A relação íntima de Eliseu com as escolas dos profetas mostra que
o ministério de poder não prescinde do estudo e meditação nas Escrituras.
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo do ministério do profeta Eliseu, estudaremos
hoje a íntima relação do profeta com as escolas dos profetas.
- A relação íntima de Eliseu com as escolas dos profetas mostra
que o ministério de poder não prescinde do estudo e meditação nas
Escrituras.
I – A ESCOLA DE PROFETAS
- Na sequência do estudo do ministério do profeta Eliseu,
estudaremos hoje a íntima relação que o profeta tem com as escolas dos profetas,
pois, como vimos na lição anterior, nada mais nada menos que seis dos quatorze
milagres do profeta estão relacionados com estas comunidades que existiam no
seu tempo.
- Para bem entendermos que eram estas escolas de profetas, faz-se
preciso que recuemos no tempo e verifiquemos a lei de Moisés no tocante ao
ensino divino a respeito da transmissão da lei para as gerações subsequentes.
- Tendo Israel firmado o compromisso com o Senhor no monte Sinai
de que Lhe seria propriedade peculiar dentre os povos, um povo santo e um reino
sacerdotal (Ex.19:3-8), era mister que a lei fosse transmitida para as
gerações seguintes, a fim de que se cumprisse o que havia sido pactuado.
OBS: Tanto assim é que a tradição judaica construiu uma parábola
no Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo, para mostrar a importância que
tinha para o pacto do Sinai a transmissão da lei às novas gerações: “…Quando os
israelitas estavam reunidos no Monte Sinai para receber a Torah das mãos de
Moisés, Deus exigiu deles ‘Primeiro deveis oferecer-me uma garantia de que
observareis os mandamentos da Torah’. Os israelitas responderam: ‘Nossos pais
garantirão isto por nós’. ‘Não!’, protestou Deus, ‘vossos pais foram
pecadores’. ‘Então os Profetas darão garantia por nós’, continuaram os israelitas.
‘Não!’, disse Deus, ‘eles, também, pecaram contra mim’. Os israelitas ficaram
desanimados. Timidamente sugeriram: ‘Talvez os nossos filhos pudessem ser nossa
garantia?’ ‘Vossos filhos!’, exclamou o Criador alegremente, ‘a eles Eu
aceitarei!’. E então deu a Torah para os israelitas…” (AUSUBEL, Nathan.
Relações familiares, esquemas tradicionais de. In: A JUDAICA, v.6,
pp.708-9).
- “…A missão universal dos judeus, como instrumento da vontade de
Deus, no sentido de conduzir todas as nações irmanadas ao Monte Sion através da
Torah, exigia a preservação da continuidade biológica deles. Além do mais, ela
exigia dos pais judeus, geração após geração, que preparassem seus filhos para
tão elevada incumbência. Para aumentar a força moral desse dever supremo, os
Sábios ensinaram ao povo que na ‘criação’ de cada criança havia três sócios:
seu pai, a sua mãe, e Deus. De fato, Deus era considerado o sócio principal,
embora ‘silencioso’, na criação de todas as crianças, tendo os pais como seus
associados ativos. No entanto, eram eles, e não Deus, inteiramente responsáveis
pelo produto ‘final’ — um produto que desejavam que fosse digno do Criador a
cuja divina imagem se acreditava que houvesse sido feito…” (AUSUBEL, Nathan.
op.cit., p.708).
- Este pensamento desenvolvido pelo judaísmo rabínico está em
perfeita consonância com as Escrituras. Vemos nitidamente, na lei de Moisés,
que a transmissão da lei para as novas gerações era uma tarefa considerada
primordial, tanto que, após a enunciação do chamado “texto áureo” da confissão
judaica da crença em Deus (Dt.6:4,5), é determinado que tal confissão fosse
ensinada aos filhos, em todas as circunstâncias, para que se perpetuasse a
aliança firmada no Sinai (Dt.6:6-9).
- Cabia, portanto, à família o papel de transmissão da
lei de Moisés às gerações seguintes. A família, ambiente especialmente
criado por Deus para se desenvolver a comunhão entre Deus e os homens, era e
ainda é o local primeiro para a transmissão da Palavra de Deus, para o ensino da
sã doutrina. São os pais, estes “sócios de Deus na criação dos filhos”, a
responsabilidade primeira e maior de transmitir aos filhos a fé em Deus, os
valores consonantes com a vontade do Senhor que se encontra na Bíblia Sagrada.
O lar é a primeira e mais importante “escola bíblica”.
- É importante observar que a cultura judaica e, por conseguinte,
o próprio povo judeu tem se preservado ao longo dos séculos única e
exclusivamente porque têm observado este princípio estabelecido na lei de
Moisés. Não fosse o ensino da Torah nos lares dos judeus, certamente que a
cultura judaica já teria sido assimilada e desaparecido por completo, ainda
mais diante das inúmeras perseguições que têm sofrido desde a expulsão de sua
terra no ano 135, quando se completou o processo iniciado com a destruição de
Jerusalém e do Segundo Templo no ano 70.
- Nos dias hodiernos, não é diferente. A Igreja, este novo povo de
Deus, deve também aprender com os estatutos da lei de Moisés no tocante à
transmissão da fé em Cristo Jesus para as gerações seguintes. A evangelização
deve começar em casa, no próprio lar, pois, como diz o apóstolo Paulo, não são
os filhos que entesouram para os pais, mas, sim, os pais que entesouram para os
filhos (II Co.12:14) e não há maior tesouro que o reino de Deus (Mt.13:44), o
temor do Senhor (Is.33:6) e o evangelho da glória de Cristo (II Co.4:4-7).
OBS: Não é à toa que a Igreja Romana, que se encontra num esforço
de uma “nova evangelização”, vê como grande dificuldade para tal intento a
falta de apoio da família, como afirma o padre Fábio dos Santos Modesto, em
afirmação que vale a pena transcrever: “…"Nós, como Igreja, nunca teremos
condições de iniciar adequadamente ninguém na fé se nós não contarmos com a
família. Sem essa estrutura familiar e sem a preocupação da família com que
seus filhos tenham fé, conheçam o conteúdo da fé, nós, enquanto Igreja, vamos
continuar oferecendo simplesmente alguma pedagogia, instrução religiosa, mas
iniciação à fé vai ser um trabalho bem insipiente". Mas se existe uma verdadeira
família por trás do cristão, padre Fábio explicou que o papel da Igreja fica
bem mais fácil, uma vez que terá, simplesmente, que utilizar métodos para
organizar os conteúdos de fé.…” (MARÇAL, Jéssica. Padre comenta ações e
dificuldades da iniciação da vida cristã. Disponível em:
http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=288320 Acesso em 12 jan. 2013).
- A função da família era fundamental na transmissão da lei para
as gerações seguintes em Israel, tanto que a “leitura da lei”, que deveria
ocorrer de sete em sete anos durante a festa dos tabernáculos (Dt.31:9-13),
tinha como função primordial tão somente preencher eventual lacuna existente
nesta educação familiar, num nítido caráter secundário, suplementar (Dt.31:13).
- No entanto, os israelitas, num primeiro momento, não
observaram aquilo que o Senhor havia determinado por intermédio de Moisés.
A geração que ouviu esta determinação de Moisés, que foi a geração da conquista
da Terra Prometida, não obedeceu ao Senhor, não ensinando a lei a seus filhos,
que cresceram e chegaram ao comando da nação sem conhecer a Deus (Jz.2:10).
- O resultado disto foi que a geração seguinte à da conquista
deixou os caminhos do Senhor e se envolveram com a idolatria, fazendo o que era
mau aos olhos do Senhor (Jz.2:11-14), o que levou o Senhor a lhes entregar na
mão dos inimigos para que, com o sofrimento, pudessem se arrepender de seus
maus caminhos e se converterem a Deus (Jz.2:15).
- Diante deste arrependimento, o Senhor, então, levantava os
juízes, que eram libertadores do povo, que traziam o povo a servir a Deus, mas,
infelizmente, as gerações continuaram a não ensinar seus filhos o caminho que
deviam andar e, diante desta falta de instrução, tudo se repetia novamente,
iniciando-se um círculo vicioso que perdurou durante todo o período dos juízes,
desde a morte de Josué até Samuel, que foi o último juiz.
- É precisamente Samuel quem atentará para esta situação, para
este círculo vicioso. A tradição judaica entende que o livro de Juízes foi
escrito por este profeta e juiz e, em sendo assim, entendemos porque Samuel
decidiu pôr um fim nesta situação de anarquia espiritual que vivia o povo de
Israel.
- Samuel percebeu o círculo vicioso que vivia a nação israelita, e
que é bem descrita no capítulo 2 do livro de Juízes, uma sequência interminável
de falta de ensino da Palavra de Deus aos filhos por parte dos pais, de
consequente envolvimento com a idolatria e os costumes dos povos gentios, que
resultava na ira divina e na entrega do povo à opressão de algum povo inimigo,
até que o povo, mediante o sofrimento, clamava a Deus, que levantava um juiz,
libertava o povo e o fazia servir ao Senhor, sem que houvesse, porém, o ensino
da lei nos lares, o que fazia com que todo o doloroso processo recomeçasse.
- É nos dias de Samuel que temos a primeira notícia das escolas
dos profetas. Em I Sm.10:5, quando Samuel unge a Saul como o primeiro rei
de Israel, o profeta diz a Saul que, no caminho de volta para a sua casa, ele
encontraria um “rancho de profetas” e profetizaria com eles, instante em que o
Espírito do Senhor dele se apossaria, sendo, assim, devidamente preparado para
ser o primeiro monarca da nação.
- Décadas depois, vamos ver que o velho profeta Samuel presidia
uma “congregação de profetas” em Ramá, para onde tinha se retirado depois que
entregou a administração do país para Saul, local onde Davi foi procurar
refúgio quando do início da perseguição de Saul contra ele (I Sm.19:18-24).
- Notamos, portanto, que esta instituição nasceu nos dias de
Samuel e tinha por finalidade a preparação de pessoas que queriam servir a Deus
para que fossem capazes de não só viver segundo a lei, mas também ensinar o
povo como deveria se viver de forma agradável ao Senhor. Era um espaço
destinado à transmissão da lei a pessoas que queriam servir ao Senhor, não só
para que aprendessem a respeito de Deus mas que fossem aptos para também
ensinar a outros.
- É por este motivo que esta instituição foi chamada pelos
estudiosos de “escolas de profetas”, embora tal termo não seja encontrado no
texto sagrado, que fala em “rancho”, “grupo”, “congregação” e “bando” de
profetas, conforme a versão utilizada. Tal denominação de “escola”, porém, é
por demais apropriada, pois “escola”, no original grego “scholé” era um local
de “descanso, repouso, lazer, tempo livre para estudo” e, entre os romanos,
“schola” era “um lugar nos banhos públicos em que cada um esperava a sua vez,
onde as pessoas costumavam se ocupar da leitura e do estudo”.
- Assim, as “escolas dos profetas” eram um espaço, um local
onde as pessoas deixavam de fazer as suas tarefas cotidianas e ordinárias e se
dedicavam ao estudo da lei do Senhor, dedicavam-se às coisas de Deus, a
aprender os mandamentos, a se dedicar à oração, à busca do Senhor.
- Verificando Samuel que os pais não desempenhavam corretamente o
seu papel de ensino da lei a seus filhos, bem como que não era realizada a
leitura septenial da lei para o povo, criou esta instituição, a fim de que se
quebrasse este círculo vicioso que tanto mal fazia a Israel.
- O fato é que, depois de Samuel, notamos que há uma intensidade
maior de profetas no cenário da história de Israel, fruto inegável do esforço
deste grande homem de Deus que, tendo vivido por volta de 1.074 a.C., já nos
ensina que a educação é fundamental para a perpetuação de uma nação, de um
povo, algo que o Brasil e a igreja pentecostal brasileira, por exemplo, três
mil anos depois ainda não percebeu…
- Elias, conforme já estudamos neste trimestre, muito
provavelmente era oriundo das escolas dos profetas. Embora surja
repentinamente na narrativa sagrada, Tiago nos informa que ele orou para pedir
a Deus que não chovesse, e o zelo pelas coisas do Senhor, uma das “marcas
registradas” de seu ministério, somente pode ter se formado num ambiente como o
das escolas dos profetas.
- Foram as “escolas dos profetas” as responsáveis pela existência
de ainda sete mil que não haviam dobrado seus joelhos a Baal (I Rs.19:18), o
remanescente fiel numa época de apostasia generalizada como a que vivia Israel
nos dias de Elias e de Eliseu. Este número de sete mil não envolvia apenas os
diretamente envolvidos nestas escolas, os chamados “filhos dos profetas”, mas
também pessoas que, mesmo não tendo frequentado tais escolas, foram ensinados
no temor a Deus por estes homens que se dedicavam ao estudo e ensino da
Palavra, como é o caso do próprio mordomo do rei Acabe, Obadias, que,
inclusive, durante a longa seca, tratou de sustentar cem destes profetas (I Rs.18:3,4,13).
- Notadamente, no reino de Israel, o reino do norte, as
“escolas dos profetas” foram praticamente as únicas responsáveis pela
manutenção do culto a Deus, de um remanescente fiel, já que, como nos
mostra a história, não houve um rei sequer que servisse a Deus naquele reino,
sendo certo, também, que a classe sacerdotal, em Israel, era totalmente
espúria, uma vez que Jeroboão havia expulsado os levitas e constituído
sacerdotes dos mais baixos do povo (I Rs.12:31; II Cr.11:13-15) e, portanto,
não poderia mesmo ensinar a lei ao povo.
- Tal dado histórico mostra-nos que o ensino da Palavra de Deus
é fundamental, primordial para a preservação espiritual do povo de Deus.
Quando não há conhecimento, o povo é destruído (Os.4:6) e, lamentavelmente, é
isto que temos visto e assistido ao longo da história da Igreja e, também, em
nossos dias. Os avivamentos encerram-se porque não há continuidade nas gerações
seguintes, continuidade esta que não se dá em virtude da falta do ensino da
Palavra.
- O remanescente fiel, nos dias da apostasia generalizada que
vivemos, será formado e forjado nos espaços dedicados ao ensino da Palavra, à
busca do poder de Deus, nas “escolas dos profetas” de nossos dias, que não é o
de reuniões que se denominam de “ranchos de profetas”, “festivais proféticos”
ou coisas similares, onde há tão somente histeria, transes e manifestações
esquisitas e nada têm de Deus. As “escolas de profetas” são locais onde há um
zelo pela sã doutrina, onde há meditação nas Escrituras, sede de aprendizado, onde
todos procuram conhecer a Deus e vivenciar o que aprendem, buscando, sim, o
poder de Deus, que, naturalmente, se manifesta mas de forma racional, ordeira e
proveitosa.
- A Escola Bíblica Dominical é, queridos irmãos, um destes espaços
em nossos dias. A EBD é legítima herdeira dos princípios e valores perseguidos
nas “escolas dos profetas”, pois também tem a função de complementar e, muitas
vezes (infelizmente, no mais das vezes), suprir a lacuna da falta de ensino
bíblico nos lares, buscando formar no caráter de cada servo de Deus o desejo de
aprender mais e mais do Senhor, de seguir-Lhe a vontade, de se manter separado
do pecado e aguardar o cumprimento das promessas contidas na Bíblia Sagrada.
Caro aluno e professor da EBD, você é hoje um “filho de profeta” que se
encontra servindo ao Senhor , combatendo a apostasia e o pecado, preparando-se
para, a exemplo de Elias, ser arrebatado ao céu naquele grande dia.
II – ELISEU E AS ESCOLAS DOS PROFETAS
- Como temos visto, tudo indica que Elias era oriundo das escolas
dos profetas. Seu ministério este envolvido com os “filhos dos profetas”, que
eram os integrantes destas escolas, como temos conhecimento explícito em II
Rs.2, quando vemos Elias como que se despedindo de diversos núcleos de “filhos
de profetas” em Gilgal, Betel, Jericó e à margem do rio Jordão.
- É a partir desta narrativa que também notamos que Eliseu, assim
que chamado por Elias em Abel-Meolá, partiu com ele para o convívio com os
“filhos dos profetas”, pois a mesma narrativa nos mostra que Eliseu tinha
familiaridade com aqueles homens.
- Temos assim que, quando foi chamado por Elias e tudo deixou para
seguir o profeta, Eliseu foi levado para o convívio dos filhos dos profetas,
onde, a exemplo de Elias, foi devidamente preparado para a sua função,
preparação esta que, conforme vimos em lições anteriores, não foi inferior a
cinco anos.
- Elias, vindo de um lugarejo insignificante como era Tisbe, não
teve uma formação em sua cidade natal. Notamos, perfeitamente, que Elias era
conhecedor das Escrituras, (entendido aqui o que havia sido escrito até então —
o Pentateuco, os livros de Josué, Juízes, Rute e, provavelmente, I e II
Samuel), pois, na sua oração no monte Carmelo, chamou ao Senhor como ‘Deus de
Abraão, de Isaque e de Israel”, a indicar, pois, pleno conhecimento das
promessas e da aliança feita entre Deus e o povo que havia escolhido para ser
Sua propriedade peculiar dentre os povos, e não só na oração mas na própria
atitude que tomou para oferecer o holocausto ao Senhor naquela oportunidade,
mostrando ter pleno domínio das regras cerimoniais então vigentes.
- O fato de Eliseu ter sido levado às “escolas dos profetas” é,
portanto, mais um sinal de que Elias teve também o mesmo itinerário, a nos
provar, pois, que não pode vigorar entre nós um “anti-intelectualismo” que
entende que há uma oposição entre a preparação através do estudo sistemático
das Escrituras e o exercício de um ministério de poder, algo que, durante anos,
predominou de modo hegemônico entre os crentes pentecostais e que, tendo tido
uma minoração nas últimas décadas, está novamente a querer crescer entre nós.
- Não é possível ser mestre sem que, antes, se tenha sido aluno.
Para poder ser sucessor de Elias, para poder ser mestre dos “filhos dos
profetas”, Eliseu teve de ser, antes de mais nada, um “filho de profeta”, teve
de aprender com Elias e viver entre os demais “filhos de profetas”. Ninguém
nasce sabendo, é preciso que cresça não só biologicamente, mas também
espiritual e intelectualmente, para que venha a fazer aquilo que o Senhor quer
que ele faça.
- Nos dias hodiernos, há, ante o imediatismo que tem caracterizado
a atualidade, onde tudo é muito rápido e instantâneo, uma tendência para “se
queimar etapas”, para que alguém, sem a devida preparação, já seja posto à
frente de um grupo de pessoas na Igreja. Há casos, por exemplo, de novos
convertidos que, por causa de sua erudição secular, são imediatamente postos à
frente de classes de Escola Bíblica Dominical.
- Tal conduta é completamente antibíblica. O mestrado, na casa do
Senhor, somente se alcança pelo tempo (cfr. Hb.5:12) e, muitas vezes, só o
tempo é insuficiente para tanto, como aconteceu com os crentes hebreus,
repreendidos, precisamente, porque, apesar do tempo decorrido, não haviam se
aprofundado no estudo das Escrituras, não tendo sequer domínio dos primeiros
rudimentos das palavras de Deus. O mestrado é, portanto, uma questão de decurso
do tempo mas também de dedicação ao estudo, ou seja, é consequência da
“escola”, este tempo dedicado ao aprendizado, ao estudo da Palavra de Deus.
- Neste passo, aliás, tem-se como outra conduta que tem sido
praticada e tem causado efeitos deletérios na Igreja do Senhor a separação ao
ministério de pessoas que não passaram pela “escola”, pessoas que são separadas
sem que tenham sido assíduas frequentadoras de Escolas Bíblicas Dominicais e
dos cultos de ensino, pessoas cuja dedicação ao estudo e aprendizado da Bíblia
não é avaliada. Não há como termos obreiros que não conhecem nem têm desejo de
conhecer a sã doutrina. Uma das atividades dos obreiros é o ensino da Palavra
(At.5:42; 6:4,10; I Tm.3:2,9). Como poderão ser aptos a ensinar se não
aprenderam? É preciso reavaliar esta circunstância.
- É importante verificar que Eliseu tinha já uma formação em seu
lar. A atitude que tomou quando foi chamado por Elias, de pedir ao profeta que
ele fosse se despedir de seu pai e de sua mãe, dá-nos a demonstração de que
Eliseu fora ensinado em sua casa a respeito da lei do Senhor, tanto que não
saiu de casa antes de expressar sua honra a seus pais, como mandava a lei. Mas
só o ensino em casa era insuficiente para que ele assumisse a posição de
sucessor de Elias, o que significava, também, o de sucessor na coordenação das
escolas de profetas em todo Israel, daí porque ter ele, necessariamente, de
passar pelas “escolas de profetas”, primeiro como “filho de profeta”.
- Tanto Eliseu foi “filho de profeta” que era conhecido por
todo Israel como “aquele que deitava água sobre as mãos de Elias” (II
Rs.3:11). Para ser reconhecido como legítimo sucessor de Elias, Eliseu teve, antes,
de ser reconhecido como um servo exemplar do profeta. Será, líderes, que os
senhores são conhecidos como bons e dedicados auxiliares, servos dos que os
antecederam? É esta uma credencial indispensável para que se tenha uma
liderança eficiente e eficaz. O próprio Senhor Jesus, antes de Se apresentar
como o Senhor, como o Cristo, antes de ser glorificado, apresentou-Se como
“carpinteiro, filho do carpinteiro” (Mt.13:55; Mc.6:3), sujeito a Seus pais
terrenos (Lc.2:51), como também como o servo, sujeito à vontade do Pai
(Lc.2:49; Mt.20:28; Mc.10:45; Jo.4:34; 17:4).
- Eliseu foi devidamente preparado durante todos aqueles anos.
Este preparo não foi apenas intelectual, mas também um preparo espiritual. O
ensino nas “escolas dos profetas” não era meramente teórico, mas também tinha
seu lado prático. O estudo é imprescindível, indispensável, pois é preciso
conhecermos a Palavra de Deus, pois é ela quem testifica de Cristo (Jo.5:39). O
conhecimento envolve o domínio intelectual, o contato com o texto sagrado, com
a sua interpretação, a percepção de seu conteúdo e a sua análise pormenorizada
e acurada.
- Entretanto, o conhecimento de Deus também tem de envolver o
contato com o Senhor não só na Palavra, mas também com a Sua Pessoa, com o Seu
Espírito. É por isso que Cristo Jesus disse que os verdadeiros adoradores
adorariam ao Pai “em espírito e em verdade” (Jo.4:24). Assim, ao lado do
contato com a Verdade, que é a Palavra de Deus (Jo.17:17) e mediante o qual nós
O adoramos em verdade, pois Jesus é a Verdade (Jo.14:6), também temos de ter
contato com o Senhor através do Espírito, que, em comunhão com o nosso
espírito, dá-nos a convicção de que somos filhos de Deus (Rm.8:14,15).
- Este contato com o Espírito de Deus dá-se através da oração,
quando Ele fica ao nosso lado, intercedendo por nós (Rm.8:26), bem como através
de uma vida de santificação e de busca do poder de Deus, pois é por intermédio
da separação do pecado que nos tornamos “templos do Espírito Santo” (I
Co.6:19,20), devemos, pois, nos ajuntar com o Senhor (I Co.6:17).
- Eliseu aprendeu com Elias a ter uma vida de oração e de
comunhão com o Espírito Santo, tanto que tinha pleno conhecimento de que
Elias seria arrebatado e tirado de sobre a sua cabeça (II Rs.2:3,5), a mostrar,
pois, que, no instante em que haveria de assumir o lugar de Elias, estava
devidamente preparado do ponto-de-vista espiritual, tinha uma íntima comunhão
com o Senhor.
- As “escolas dos profetas” também preparavam as pessoas sob
este aspecto da comunhão com Deus. Não se tratava apenas de um domínio
intelectual, mas, também, de uma dedicação na busca de Deus, na busca de uma
vida de comunhão e santificação, a fim de serem guiados totalmente pelo Senhor.
Afinal de contas, só quem é guiado pelo Espírito Santo pode se dizer filho de
Deus (Rm.8:14). Não só Eliseu ou Elias, mas os filhos dos profetas sabiam
perfeitamente que Elias seria tomado de Eliseu por sobre a cabeça dele (II
Rs.2:3,5).
- Ainda hoje, é nas “escolas dos profetas”, ou seja, nos espaços
destinados ao estudo e aprendizado da sã doutrina e da busca do poder do
Senhor, que se forma este lindo e maravilhoso consenso que faz da Igreja um só
corpo, ainda que dotado de muitos membros (I Co.12:12-14), um local onde há um
só corpo e um só Espírito, uma só esperança de vocação, um só Senhor, uma só
fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, O qual é sobre todos e por todos
e em todos (Ef.4:4-6). Nos dias de hoje, esta unidade tem sido violada e
desfeita porque as pessoas não têm mais buscado a presença de Deus, porque não
têm sido mais guiadas pelo Espírito, mas, antes, têm se apresentado como
crentes carnais, onde a divisão é tão somente uma constatação desta carnalidade
(I Co.3:3; Jd.19).
- Mas, além da comunhão com o Senhor, decorrente de uma vida de
oração e de santificação, nas “escolas dos profetas” também havia uma
genuína e autêntica busca pelo poder de Deus, tanto que a vez primeira em
que este grupo é mencionado nas Escrituras, ele aparece profetizando e Saul, ao
passar por eles, acaba por receber o Espírito Santo e também profetizar (I
Sm.10:5,10). Não é por outra razão que os integrantes do grupo eram chamados de
“filhos dos profetas”, vez que era notório entre todos os israelitas que sobre
eles estava o Espírito do Senhor.
- As “escolas dos profetas” não existiam apenas para o
aprimoramento próprio de cada um de seus integrantes, mas eram locais
destinados à formação de pessoas que, mediante o seu serviço, levavam a
mensagem de Deus ao povo, demonstravam a presença de Deus em suas vidas,
orientando Israel e fazendo-lhes saber a Sua vontade.
- Neste sentido, as “escolas dos profetas” não só supriam o que as
famílias não estavam mais a fazer, mas desempenhavam a própria função que
Israel jamais fizera, o de ser o anunciador de Deus entre as demais nações,
começando pelo próprio Israel que estava distante do Senhor. Os filhos dos
profetas serão usados por Deus para trazer mensagens ao povo ao longo da história
daquele reino do Norte.
- Como se isto ainda fosse pouco, vemos que, notadamente através
de Elias e de Eliseu, o Senhor também Se comunicou com o povo através de sinais
e maravilhas, a fim de confirmar a palavra profética proferida como também para
denunciar a Sua presença em Israel apesar da indiferença decorrente da
apostasia generalizada.
- Eliseu, devidamente preparado para ser o sucessor de Elias,
autenticou esta sua condição e qualidade por meio de milagres. O seu primeiro
milagre, a abertura do rio Jordão, foi feito para que cinquenta dos filhos dos
profetas confirmassem que Eliseu era, agora, o sucessor de Elias (II Rs.2:15).
Era a confirmação que se fazia da palavra que o Senhor havia dito a Elias no
monte Horebe (I Rs.19:16b).
- Vemos, portanto, que, ao contrário dos “anti-intelectualistas”
que infestam nossas igrejas locais, a manifestação do poder de Deus através de
sinais e maravilhas é uma decorrência, o coroamento de todo um processo que
passa pelo estudo dedicado da Palavra de Deus e por uma vida de santificação e
comunhão com o Senhor. Os sinais e maravilhas confirmam a Palavra (Mc.16:20),
exigem prévio conhecimento da Palavra e uma vida de santificação e de busca sincera
do poder de Deus.
- O Senhor Jesus bem mostrou isto quando, em diálogo com os
saduceus, disse que o motivo do erro espiritual está em não conhecer as
Escrituras e o poder de Deus (Mt.22:29; Mc.12:24). Para que sejamos achados
devidamente preparados e capacitados para fazer a obra do Senhor, temos de ter
conhecimento tanto das Escrituras, quanto do poder de Deus, temos de estar
envolvidos tanto com o estudo e meditação da Bíblia Sagrada, quanto com a
oração e a busca do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais.
- Assim, ao contrário do que alardeiam os “anti-intelectualistas”,
o estudo da Palavra de Deus é absolutamente indispensável para que, a exemplo
de Elias e de Eliseu, venhamos a ter um ministério de poder, venhamos a ser
usados com sinais e maravilhas para a confirmação do Evangelho que pregamos. Os
apóstolos só começaram a fazer sinais e maravilhas depois que ouviram o Senhor
Jesus por três anos e meio, depois que buscaram o batismo com o Espírito Santo
e mantiveram uma vida de oração e de ensino da Palavra (At.5:12,42; 6:4).
- Sem o conhecimento da Palavra, o povo de Deus é facilmente
destruído pelas heresias e falsos ensinos. Sem o poder de Deus, o povo se
torna, a exemplo dos saduceus, um povo incrédulo e racionalista, meramente
religioso.
III – A ESTRUTURA DAS ESCOLAS DE PROFETAS
- Tendo visto a formação de Eliseu nas escolas dos profetas,
procuraremos observar qual era a estrutura delas pelo pouco que as Escrituras
nos revelam a respeito, mas através do ministério de Eliseu, que, como vimos,
foi muito ligado a esta instituição.
- Reconhecido como o sucessor de Elias pelos filhos dos profetas
que se encontravam à margem do rio Jordão, Eliseu, de pronto, teve de lidar com
a sua nova condição de liderança. Os filhos dos profetas quiseram procurar o
corpo de Elias e, para tanto, pediram autorização para o profeta (II
Rs.2:15-17).
- Desta circunstância, que é repetida em outras oportunidades (II
Rs.4:38,43; 6:1,2; 9:1), notamos que, nas “escolas dos profetas”, havia uma
rígida disciplina, em que os filhos dos profetas não ousavam fazer coisa
alguma sem antes consultar o profeta, ou seja, o seu superior, que era tratado,
inclusive, como “pai” (II Rs.2:12; 6:21), daí serem os integrantes chamados de
“filhos”.
OBS: Esta estrutura, aliás, ainda hoje é observada por certos
segmentos judaicos, notadamente os seguidores do “hassidismo” ou “chassidismo”,
como é conhecimento o vigoroso movimento religioso entre os judeus nascido a
partir do século XVIII e que é o principal responsável pela manutenção da
devoção judaica em nossos dias, se bem que, como assinala Nathan Ausubel, “…Ao
final do século XVIII, surgiu um novo ripo de líder religioso chassídico. Era
chamado de rebeh (rabi) ou de tzadik, principalmente tzadik. Os
chassidim, todos cultuadores de heróis, tinham o seu rebeh, generosamente na
conta de tzadik — um homem ou um santo extraordinariamente virtuoso. Por seus
poderes espirituais e proféticos supostamente superiores, consideravam-no capaz
de atuar como um intercessor — a ponte entre seus desejos fervorosos e a
vontade inescrutável de Deus…” (Chassidim. In: A JUDAICA, v.5, p.152)
(destaques originais). Isto torna esta variante do chassidismo muito próxima ao
que é propalado pelos falsos ensinadores da “doutrina da cobertura apostólica”
de nossos dias.
- Naquele tempo, em que o Espírito Santo não era disponível a todo
israelita, entende-se perfeitamente esta disciplina e esta dependência da
orientação do “pai espiritual”. Entretanto, conforme já estudamos em lição
anterior, esta “paternidade espiritual”, cuja intensidade era grande naqueles
dias, não só não pode ser transportada para a dispensação da graça, como não
significa, em absoluto, que haja uma necessária mediação entre Cristo e Seus
seguidores por meio de “líderes” ou “apóstolos”, como se tem defendido em
alguns círculos evangélicos na atualidade, notadamente no chamado “movimento
celular”.
- A “paternidade espiritual” nas “escolas dos profetas” era, em
primeiro lugar, decorrência do fato de se ter, naquele tempo, o “homem de
Deus”, o profeta que era o mensageiro do Senhor daquele tempo, o Seu porta-voz.
Assim, era a ele que se devia consultar para se ter a devida orientação divina
e, mesmo assim, como vimos, isto não impedia que o Espírito falasse diretamente
a cada “filho de profeta”, como no caso da revelação do arrebatamento de Elias.
- Em nossos dias, dias em que Deus não fala mais pelos profetas
mas pelo Filho (Hb.1:1), a “paternidade espiritual” assume um papel de
orientação pela experiência, pela maturidade do “pai na fé”, um mero condutor e
acompanhante, que nada mais faz senão indicar o que Cristo nos ensina em Sua
Palavra, pois só Jesus é o verdadeiro Mestre, o verdadeiro Pai a ser seguido
(Mt.23:9,10).
- Vemos isto claramente na conduta do apóstolo Paulo em relação a
Timóteo. Paulo, que havia sido criado como fariseu (At.23:6; Fp.3:5) e, como
tal, adotava a linha de ter mestres a quem se reportar (Mt.23:7,8), embora se
identifique como “pai na fé” de Timóteo (I Tm.1:2), deixa bem claro que Timóteo
deveria se tornar o exemplo dos fiéis mediante a persistência em ler, exortar e
ensinar, bem assim lembrasse que seu dom havia vindo de Deus, reconhecido pelo
presbitério e que deveria cuidar de si mesmo e da doutrina (I Tm.4:12-16), ou
seja, sua vida espiritual era independente e não precisava, em absoluto, da
intermediação do apóstolo, de uma suposta “cobertura apostólica”.
- A “paternidade espiritual” nas “escolas dos profetas” era
sobretudo um encargo de ensino não só através de palavras mas, também, de
exemplo a ser seguido. Eliseu andou com Elias e aprendeu com o exemplo que
o profeta lhe deu ao longo dos anos. O primeiro milagre de Eliseu, inclusive,
foi a repetição do último milagre de Elias, uma comprovação de que era o
exemplo a marca principal do ensino naquela escola.
- Esta atitude é de ser mantida em nossos dias. Nosso exemplo
maior é Cristo Jesus, que nos deixou Seu exemplo para que o sigamos
(Jo.13:12-17; I Co.11:1; I Pe.2:21). Mas, também, aqueles que o Senhor tem
posto à frente do Seu rebanho devem, também, ser exemplo para os fiéis,
exercendo, deste modo, o seu papel de “pais espirituais” (I Tm.4:12; Hb.13:7; I
Pe.5:3). “Pai espiritual” não é aquele que manda nos filhos e lhes dirige a
vida, mas, sim, aquele que serve de exemplo aos filhos, cuja vida é orientada
pelo Senhor e, por isso, imitada pelos outros.
- Mas não havia apenas o exemplo como forma de ensino. Embora o
exemplo fosse primordial, porque era o que dava autoridade às palavras do
profeta, Eliseu também gastava o seu tempo ensinando os filhos dos profetas,
certamente lhes falando a respeito da lei (II Rs.4:38). Quando o vemos em
Gilgal, ele estava certamente ensinando os filhos dos profetas, que estavam
assentados em sua presença. Após um longo período de ensino, Eliseu, a exemplo
de Jesus (Mt.14:15;15:32), preocupou-se com a alimentação deles e, por isso,
mandou preparar-lhes uma refeição.
- A “paternidade espiritual” não significava domínio sobre os
filhos dos profetas. Eliseu não era um “mandão”, mas um companheiro, que
estava pronto a trabalhar com os filhos dos profetas no que fosse preciso,
como, por exemplo, na construção de um local maior para abrigar os filhos dos
profetas à margem do rio Jordão (II Rs.6:3). Eliseu não apenas autorizou que
eles fossem buscar madeira para a construção, mas foi com eles e, por estar
ali, pôde fazer o milagre da flutuação do ferro do machado.
- As “escolas dos profetas” era estruturada por uma disciplina,
mas uma disciplina que não abria mão da união e do companheirismo. Todos eram
irmãos, vivenciando, em figura, a conduta que deve caracterizar a Igreja em
nossa dispensação (Mt.23:8). É por isso que devemos nos chamar “irmãos”. Não se
trata apenas de um costume, mas de uma lembrança de que estamos todos num mesmo
nível diante de Deus. Entretanto, é cada vez mais comum, em nossos dias,
pessoas ficarem indignadas de serem chamadas “irmão fulano” ou “irmão sicrano”,
porque, dizem eles, não são “irmãos”, mas “pastores”, “presbíteros” etc. etc.
etc. Cuidado, amados irmãos, pois isto é sinal eloquente de que não temos
aprendido com o Senhor, que, aliás, não Se envergonha de ser chamado nosso
irmão (Hb.2:11)…
- As “escolas dos profetas” precisavam da realização de
milagres para que sentissem a efetiva presença do Senhor no seu meio,
máxime numa época de privações e de perseguições como as que viviam elas nos
dias de Elias e de Eliseu. Os sinais realizados por Eliseu em meio aos filhos
dos profetas eram um alento para que eles prosseguissem a sua difícil jornada de
fé, pois não era fácil servir a Deus naquele tempo.
- Todos quantos queiram pertencer ao remanescente fiel do povo de
Deus, remanescente que é forjado nas “escolas dos profetas”, sempre enfrentarão
dificuldades. Diz a esmagadora maioria apóstata que “esta é a ‘turma do
contra’, ‘a turma que nada contra a corrente, que navega contra a maré’, os
‘atrasados’, ‘retrógrados’ e ‘radicais’ “. Não nos assustemos, amados irmãos,
com a reduzida frequência de nossas Escolas Bíblicas Dominicais, com o desprezo
que se dá a esta atividade nos calendários das igrejas locais, com as imensas
dificuldades que se criam para que tenhamos um espaço de estudo da Palavra e de
busca sincera e genuína pelo poder de Deus. Em vez disso, esforcemo-nos para
trazer esta maioria para a minoria, a fim de que arrebatemos alguns do fogo
(Jd.22,23).
- Os filhos dos profetas também enfrentaram isto ao longo de sua
trajetória. Jamais tiveram o apoio da liderança apóstata, seja a real, seja a
sacerdotal, tendo, muitas vezes, caído à espada, como quando da cruel
perseguição levada a efeito por Jezabel (I Rs.19:14), figura que simboliza
muitos que vivem hoje no meio da Igreja única e exclusivamente para fomentar a
apostasia, a infidelidade espiritual (Ap.2:20).
- Todos quantos se dedicarem a ter uma vida de estudo das
Escrituras, de santificação, de busca do poder de Deus, embora sejam usados com
poder e autoridade pelo Senhor, enfrentarão grande oposição, a começar no
próprio povo de Deus, na própria igreja local, mas, diante de tudo isto, devem
seguir o exemplo de Cristo Jesus, que suportou toda a afronta e, por isso,
alcançou a glorificação (Hb.12:2,3), que também nos espera (Rm.8:30). Aleluia!
Vale a pena sermos fiéis ao Senhor até a morte (Ap.2:10)!
- Eliseu, por primeiro, sarou as águas de Jericó para que os
filhos dos profetas pudessem ali habitar e desempenhar a sua missão. Temos,
como o profeta, de, em nossa dedicação ao estudo da Palavra e à busca das
coisas de Deus, estarmos prontos a “sarar as águas”, ou seja, criarmos “fontes
de vida espiritual” em nossas atividades, façamos as pessoas crer em Cristo,
para que as pessoas possam ser “rios de água viva que corram de seu ventre”
(Jo.7:38).
- Em seguida, Eliseu aumentou o azeite da viúva, impedindo a escravização
de seus filhos, para mostrar aos filhos dos profetas que valia a pena ser fiel
a Deus e que, de modo algum, aqueles que servem a Deus serão motivo de
escândalo seja para a Igreja, seja para os que não servem ao Senhor (I
Co.10:32) e que, através do trabalho honesto e de um bom testemunho, sempre o
Senhor nos suprirá as nossas necessidades materiais enquanto em nossa
peregrinação terrena.
- Eliseu também mostrou, por meio da retirada da morte da panela,
mostrou aos filhos dos profetas a importância de sermos vigilantes, de não
permitirmos que “veneno” venha a alimentar o povo de Deus, a comunidade que se
dedica ao estudo da Palavra, mandando-nos sempre usar da “farinha”, ou seja, da
sã doutrina para afastar os falsos ensinos e as heresias de nosso meio.
- Eliseu, ao multiplicar os pães que havia recebido de um homem,
ensinou aos filhos dos profetas que a partilha e o amor ao próximo devem ser
valores sempre seguidos por todos quantos querem servir ao Senhor nesta vida.
Demonstrando que não era líder para ser servido mas para servir, o profeta
repartiu aquilo que recebera e, com isso, se operou o milagre da multiplicação.
É preciso que haja, da parte daqueles que se dedicam ao Senhor, uma conduta
social justa e amorosa, que leve à satisfação das necessidades materiais e
espirituais do povo com quem convivemos.
- Eliseu, ao fazer flutuar o ferro do machado, mostrou aos filhos
dos profetas como era necessário estarmos vigilantes e devidamente preparados
para desempenhar a tarefa que o Senhor nos dá na Sua obra. Também nos fez ver
que é mister lembrarmos, sempre, que tudo quanto recebemos do Senhor, a Ele
pertence e que, por isso, teremos de prestar contas do uso dos dons que nos
concede, sem falar que é preciso, sempre que falharmos, voltarmos aonde cairmos,
para que recomecemos da maneira correta.
- Em cada milagre, portanto, havia um importante ensinamento que
devemos seguir em nossos dias, mas, também, havia a manifestação sobrenatural
do Senhor para dar aos filhos dos profetas o estímulo necessário para que
prosseguissem a sua jornada aparentemente inglória, mas que foi de fundamental
importância para a sobrevivência do reino de Israel até a sua final destruição,
destruição que foi anunciada pelos profetas, que não sucumbiram juntamente com
aquela nação de dura cerviz.
- Prossigamos, pois, nesta mesma “toada” nas nossas “escolas de
profetas” hodiernas, estes espaços onde servimos a Deus e aguardamos o retorno
de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Amém!
Fonte: PortalEBD
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