INTRODUÇÃO
- Passaremos a estudar sobre o personagem, Elias que foi
um profeta no Reino da Samaria durante o reinado de Acabe (século IX
a.C.), época da apostasia reinante e degradante no Reino do Norte. De
acordo com os Livros dos Reis, Elias defendeu o culto de Yahweh contra o culto popular a Baal;
dentre vários milagres no seu ministério, ele ressucitou um morto; fez
fogo cair do céu e subiu ao céu num redemoinho (acompanhado por uma
carruagem e cavalos de fogo ou montado nela) se tornando assim uma
representação escatológica do que é ser arrebatado por Deus.
I – A BIOGRAFIA DE ELIAS
- Por ser a história de Elias tão conhecida por nossos leitores,
achamos por bem transcrever aqui o comentário do ilustre Professor Dr.
Caramuru Afonso que nos traz uma visão ampla acerca desse destemido
profeta, quando argumenta acerca da sua biografia e que temos como uma
riqueza de conhecimento bíblico-espiritual quando se trata do profeta
Elias. Vejamos:
Por: Ev. Dr. Caramuru Afonso (colaboração para o portalebd.org)
- Elias é daquelas personagens da Bíblia de que nada ou quase nada
sabemos antes do início do seu ministério, circunstância que demonstra
claramente que a Palavra de Deus tem o intuito de revelar aquilo que é
pertinente à salvação do homem, sendo, obviamente, uma obra literária,
histórica e científica, mas que não tem estes vieses como prioritários,
sendo, pois, um grande equívoco querer reduzir o texto sagrado a estes
aspectos. Elias surge nas páginas sagradas em I Rs.17:1 e de forma
repentina, sem qualquer explicação, nem mesmo da sua genealogia, como é
costumeiro fazer-se quando se trata, pelo menos, de personagens da
história de Israel. É apresentado apenas como “Elias, o tisbita, dos
moradores de Gileade”. Seu nome, que, em hebraico é ‘Eliáhu” (“Elias” é a
forma grega do nome), significa “Javé é Deus” e sintetiza, de forma
sublime, todo o seu ministério profético: demonstrar ao povo do reino de
Israel que o seu Deus é Javé, o mesmo “Eu sou o que sou” que havia Se
revelado a Moisés no monte Horebe.
- Da forma abrupta como Elias é apresentado no texto sagrado, ficamos a
saber tão somente que o profeta é natural de Tisbe, sendo dos moradores
de Gileade. Esta informação, além de escassa, traz uma série de
problemas aos estudiosos da Bíblia, visto que a única menção que se faz
desta cidade é no livro apócrifo de Tobias, onde é dito que se tratava
de uma cidade que se situava na tribo de Naftali, na região da Galiléia,
enquanto que o texto sagrado diz que Elias era “dos moradores de
Gileade”, ou seja, alguém que morava na região daquém do Jordão,
pertencente à meia-tribo de Manassés e à tribo de Gade
(Js.13:24,25,30,31). Assim, ficamos sem saber se Elias morava em
Gileade, tendo sido natural de Tisbe de Naftali ou se era de uma cidade
chamada Tisbe que ficasse do outro lado do Jordão, na região de Gade ou
da meia-tribo de Manassés. Flávio Josefo, o grande historiador judeu,
parece concordar com a idéia de que se tratava de uma cidade de Gileade
que se chamava Tisbe, enquanto que a Septuaginta chama a cidade de
“Tisbe da Galiléia”, acolhendo a outra versão.
OBS: Eis o texto de Tobias 1:2, na Edição Pastoral: “No tempo de
Salmanasar, rei da Assíria, Tobit foi exilado de Tisbé, que fica ao sul
de Cedes, em Neftali, na Galiléia do norte, acima de Hasor, a ocidente,
ao norte de Sefat.” Reproduzimos aqui, também, parte do texto de Flávio
Josefo, nas Antigüidades Judaicas: “Havia agora um profeta do Deus
Misericordioso, de Tisbe, uma cidade de Gileade, que veio a Acabe…”
(JOSEFO, Antigüidades Judaicas 8:319. Disponível em:
http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0146;query=whiston%20chapter%3D%23115;layout=;loc=8.363
Acesso em: 31 maio 2007) (tradução nossa de texto em inglês). Além do
local de onde vem Elias, e que já dá margem a controvérsias, sobre Elias
ficamos apenas a saber que se tratava de pessoa que tinha um traje
característico, diferente daqueles usados pelas pessoas de seu tempo,
tanto que bastava a descrição desta vestimenta para identificá-lo, a
saber: “…um homem vestido de pêlos e com os lombos cingidos de um cinto
de couro…” (cf. II Rs.1:8). Isto nos dá a entender que Elias deveria ter
uma vida mais ou menos retirada da comunidade, uma espécie de “eremita”
no deserto, o que, aliás, inspirou algumas ordens religiosas cristãs,
notadamente a ordem dos “carmelitas”, que se inspiraram em Elias para
construir a sua vida monástica.- No entanto, embora Elias demonstre,
pelos seus trajes e pela forma repentina com que se apresenta na
história sagrada, que deveria viver um tanto quanto retirado da
comunidade, não é correto dizer que haja respaldo bíblico para dizer que
vivia isolado dos demais homens do seu tempo. Pelo que podemos observar
do texto sagrado, percebemos que Elias tinha uma relação bem próxima
aos chamados “filhos dos profetas”, ou seja, aos jovens que se dedicavam
ao estudo da Palavra de Deus e a uma vida de serviço ao Senhor nas
“escolas de profetas”, cuja origem remonta aos tempos de Samuel (I
Sm.10:5; 19:20). Com efeito, as páginas sagradas permitem-nos vislumbrar
que Elias tinha um estreito relacionamento com estes grupos (II Rs.2:2,
4), sendo até possível que Elias tenha sido uma figura proeminente de
tais grupos quando se apresentou ao rei Acabe, o que, aliás, explicaria a
facilidade com que tenha conseguido se apresentar ao rei. Apesar de
tão parcos conhecimentos a respeito de Elias antes do início do embate
com Acabe, Jezabel e os responsáveis pelo culto de Baal, tais
informações já nos são preciosas no sentido de se mostrar que alguém,
para ser usado eficazmente pelo Senhor, precisa ter dois pontos que
havia na vida de Elias: um distanciamento do mundo e um comprometimento
com a Palavra de Deus. Elias não era uma pessoa que havia se misturado
com as estruturas religiosas desvirtuadas e contaminadas do reino de
Israel. Nos dias de Elias, vivia Israel uma situação espiritual
extremamente difícil. O rei era Acabe, filho de Onri, o fundador da
terceira dinastia (família real) do reino de Israel, o reino do norte, o
reino das dez tribos que haviam se separado de Roboão, neto de Davi
(cf. I Rs.12:16-25). Esta terceira família reinante não se apartou do
pecado de Jeroboão, o primeiro rei de Israel (reino do norte), que havia
criado um culto próprio, fazendo sacerdotes dos mais baixos entre o
povo, e levando o povo a adorar dois bezerros de ouro, um situado em Dã e
outro em Betel (cf. I Rs.12:26-33), tendo, além disso, Acabe se casado
com Jezabel, filha do rei de Sidom, que, ao se mudar para Israel, trouxe
com ela o culto a Baal, o deus da fertilidade dos fenícios, criando,
assim, um culto rival ao culto a Deus. Servir a Deus nestas
circunstâncias não era nada fácil, pois, ou se adotava o culto oficial
do reino, criado no tempo de Jeroboão, idolátrico e totalmente
desvirtuado das prescrições da lei de Moisés ou, então, se aderia ao
culto a Baal, trazido por Jezabel e que alcançou grande popularidade.
Isto explica o distanciamento físico não só de Elias mas também dos
filhos dos profetas, que não tinham espaço para, com liberdade, servir a
Deus em meio a estruturas sociais altamente desfavoráveis a quem
buscasse a presença do Senhor. Mas, ainda que possamos contemplar este
distanciamento físico de Elias e dos demais que serviam a Deus naquele
tempo, devemos ter como lição para os nossos dias deste comportamento do
profeta não o distanciamento físico, mas, sim, o distanciamento
espiritual. Embora muitos tenham se inspirado em Elias para tomar uma
decisão de se apartar da sociedade a fim de servir a Deus, a lição que o
profeta nos deixa é bem outra: é a da separação do mundo espiritual, da
separação do pecado. Na nova aliança estabelecida por Jesus Cristo, não
há espaço para “eremitas”, para pessoas que saem da sociedade para
servir a Deus mas, sim, pessoas que, a exemplo de Jesus, estão
completamente separadas do pecado, mas vive no meio dos pecadores, para
“…salvar alguns, arrebatando-os do fogo” (Jd.23 “in initio”, isto é, a
parte inicial do versículo). Jesus disse que não somos do mundo, não
podemos nos comprometer com ele (Jo.17:16), mas não pediu que do mundo
fôssemos tirados(Jo.17:15), porque é necessário que sejamos sal da terra
e luz do mundo (Mt.5:13,14).
- A outra lição que aprendemos com Elias, já neste instante em que ele
surge nas Escrituras, é de que devemos estar sempre comprometidos com o
estudo da Palavra de Deus, com a busca da presença de Deus. Elias tinha
um carinho especial com os “filhos dos profetas”, com aqueles que, em
meio a um mundo tão distante de Deus, dedicavam suas vidas para servir
ao Senhor e informar-se a respeito da Sua Palavra. Devemos ter este
mesmo compromisso, devemos nos aliar àqueles que têm este mesmo
propósito. Ao nos reunirmos em classe, a cada Escola Bíblica Dominical,
pomos em prática este exemplo deixado por Elias e, certamente, agradamos
a Deus tanto quanto o profeta Lhe agradou no seu tempo. Elias surge no
texto sagrado já desempenhando uma tarefa toda especial da parte de
Deus. As Escrituras sempre mostram Elias na execução de uma tarefa, no
desempenho de um encargo que lhe fora confiado pelo Senhor. Neste ponto,
há até um paralelo entre a forma como se narra a história de Elias e
como Marcos, o evangelista, narrou o ministério de Jesus, que, naquele
livro, é apresentado como o incansável servo do Senhor, como um homem de
ações e de atitudes. Impulsionado pelo Espírito de Deus, Elias se
apresenta diante do rei Acabe e declara que não haveria nem chuva nem
orvalho enquanto o próprio profeta não o pedisse a Deus(I Rs.17:1). Numa
frase tão curta e sucinta, como é este versículo das Escrituras,
encontramos um exercício imenso de fé, a conclusão de um processo que
não deve ter sido simples. Elias, um profeta que vivia retirado da
sociedade, é levado pelo Espírito a se apresentar nada mais nada menos
que diante do próprio rei e a dizer que haveria uma grande seca até o
instante em que ele pedisse a Deus que chovesse. Que coragem da parte do
profeta! Que determinação, ou seja, que disposição firme de cumprir a
Palavra de Deus! Aliás, aqui é oportuno mostrar que, quando se diz que
Elias foi determinado, que nele era grande a determinação, estamos a
utilizar a palavra “determinação” no seu significado correto e prescrito
nos dicionários de língua portuguesa, ou seja, “forte inclinação a ser
persistente no que se quer alcançar”. Assim, esta “determinação” nada
tem que ver com o que têm ensinado os defensores da chamada “doutrina da
confissão positiva”, entendida como uma “fé real”, uma “tomada de posse
de bênção”, uma “exigência ao inimigo para nos obedecer”. Elias jamais
foi alguém que tenha “determinado” neste sentido distorcido que nos é
apresentado pelos arautos da “confissão positiva”, mas uma pessoa
“determinada”, ou seja, disposta a persistir no cumprimento das ordens
que lhe deu o Senhor.
- Elias simplesmente disse ao rei Acabe que não choveria nem haveria
orvalho enquanto ele não orasse a Deus neste sentido. Nesta primeira
palavra de Elias já se nota a missão que incumbiria ao profeta: mostrar
que o Senhor era o verdadeiro Deus e não Baal. Baal era uma divindade
que se entendia ser a controladora da natureza. A Baal se atribuía a
fertilidade, ou seja, não só a reprodução dos animais, mas também a
produção agrícola. Por isso, Baal era tido como o responsável pelas
chuvas que permitiam as fartas colheitas e era costume entre os povos
cananeus, inclusive os fenícios, procurar agradar a Baal e ter pequenas
estatuetas deste deus e de Asera, a deusa da fertilidade, como forma de
obter o favor deste deus e, assim, prosperidade na colheita. Ao dizer
que não choveria até que houvesse um pedido do profeta a Deus, o Senhor
está mostrando que é maior que Baal, que Ele, e não esta falsa
divindade, tinha o controle sobre a natureza.
OBS: Como era e é comum nos cultos idolátricos, a divindade é sempre
associada a alguma imagem ou a alguns locais. Assim, Baal e Asera eram
cultuados sob vários nomes, conforme o local onde se dava o culto, com
uma ou outra variação nas crendices e nas lendas a respeito da
divindade. Nos dias de Elias, o culto a Baal certamente estava vinculado
a Baal-Mecarte, o deus de Tiro e de Sidom (Tiro foi uma cidade fundada
pelos sidônios – Is.23:12). Assim que proferiu esta palavra ao rei,
Elias foi orientado pelo Senhor para que saísse dos termos de Israel e
fosse para o ribeiro de Querite, que estava diante do Jordão (I
Rs.17:3). Como afirma R.N. Champlin, esta ordem divina tinha a ver com a
proclamação dada por Elias e que “…sem dúvida alguma, isso provocou uma
tremenda agitação e a vida de Elias começou a correr perigo…”
(CHAMPLIN, Elias. In: Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.328).
- Elias, que até então, havia demonstrado dedicação a Deus, vivendo
distanciado fisicamente de uma sociedade ímpia e buscando a presença do
Senhor, juntamente com os “filhos dos profetas”, passa a ter a
experiência da dependência completa de Deus. Denunciar o pecado e
anunciar o juízo divino não é uma tarefa fácil e o serviço a Deus traz
inevitável aborrecimento do mundo e dos pecadores. Não pensemos nós que
servir ao Senhor é alcançar popularidade, respeito e medo dos ímpios,
mas, bem ao contrário, é acirrar os ânimos das hostes espirituais da
maldade contra nós. Deus mandou que Elias fugisse e fosse até um
ribeiro, provavelmente situado na região de Gileade, para que ali
ficasse protegido e não sofresse os danos da seca que havia anunciado.
Temos uma outra importante lição, qual seja, a de que Deus é o
garantidor do cumprimento da Sua Palavra. Certamente não foi fácil para
Elias acatar a ordem divina de desafiar o próprio rei, mas, ao fazê-lo,
Deus, que bem sabia os riscos que o profeta passava a correr,
encarregou-Se de providenciar ao profeta proteção e sustento, já que o
juízo divino afetaria a própria subsistência do povo. Deus passou a
sustentar o profeta que, junto a um ribeiro, onde havia água necessária à
sua sobrevivência, passou a ser alimentado por corvos, que lhe traziam
pão e carne pela manhã e pela noite (I Rs.17:6). Como diz o apóstolo
Paulo, “…Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as
sábias, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as
fortes, e Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis, e
as que não são, para aniquilar as que são: para que nenhuma carne se
glorie perante Ele” (I Co.1:27-29). Como poderia Elias ser alimentado
por corvos, animais que são conhecidos por serem decompositores, ou
seja, que se alimentam daquilo que está apodrecendo, daquilo que está se
desfazendo, e num momento em que passou a haver escassez de alimentos?
Como ser alimentado por um animal tão asqueroso, tão repugnante?
Entretanto, como disse o Senhor, havia sido dada uma ordem aos corvos
para alimentar o profeta e, ante a ordem divina, não há como haver
recusa.
- Elias, toda manhã e toda noite, era servido pelos corvos, que,
pontualmente, cumpriam a ordem do Senhor. Deus, assim, mostrava, duas
vezes ao dia, ao profeta que estava no controle de todas as coisas, que
toda a natureza estava sob as Suas ordens. Era uma experiência singular
para Elias, que tinha de enfrentar o culto a Baal, apresentado como
“deus da natureza”. Elias não só deveria saber intelectualmente que Deus
era o único Senhor, mas também precisaria vivenciar, experimentar esta
realidade. Muitas coisas por que passamos, ao longo da vida, tem este
objetivo da parte de Deus: fazer-nos vivenciar, experimentar quem é Deus
e qual é o Seu poder. Nunca nos esqueçamos de que, quando a Bíblia fala
em “conhecer a Deus”, não está se referindo ao significado grego,
adotado por nós na atualidade, de “domínio intelectual”, mas, sim, o de
“ter intimidade”, “ter experiência”. E, como diz Paulo, a experiência
com Deus é o resultado da paciência, que, por sua vez, é conseqüência da
tribulação (Rm.5:3,4). Dia após dia, Elias era alimentado pelos
corvos, mas a seca que anunciara já era uma realidade. Por isso, dia
após dia, as águas do ribeiro de Querite iam minguando, até o momento em
que o ribeiro secou. Deus continuava a agir na vida de Elias,
demonstrando que tinha o controle da situação, mas que estava a guardar o
profeta e só a ele. Os corvos vinham lhe trazer comida, mas o ribeiro
se secava, em cumprimento à palavra do profeta, que tudo dissera em nome
do Senhor. Deus tem compromisso com a Sua Palavra (Jr.1:12) e não a
invalidará, ainda que isto representasse a proteção e o sustento dos
Seus servos fiéis. Deus não precisa invalidar a Sua Palavra para guardar
os Seus! Quando o ribeiro secou, Deus, então, mandou que o profeta
fosse para Zarefate, cidade pertencente a Sidom, pois o Senhor havia
ordenado a uma viúva que sustentasse o profeta (I Rs.17:9). Vemos, aqui,
que Deus, depois de mostrar que tinha controle sobre a natureza, estava
agora a mostrar ao profeta que também era o controlador da humanidade e
das estruturas sociais.
- Em primeiro lugar, Deus manda que Elias deixe a região de sua morada,
a região de Gileade, região que lhe era conhecida, para que fosse a uma
terra estrangeira, um lugar desconhecido, de outros costumes, onde o
profeta não poderia se valer de seus conhecimentos de vida. Tratava-se
de mais um passo de fé que se exigia do profeta, prova de que Elias
havia galgado mais um patamar da vida espiritual. Como diz o apóstolo
Tiago, quanto mais nos chegamos a Deus, mais Ele Se chega até nós
(Tg.4:8). Entretanto, esta aproximação com Deus, que é sempre boa
(Sl.73:28), exige de cada um de nós um desprendimento cada vez maior.
Quando nos propomos a prosseguir no conhecimento de Deus (e
conhecimento, lembremos, na Bíblia é ter intimidade, ter experiência),
mais nos envolveremos com o Senhor e isto fará com que necessitemos
confiar mais nEle. O profeta Oséias ressalta esta realidade ao dizer
que, quando iniciamos nosso conhecimento com Deus, Ele nos aparece “como
a alva”, ou seja, como a luz da aurora, que traz seu brilho mas é, de
certa forma, distante, mas, na continuidade deste conhecimento, o Senhor
“…virá a nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Os.6:3
“in fine”), ou seja, já não estará mais distante, estará em nós,
envolver-nos-á, como a chuva da época da colheita, a chuva abundante,
que tudo molhava, que embebia e encharcava a terra. Deus, ao mandar que
Elias deixasse sua região e fosse para uma terra estrangeira, estava a
mostrar que domina todas as sociedades, todos os povos, que não é apenas
um “deus nacional”, como se apresentava Baal-Mecarte, mas o Senhor de
toda a Terra (Ex.19:5; Sl.24:1).
- Em segundo lugar, ao mandar que Elias fosse para Zarefate, uma cidade
sob o domínio de Sidom, o Senhor dava mais uma demonstração de sua
superioridade em relação a Baal. Ora, Sidom era, precisamente, o reino
que cultuava a Baal-Mecarte. Jezabel era filha do rei de Sidom e,
portanto, Deus iria providenciar, nas próprias terras dedicadas a Baal, a
sobrevivência do Seu profeta. Deus mostrava que tinha domínio sobre
todas as estruturas políticas do mundo, passando a sustentar o Seu
profeta na “terra do inimigo”. Por isso, não devemos temer “as
investidas do vil Tentador”, porque, mesmo neste mundo que repousa no
colo do diabo, quem tem o controle da situação é o nosso Deus. Aleluia!
- Em terceiro lugar, ao mandar que Elias fosse até o encontro de uma
viúva, o Senhor também estava a mostrar que tinha pleno controle sobre a
situação sócio-econômica das sociedades. Zarefate era uma cidade
dominada por Sidom e, já por isso, uma cidade modesta, certamente de
parcos recursos, visto que as cidades dominadas por outras eram
tributárias, ou seja, deviam pagar pesadas somas periodicamente a seus
dominadores. Além do mais, tratava-se de uma viúva e as viúvas, via de
regra, eram pessoas necessitadas, que se encontram entre os mais
desprovidos de recursos econômico-financeiros, que viviam da caridade
pública. Entretanto, este Deus que escolhe as coisas loucas para
confundir as sábias, fez com que o profeta passasse a ser sustentado, na
terra de Sidom, por uma viúva miserável. A cada instante, Elias
aprendia o significado do seu próprio nome: “Javé é Deus”. Como já
havia experimentado a Providência divina, o profeta pôde, com
autoridade, mandar à viúva, que encontrou apanhando lenha, que lhe
trouxesse um vaso com pouco d’água para que bebesse e, depois, lhe pediu
um bocado de pão. Ante a afirmativa da mulher de que não tinha senão o
suficiente para uma última refeição, o profeta mandou-lhe que fizesse,
primeiro, um bolo pequeno para ele e, depois, então, preparasse alimento
a ela e a seu filho, pois, enquanto não chovesse, haveria alimento para
eles (I Rs.17:14,15). Elias já sabia que Deus garantiria a sua
sobrevivência e se havia ordenado que aquela viúva lhe sustentasse, esta
garantia se estendia também a casa dela. Mas, as experiências com Deus
ainda não haviam cessado. Baal, também, era tido como o deus da saúde.
Aliás, em Sidom, Baal era conhecido como Eshmun, o deus da saúde. Deus
deveria, pois, demonstrar não só a Elias, mas à própria viúva de
Zarefate, que Deus era o Senhor da saúde. Assim, o filho da viúva
adoeceu, doença que se agravou e que levou o filho da viúva à morte(I
Rs.17:17). Apesar de sustentada pelo poder do Deus dos hebreus, a viúva,
ela própria uma gentia, não hesitou em culpar o profeta pela morte de
seu filho, como se fosse uma vingança de Baal contra o fato de a viúva
estar a acolher um israelita em sua casa.
- Desafiado pela viúva, o profeta demonstrou, uma vez mais, a sua fé.
Pediu o corpo do filho e o levou para o seu quarto, onde, em particular,
clamou ao Senhor, pedindo que se restituísse a vida ao morto. É
interessante notar que, até este instante, não havia qualquer relato de
ressurreição de mortos em Israel. Elias será o primeiro a fazer um
milagre desta natureza, a revelar como estava alto o seu nível
espiritual, como estava a saber quem era Deus e do que Ele era capaz de
fazer. E a Bíblia nos diz que “o Senhor ouviu a voz de Elias e a alma do
menino tornou a entrar nele e reviveu” (I Rs.17:22). O resultado deste
milagre foi o reconhecimento, pela viúva, de que “Javé é Deus” e de que
Elias era o Seu legítimo profeta (I Rs.17:24). O milagre da
ressurreição do filho da viúva de Zarefate é o primeiro caso de
“ressurreição de mortos” registro nas Escrituras Sagradas e teve como
objetivo a glorificação do nome do Senhor e a demonstração de que Ele é o
verdadeiro Deus e não Baal, que, como deus da saúde, não tinha podido
impedir o filho da viúva de adoecer, nem tampouco pôde restituir a vida
ao moço, algo que também era atribuído a Baal, que dizia ser o
responsável pelo “renascimento” da natureza após o inverno, após uma
luta em que sempre conseguia vencer o “deus da morte”. Vemos, assim, que
a experiência inédita de Elias tinha como propósito a exaltação do nome
do Senhor e a consolidação da necessária experiência pessoal que Elias
tinha de ter com Deus, para ter plena certeza de que “Javé é Deus”.
Por: Ev. Dr. Caramuru Afonso (colaboração para o portalebd.org.br)
CONCLUSÃO
- O objetivo principal da vida do cristão é agradar a Deus e promover a
sua glória. Devemos honrar a Deus mediante nossa obediência, confiança,
oração, fé e lealdade a Ele. Viver para a glória de Deus deve ser uma
norma fundamental em nossa vida; o alvo da nossa conduta, e teste das
nossas ações. O modo corajoso do profeta Elias falar ao rei Acabe e
denunciar a impiedade de Israel fez dele um profeta exemplar, e a pessoa
mais qualificada daquela época para ser um exemplar modelo do precursor
de Jesus Cristo. Elias era um restaurador e um reformador, empenhado em
restabelecer o concerto entre Deus e Israel. A coragem e a fé patentes
em Elias não têm paralelo em toda a história da redenção. Seu desafio ao
rei Acabe, sua repressão a todo o Israel e seu confronto com os 450
profetas de Baal foram embates que ele os enfrentou dispondo apenas das
armas da oração e da fé em Deus. A oração é o elo de ligação que
carecemos para recebermos as bênçãos de Deus, o seu poder e o
cumprimento das suas promessas.
Bibliografia
- Bíblia Plenitude (ARC)
- Dicionário Online
- Apontamentos Teológicos do Autor
Colaboração do Ev. Dr. Caramuru Afonso (colaboração para o portalebd.org
- http://estudos.gospelmais.com.br/elias-era-um-verdadeiro-homem-de-deus.html
COLABORAÇÃO PARA O PORTAL ESCOLA DOMINICAL - PR. JOSAPHAT BATISTA SOARES
Fonte: PortalEBD
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