Igreja
Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco Superintendência das Escolas
Bíblicas Dominicais Pastor Presidente: Aílton José Alves
Av. Cruz
Cabugá, 29 – Santo Amaro – Recife-PE / CEP. 50040 – 000 Fone: 3084 1524
2º TRIMESTRE DE 2016
(Rm 14.1-6)
INTRODUÇÃO
Nesta lição definiremos a palavra
tolerância, entendendo o contexto em que ela foi empregada na carta de Paulo
aos Romanos; falaremos sobre o que o cristão não pode tolerar; destacaremos informações
sobre ambos os povos que compunham a igreja em Roma; pontuaremos qual a
perspectiva paulina acerca de como deviam se comportar judeus e gentios quanto
aos seus costumes; e, por fim, veremos qual a recomendação de Paulo quanto ao
exercício da tolerância entre os irmãos.
I – DEFINIÇÃO DA PALAVRA
TOLERÂNCIA
Segundo
o Aurélio (2004, p. 1960) a palavra “tolerância” significa: “tendência a
admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de
um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos”.
Conforme Champlin (2004, p. 450), “a tolerância consiste em um
estado permanente de boa vontade, dando margem às diferenças que vemos em
outros, mesmo que discordemos dessas diferenças”. Apesar de tal definição, se
faz necessário destacar que, o conceito contemporâneo de tolerar está sendo
confundindo com “transigir”, que por sua vez quer dizer: “chegar
a acordo; condescender; ceder”. É preciso entender que a
justiça de Deus, não pode tolerar crenças ou ações pecaminosas (II Co 6.14,15;
Hb 1.9). A tolerância de que fala Paulo nesta lição em nada tem a ver com
coisas declaradamente erradas pela Bíblia, senão com coisas não essenciais a
salvação (Rm 14.2,3). Diante disso é necessário destacar pelos menos duas
coisas com as quais o crente não pode tolerar. Vejamos:
1.1 Não podemos
tolerar o pecado. O apóstolo Paulo
foi informado que na igreja em Corinto estava havendo imoralidades, como
o pecado de imoralidade sexual (I Co 5.1-a) . Ao que tudo indica, o
transgressor continuava na igreja como se nada houvesse acontecido (I Co 5.2).
Tratava-se de um pecado hediondo: um membro da igreja estava se relacionando
com sua madrasta, como se fosse marido e mulher (I Co 5.1-c). A Lei proibia
terminantemente que o homem se deitasse com a mulher de seu pai (Lv 18.8;
20.11; Dt 22.30; 27.20). Tal conduta era tão repreensível que até os gentios
pagãos condenavam. É realmente de se admirar que uma conduta condenada pelos
gentios fosse tolerada pela igreja em Corinto (I Co 5.1-b). Paulo
orientou que tal cristão fosse disciplinado pela igreja, a fim de que se
arrependesse (I Co 5.13).
1.2 Não podemos
tolerar a heresia. Orientado por
Jesus, João escreveu sete cartas as sete igrejas da Ásia. Duas dessas igrejas:
Éfeso e Tiatira destacam-se de forma diferente. A igreja de Éfeso foi elogiada
por Jesus, porque não se mostrou tolerante com os falsos apóstolos, pois
identificou a heresia dos nicolaítas e a rejeitou (Ap 2.2). Já a igreja em
Tiatira foi severamente repreendida por sua tolerância com a heresia que, além
de ser um problema teológico resultou num problema moral (Ap 2.20) . Aqueles
cristãos estavam permitindo um movimento herético florescer em seu meio e,
assim, colocando toda a igreja em perigo. O problema não era externo, mas
interno. “O problema em Tiatira era uma tolerância que não era sadia. Eles
reconheciam a existência de uma profetisa falsa; reconheciam também o caráter
maléfico de seu ensino, mas em sua tolerância se negavam a lidar com ela”
(LADD, 1986, p. 41).
II – O CRENTE JUDEU E O CRENTE
GENTIO
A igreja de Roma era composta por
judeus e também por gentios (Rm 9.24). A carta é dirigida tanto a uns como aos
outros (Rm 1.13; 7.1). “A capital do império era uma grande metrópole com mais
de um milhão de habitantes. Havia grande concentração de judeus em Roma, tanto
na época da expulsão deles em 49 d.C. pelo imperador Cláudio, como no tempo em
que o imperador Nero incendiou Roma, em 64 d.C.” (LOPES, 2010, p. 23). Vejamos na
tabela abaixo algumas informações interessantes sobre ambos os povos:
POVO
|
QUEM ERAM
|
COMO SE COMPORTAVAM DEPOIS DE SALVOS
|
|
|
|
Aqueles que
dentre os judeus aceitavam a fé em Jesus como
|
|
JUDEU
|
O judeu é o “indivíduo originário da nação
|
Messias, continuavam com as práticas judaicas da observância
|
|
judaica ou
seguidor do judaísmo”
|
de dias
tidos como especiais, a circuncisão, e a não ingestão de
|
|
|
|
(ANDRADE, 2006, p. 200).
|
certos tipos de
carnes tidas como
imundas (At 10.14,15;
|
|
|
|
15.1,5,24).
|
|
|
|
|
|
|
Os gentios
“são todos aqueles que são
|
Aqueles que
dentre os gentios
se convertiam a
Cristo,
|
|
|
nascidos fora da comunidade de Israel, e
|
continuavam com a sua vida de gentio, não sendo forçados a
|
|
GENTIO
|
estranho às
alianças que o
Senhor
|
obedecerem aos costumes da religião judaica. Pelo contrário,
|
|
foi ordenado apenas “que se abstenham das contaminações
|
|
||
|
estabeleceu com
o seu povo
no AT”
|
dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue”
|
|
|
(Ef 2.11,12)”
(ANDRADE, 2006, p. 242).
|
(At 15.20-b). Cf. (At 15.28,29).
|
|
|
|
|
|
Diante
de uma igreja mista, composta por judeus e gentios, o apóstolo Paulo se vê
diante do desafio de orientar ambos a comportarem- se tal como foram chamados
(I Co 7.18). Na perspectiva paulina, o judeu que se converteu a Cristo, não
deveria abrir mão de seus costumes religiosos, nos quais fora criado, desde que
estivesse ciente de estas coisas nada acrescentam a salvação (Gl 5.6; Cl
2.20-23). Da mesma forma, o gentio que também foi alcançado pela graça
salvadora não necessitaria aderir aos costumes estritamente judaicos para ser
salvo (At 15.7- 11). Abaixo, destacaremos as principais divergências que
estavam acontecendo entre os cristãos judeus e gentios de Roma, aos quais Paulo
orienta a tolerância:
3.1 Diferença de comida (Rm 14.2,3) . Em Levítico 11 e Deuteronômio 14, encontramos as leis
dietéticas que dizem respeito ao que os hebreus deveriam ou não comer.
Isto estava tão enraizado na cultura judaica, que quando alguns judeus se
tornaram cristãos, ainda se preocupavam com a correta preparação dos alimentos
de acordo com estas leis (At 10.6-8). O problema é que estes não só observavam
tais recomendações, mas julgavam os gentios convertidos que não as praticavam.
Segundo Wiersbe (2010, p. 348 – acréscimo nosso) devemos observar três fatos
sobre as leis acerca dos alimentos: (a) Deus deu essas leis somente para
a nação de Israel (Lv 11.2); (b) a obediência a essas leis garantia a
pureza cerimonial, mas não tornava a pessoa automaticamente santa em seu
caráter (Tt 1.15); e, (c) as leis eram temporárias e terminaram na cruz
de Cristo (Cl 2.14; Hb 10.1- 4)”. Para Paulo os cristãos não devem reduzir a fé
cristã a coisas obsoletas “porque o reino de Deus não é
comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm
14.17). “Segundo o entendimento ensinado no NT sobre as
exigências de Deus, é óbvio que muitos itens mencionados não tem significação
moral ou ética” (BEACON, 2006, pp. 279,280 – acréscimo nosso).
3.2 Diferença de dias (Rm 14.5,6). Aos judeus foi ordenado separar certos dias para
celebração ao Senhor, como o sábado por exemplo (Êx 16.23-29; 20.10-11;
31.17). Mesmo cristãos, estes judeus ainda mantinham o hábito de guardar este
dia “Um faz diferença entre dia e dia” (Rm 14.5-a). A questão é
que assim como com os alimentos, eles queriam também forçar os
gentios a guardarem o sábado, não entendendo que tal ordenança foi dada
exclusivamente ao povo de Israel (At 15.5,24; Cl 2.16). Os gentios convertidos
poderiam não sentir qualquer preocupação quanto a isso e julgar iguais todos os
dias, em outras palavras, todo dia é santo para o Senhor (Sl 118.24) . Para
Paulo, o problema não residia em guardar alguns dias, mas agregar valor
religioso a isto, e ainda requerer dos gentios a mesma postura (Gl 2.21). Quem
guarda um dia para o Senhor, para o Senhor o faz, e o que não faz distinção de
dias para o Senhor não o faz (Rm 14.6-a).
IV – O
EXERCÍCIO DA TOLERÂNCIA ENTRE OS CRISTÃOS
4.1 Os fracos na fé. A expressão “fraco” no grego “astheneo”
significa “estar debilitado”. Dá a entender alguém que é “inexperiente”
(PALAVRA-CHAVE, 2009, p. 2098). “É consenso geral que os crentes
chamados fracos eram oriundos das fileiras do judaísmo, os quais,
embora tivessem depositado sua fé em Cristo, ainda viviam comprometidos com as
regras judaicas” (LOPES, 2010, p. 447). Na concepção paulina, o cristão fraco
dentro do contexto de Romanos 14 é aquele que atribui pecado a coisas que em si
mesmas não são. A guarda de dias e as dietas alimentares não envolvem questões
morais, ou seja, são amorais. Portanto, era uma postura errada de tais cristãos
julgarem os outros que não as observavam (Rm 13.2,3). Portanto, o pecado desses
tais era o julgamento. A expressão “julgar” no grego “krinõ”
que significa: “julgar, condenar, punir” (idem,
2009, p. 2098). Tal expressão leva -nos ao entendimento que aqueles que observavam
tais práticas estavam condenando os que não praticavam, quem sabe
invalidando até a salvação deles (Rm 14.10). Esse tipo de julgamento
concernente a salvação só quem faz é o Senhor (Rm 14.10-12).
4.2 Os fortes na fé. A expressão “forte” refere-se aos
crentes maduros, que sabiam discernir entre o certo e o errado com equilíbrio
(Rm 15.1,2). No entanto, estes estavam errando porque julgavam-se superiores
aos outros (Rm 14.10). Segundo Lopes (2010, p. 445), “o pecado dos crentes
fracos era o julgamento; o pecado dos crentes fortes era o desprezo. Os crentes
fracos pecavam pelo zelo sem entendimento; os crentes fortes pecavam pelo
entendimento sem amor”. O fato de sabermos que existem práticas amorais que em
nada afetam a nossa comunhão com Deus, não nos dá o direito de menosprezar
aqueles que observam tais práticas entendendo que são importantes para a
espiritualidade (Rm 14.5,6). Na verdade segundo Paulo, os crentes maduros devem
abster até mesmo das coisas amorais se estas provocam escândalos na cosmovisão
daqueles que as consideram imorais (Rm 14.14,15). A nossa liberdade é restrita
pela consciência alheia. Devemos abrir mão até mesmo do que é permitido, se
isto leva o meu irmão a tropeçar (Rm 14.20,21). O amor deve me ajudar a exercer
a minha liberdade em Cristo (Rm 15.1,2).
CONCLUSÃO
O
apóstolo Paulo orienta-nos através da epístola aos Romanos a agir com
tolerância uns com os outros para que o ambiente da igreja permaneça saudável.
Existiam práticas divergentes entre os judeus e gentios que estavam se tornando
numa discussão soteriológica. Paulo de forma equilibrada, orienta -os a devida
tolerância entre si. Sabendo que, o reino de Deus está acima das coisas
triviais que em nada contribuem para a verdadeira espiritualidade.
REFERÊNCIAS
·
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico.
CPAD.
·
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e
Filosofia. HAGNOS.
·
HOWARD,
R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. Vol 08. CPAD.
·
LADD, George. Apocalipse: introdução e
comentário. MC.
·
LOPES, Hernandes dias. Comentário Exegético de
Romanos. HAGNOS.
·
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
0 comentários:
Postar um comentário