplina como fez
com Judá e como um pai que ama seu filho (Pv 3.12). Entendemos também
que, seja qual for a situação de nossa vida, devemos permanecer fiéis
aos Senhor “o justo por sua fidelidade viverá” (Hc 2.4), e louvá-lo sob qualquer circunstância (3.17-19).
REFERÊNCIAS
COLHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Os Doze Profetas Menores. CPAD. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
ELISSEN, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento. VIDA. SCHULTZ, S. J. A História de Israel no Antigo Testamento. Vida Nova.
MEARS, Henrieta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Vida.SCHULTZ, SAMUEL J; S. G. V. Curso Vida Nova de Teologia Básica. Mundo Cristão.
Fonte: http://www.rbc1.com.br/licoes-biblicas/index/ Acesso em 27 nov. 2012.
Fonte: PortalEBD
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