INTRODUÇÃO
A seca é um fenômeno climático e como tal é imprevisível a sua
ocorrência. Todavia, no contexto do reinado de Acabe, ela ocorreu não
somente como algo previsível, mas também anunciado. Não era um fenômeno
simplesmente meteorológico, mas profético. Veremos como se deu esse fato
e como ele revela a soberania de Deus não somente sobre a história, mas
também sobre os fenômenos naturais e como eles podem atender aos seus
propósitos. A vida do profeta Elias girou em torno do conflito entre a
adoração do Senhor de Israel e a de Baal. Sua missão era levar os
israelitas a reconhecerem sua apostasia e reconduzi-los à fidelidade ao
Deus verdadeiro. A historicidade dessa longa seca é atestada no NT (Tg
5.17).
I – CONTEXTO POLÍTICO E RELIGIOSO DO TEMPO DE ELIAS
É em meio a uma crise social, moral e espiritual que Deus levanta o
profeta Elias para combater o pecado, proclamar o juízo e chamar o povo
ao arrependimento. Elias foi sem dúvida alguma, um dos maiores profetas
que o Senhor Deus levantou em sua época. Sua vida constitui-se de um
notável exemplo para nós, de como Deus opera na vida daqueles que se
colocam em suas mãos.
Vejamos qual era a situação de Israel nesta época:
1.1 Era um período de sucessão de reis ímpios. Nos dias de Elias, Israel estava sendo governado por reis maus e idólatras. A Bíblia diz que Onri “… fez o que era mau aos olhos do Senhor; e fez pior do que todos quantos foram antes dele” (I Rs 16.25,26). Quando
Onri morreu, em seu lugar reinou seu filho Acabe (I Rs 16.28), que teve
a capacidade de fazer pior do que todos os reis que lhe antecederam. A
Bíblia diz acerca de Acabe: “E fez Acabe, filho de Onri, o que era mau aos olhos do SENHOR, mais do que todos os que foram antes dele…” (I Rs 16.30,31).
1.2 Era um período de idolatria. O rei Acabe
destaca-se nas Escrituras como um rei idólatra, pois ele andou nos
caminhos de Jeroboão (I Rs 16.31); serviu a Baal e o adorou (I Rs
16.31); conduzindo toda a nação à idolatria. Como se não bastasse, Acabe
casouse
com Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; casamento este, jamais
aprovado por Deus. Tudo isto fez Israel mergulhar no mais profundo
paganismo, sem nenhuma pretensão de preservar o culto a Jeová,
tornando-se uma nação idólatra, como as demais nações.
1.3 Era um período de crise. Quando Acabe,
influenciado por sua esposa Jezabel, substituiu o culto à Jeová pela
adoração à Baal (IRs 16.31-33), Elias apareceu repentinamente perante o
rei para anunciar a ausência de chuva e orvalho sobre a terra (I Rs
17.1). Como a chuva é um dos principais elementos de sustentação da
natureza, a falta dela provocou seca, fome e miséria. As Escrituras
dizem que “… a fome era extrema em Samaria” (I Rs 18.2). Isto fez com que Acabe se irasse ainda mais com Elias, pois achava que ele era o culpado daquela calamidade.
1.4 Era um período de inversão de valores. Em meio a
crise e à miséria, o rei Acabe parece estar mais preocupado com os
cavalos e as mulas do que com os súditos do seu reino; pois ele chama
Obadias, e ambos saem à procura de água para “preservar a vida dos animais” (I Rs 18.5,6).
1.5 Era um período de idolatria e perseguição aos profetas. Jezabel,
esposa do rei Acabe, ocupa o lugar de esposa mais ímpia da Bíblia. Além
de controlar o seu esposo (I Rs 21.25), ela levou a nação de Israel a
adorar seus deuses (I Rs 18.19,20). Como se não
bastasse, intentou matar a todos os profetas do Senhor (I Rs 18.4). Foi
nessa ocasião que Obadias, um homem temente a Deus e servo do rei Acabe
(possivelmente um mordomo ou camareiro do palácio), conseguiu esconder
cem profetas do Senhor e os sustentou com pão e água, pondo em risco a
sua própria vida, pois, caso fosse descoberto, tanto ele como os cem
profetas, seriam mortos à mando de Jezabel.
II - O QUE MOTIVOU DEUS ENVIAR A SECA EM ISRAEL
O Senhor nosso Deus tem diversas maneiras de disciplinar os seus
filhos. No AT, uma delas era provocando longos períodos de seca sobre
seu povo. As advertências sobre este método disciplinar podem ser lidas
em alguns textos bíblicos (Dt 28.15,23-24; 2 Cr
7.13-14). Elias afirmava que tudo o que estava acontecendo em Israel era resultado do pecado do povo. A longa seca sobre o Reino do Norte agiu como um instrumento de juízo e disciplina. O culto a Baal financiado pelo Reino do Norte (Israel-Samaria) afastou
o povo da adoração ao Senhor de Abraão, Isaque e Jacó. O profeta Elias
estava consciente disso e quando confrontou os profetas de Baal, logo
percebeu que o povo não mantinha mais fidelidade ao Deus de Israel (1 Rs
18.21). Vejamos o que motivou a grande seca:
• Disciplina e correção para o povo desobediente.
A idolatria havia dividido o coração do povo. Para corrigir um coração
dividido somente um remédio amargo surtiria efeito (Lv 26.18-26; 1 Rs
18.37). Do mesmo modo como um pai castiga seu filho a quem ama, Deus
castiga a Israel (Pv 3. 11-12; Hb 12.5-11);
• Mostrar que só o Senhor Deus de Israel é verdadeiro. O
culto ao Senhor foi substituído pela adoração a Baal e Aserá,
principais divindades dos sidônios (1 Rs 16.30-33). A consequência desse
ato foi uma total decadência moral e espiritual.
Baal era o deus do trovão, do raio e da fertilidade, e supostamente
possuía poder sobre os fenômenos naturais. A longa seca sobre o Reino do
Norte criou as condições necessárias para que Elias desafiasse os
profetas de Baal e provasse que o mesmo não passava de um deus falso (1
Rs 17.1,2; 2 Rs 18.1,2; 21.39);
• Mostrar a impotência de Baal em sua “própria pátria”. Essa
foi uma maneira de dizer que os deuses das nações pagãs são uma ilusão,
que eles não têm poder e que, na verdade, nada podem fazer (Sl
115.1-8), pois o Deus de Israel, também reinava na pátria do pai de
Jezabel.
III - OS EFEITOS E AS REAÇÕES FRENTE A SECA
A Escritura afirma que “a fome era extrema em Samaria” (1
Rs 18.2). A seca já havia provado que Baal era um deus impotente frente
aos fenômenos naturais e a fome demonstrou à nação que somente o Senhor
é a fonte de toda provisão. Sem Ele não haveria chuva e
consequentemente não haveria alimentos (Dt 28.23-24). Podemos ver que
até mesmo os cavalos da montaria real estavam sendo dizimados (1 Reis
18.5) e o desespero era geral. Vejamos:
• Os efeitos - Seca, fome e miséria. Elias
entra no cenário profético quando o reinado de Acabe e sua esposa
Jezabel, experimentava relativa prosperidade (1 Rs 17.1; 1Reis 18.1-8).
Não haveria chuva e consequentemente não haveria alimentos;
• As reações - Endurecimento do coração. É
interessante observarmos que o julgamento de Deus produziu efeitos
diferentes sobre à casa real e o povo. Percebemos que à semelhança de
Faraó (Êx 9.7), o rei Acabe e sua esposa, Jezabel, não responderam
favoravelmente ao juízo divino (1 Rs 18.17-21).
Os israelitas achavam que podiam adorar o Deus verdadeiro e ao mesmo
tempo adorar a Baal. Eles tinham o coração dividido e por esta razão
queriam servir a dois senhores. Jesus, no seu ministério terreno
advertiu contra essa atitude fatal: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro” (Mt 6.24).
IV – ATRIBUTOS DE DEUS NA PREDIÇÃO DA GRANDE SECA SOBRE ISRAEL
O Deus de Israel, é quem envia a chuva sobre justos e injustos (Mt
5.45); ele também poderia facilmente retê-la. Se prestarmos atenção aos
detalhes dessa passagem (1 Rs 17), descobriremos que três dos principais
atributos de Deus são revelados na narrativa da predição da grande seca
sobre Israel. Analisemos:
• O Deus Onipotente. A crença cananeia dizia
que Baal era o deus que controlava a natureza, inclusive as estações e
as plantações. Baal e Aserá eram deidades da natureza, suspeitos de
controlar as chuvas e a fertilidade da terra. Ao anunciar uma estiagem
no nome do Senhor, Elias demonstrou conclusivamente que Yahweh, e não
Baal, é Supremo. O Senhor demonstrou total controle sobre os fenômenos
naturais (1 Rs 17.1; Mc 14.36);
• O Deus Onisciente. A profecia de Elias
demonstra essa visão sobre Deus, pois o profeta previu que por um espaço
de três anos e meio não choveria sobre Israel (1 Rs 17.1; Tg 5.17).
Como o profeta saberia que a chuva voltaria somente após três anos e
meio? Deus o havia revelado porque somente Ele conhece o futuro. Vimos
Deus Onisciente, quando demonstrou a sua capacidade para conhecer o
futuro;
• O Deus Onipresente. Deus pode estar ao
mesmo tempo em todos os lugares. Para a teologia cristã isso é
confortador, pois jamais estaremos a sós. Deus mostrou a sua Onipresença
durante esses fatos. “Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou” (1 Rs 17.1).
V – DEUS E A SUA PROVISÃO NA SECA
Enquanto a nação começava sentir os efeitos da seca, Elias recebia as
bênçãos de água e alimentos que Deus havia prometido para a nação
obediente (Lv 26.3-5). Aprendemos que Deus é um Deus provedor. Durante o
longo período de estiagem de três anos e meio Reino do Norte (Tg 5.17),
observamos o cuidado pessoal do Senhor com o profeta. Há sempre uma
provisão de Deus para aquele que o serve obedientemente em tempos de
crise. Embora houvesse uma escassez generalizada em Israel, Deus cuidou
de Elias de uma forma especial que nada lhe faltou. Reflitamos no
cuidado do Senhor para com seu servo:
• Primeiramente Deus o afasta do local onde o julgamento seria executado: “Retira-te daqui” (1 Rs 17.3);
• Em segundo lugar, o Senhor o orienta a se esconder: “Esconde-te junto a torrente de Querite” (1 Rs 17.3);
• Em terceiro lugar, Elias deveria ser suprido com aquilo que o Senhor providenciasse: “Os corvos lhe traziam pão e carne” (1 Rs 17.6).
• Em quarto lugar, Deus não abandonou seu servo, antes, forneceu o
necessário, da mesma forma como fez com israel no deserto na época de
Moisés (Êx 17; Nm 11.20).
CONCLUSÃO
Observamos que a longa seca sobre o Reino do Norte agiu como um
instrumento de juízo e disciplina. Embora o coração do rei não tenha
dado uma resposta favorável ao chamamento divino, os propósitos do
Senhor foram alcançados. A fome revelou como é
vão adorar os deuses falsos e ao mesmo tempo demonstrou que o Senhor é
Soberano! Ele age como quer e quando quer. Fica, pois a lição que até
mesmo em uma escassez violenta a graça de Deus se revela de forma
maravilhosa.
REFERÊNCIAS
• DILLARD, Raymond B. Fé em face da apostasia: o evangelho segundo Elias e Eliseu. CULTURA CRISTÃ.
• GONÇALVES, José. Porção dobrada: uma análise bíblica, teológica e devocional sobre os ministérios proféticos de Elias e Eliseu.
CPAD.
• STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Fonte: http://www.rbc1.com.br/licoes-biblicas/index/ Acesso em 14 jan. 2013.
Fonte: PortalEBD
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