Qual o limite de um homem? Como
ele se comporta quando se encontra numa situação-limite? Nessas circunstâncias,
há na vida algum sentido ou significado? Foi com a proposta de responder a
estas perguntas que o psiquiatra vienense Viktor E. Frankl escreveu o livro: Em
Busca de Sentido.1
Frankl foi um dos poucos
sobreviventes de campo de concentração nazista durante a segunda Guerra
Mundial, responsável pelo extermínio de seis milhões de judeus!
Gordon W. Allport, amigo de Frankl e reno-mado psicólogo da Universidade de Harvard, destaca o fato que Frankl foi prisioneiro durante muito tempo em campos de concentração, onde seres humanos eram tratados de modo pior do que se fossem animais, e que ele se viu reduzido à existência nua e crua. O pai, a mãe, o irmão e a esposa de Viktor Frankl morreram em campos de concentração ou em crematórios, e, excetuando sua irmã, toda a sua família morreu nos campos de concentração. Como foi que ele — tendo perdido tudo o que era seu, com todos os seus valores destruídos, sofrendo fome, frio e brutalidade, esperando a cada momento a sua exterminação final — conseguiu encarar a vida como algo que valia a pena preservar?
Gordon W. Allport, amigo de Frankl e reno-mado psicólogo da Universidade de Harvard, destaca o fato que Frankl foi prisioneiro durante muito tempo em campos de concentração, onde seres humanos eram tratados de modo pior do que se fossem animais, e que ele se viu reduzido à existência nua e crua. O pai, a mãe, o irmão e a esposa de Viktor Frankl morreram em campos de concentração ou em crematórios, e, excetuando sua irmã, toda a sua família morreu nos campos de concentração. Como foi que ele — tendo perdido tudo o que era seu, com todos os seus valores destruídos, sofrendo fome, frio e brutalidade, esperando a cada momento a sua exterminação final — conseguiu encarar a vida como algo que valia a pena preservar?
Nas páginas 16 e 17 de seu livro,
Frankl narra a dramaticidade de viver em um campo de extermínio:
“O não iniciado que olha de fora,
sem nunca ter estado num campo de concentração, geralmente tem uma ideia errada
da situação num campo desses, imagina a vida lá dentro de modo sentimental,
simplifica a realidade e não tem a menor ideia da feroz luta pela existência,
mesmo entre os próprios prisioneiros e justamente nos campos menores. E
violenta a luta pelo pão de cada dia e pela preservação e salvação da vida.
Luta-se sem dó nem piedade pelos próprios interesses, sejam eles do indivíduo
ou do seu grupo mais íntimo de amigos. Suponhamos, por exemplo, que seja
iminente um transporte para levar certo número de internados para outro campo
de concentração, segundo a versão oficial, mas há boas razões para supor que o
destino seja a câmara de gás, porque o transporte de pessoas doentes e fracas
representa uma seleção dos prisioneiros incapacitados de trabalhar, que deverão
ser dizimados num campo maior, equipado com câmaras de gás e crematório. E
neste momento que estoura a guerra de todos contra todos, ou melhor, de uns
grupos e panelinhas contra outros. Cada qual procura proteger a si mesmo ou os
que lhe são chegados, pô-los a salvo do transporte, ‘requisitá-los’ no último
momento da lista do transporte. Um fato está claro para todos: para aquele que
for salvo dessa maneira, outro terá que entrar na lista. Afinal de contas, o
que importa é o número; o transporte terá que ser completado com determinado
número de prisioneiros. Cada qual então representa pura e simplesmente uma
cifra, pois na lista constam apenas os números dos prisioneiros. Afinal de
contas, é preciso considerar que em Auschwitz, por exemplo, quando o
prisioneiro passa pela recepção, ele é despojado de todos os haveres e assim
também acaba ficando sem nenhum documento, de modo que, quem quiser, pode
simplesmente adotar um nome qualquer, alegar outra profissão etc. Não são
poucos os que apelam para esse truque, por diversas razões. A única coisa que
não dá margem a dúvidas e que interessa aos funcionários do campo de
concentração, é o número do prisioneiro, geralmente tatuado no corpo. Nenhum
vigia ou supervisor tem a ideia de exigir que o prisioneiro se identifique pelo
nome, quando quer denunciá-lo, o que geralmente acontece por alegação de ‘preguiça’.
Simplesmente verifica o número que todo prisioneiro precisa usar, costurado em
determinado pontos da calça, do casaco c da capa, e o anota (ocorrência muito
temida por suas consequências)”.2
O que faz sentido numa situação
dessas? Como bem observaram os editores da obra de Frankl, ele toca na essência
do que é ser humano: usar a capacidade de transcender uma situação extremamente
desuma-nizadora, manter a liberdade interior e, desta maneira, não renunciar ao
sentido da vida, apesar dos pesares. E manter-se aberto para a vida, mesmo
naquelas situações aparentemente sem sentido e dessa forma encontrar o sentido
mais profundo da transcendência humana.3
A história de Viktor Frankl
possui alguma similaridade com a do profeta Elias — ambos viveram
situações-limite. Frankl era um judeu que sobreviveu ao extermínio promovido
pelo nazismo; Elias, também judeu, sobreviveu ao extermínio promovido pelo rei
Acabe. Assim como Frankl, Elias era humano! Estava sujeito aos mesmos
sentimentos (Tg 5.17).
Muitas vezes ficamos tão
fascinados com o registro bíblico sobre homens e mulheres de Deus que acabamos
esquecendo de que os mesmos eram humanos! Passamos a enxergá-los como heróis e
como tal acreditamos que eles não possuem falhas. Todavia a Escritura mostra os
homens de Deus como de fato os são — homens vigorosos, destemidos, corajosos e
ousados — mas ainda assim humanos.
Com Elias também foi assim. Elias
foi um profeta que deixou seu legado na história bíblica como um gigante
espiritual. Um servo de Deus de profunda convicção espiritual e consciente de
sua missão profética. Por causa disso, enfrentou soberanos, falsos profetas e o
coração de um povo dividido. Isso deixou uma sobrecarga sobre ele, e foi isso
que fez aflorar na vida do profeta de Tisbe todo o seu lado humano, frágil e
carente da ajuda divina (1 Rs 19.1-18).
Elias — um homem como os outros
Um homem sentimental
O apóstolo Tiago destacou em sua
epístola a dimensão humana do profeta Elias. Elias era homem, estava também
sujeito aos sentimentos peculiares aos seres humanos. E isso o que o apóstolo
diz: “Elias era homem semelhante a nós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e
orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e
seis meses, não choveu” (Tg 5.17).Tiago diz duas coisas importantíssimas sobre
Elias que nós parecemos esquecer: primeiramente “Elias era homem”. Elias foi um
gigante espiritual, mas era homem! Não era um anjo! Quando escrevi um
comentário para a Escola Dominical sobre a vida do rei Davi, destaquei esse
fato: “Davi era humano, demasiado humano! Foi Nietzsche quem usou essa
expressão em um outro contexto. Todavia, acredito que ela se aplica bem a Davi.
Davi era tudo aquilo que podemos identificar como humano. Um homem espiritual,
mas humano. Um guerreiro forte, mas ao mesmo tempo um líder quebrantado (SI
34.18). Um homem que sabia pensar e ao mesmo tempo chorar (2 Sm 12.22). Davi em
algumas vezes se mostra extremamente racional e em outras um homem altamente
emocional. Davi era humano! As vezes ficamos com um sentimento de decepção
quando vemos Davi se emaranhando nas teias do pecado sexual. E evidente que a
Escritura reprova veementemente essa ação de Davi, todavia isso nos mostra um
outro lado da moeda — Davi era um homem! E como homem, estava sujeito a falhas.
Ele não era um anjo, ou um
semideus ou ainda um dos heróis antigos, mas um homem que amava a Deus mesmo
com todas as suas fragilidades. As vezes esquecemos que, ao escolher Davi, o
profeta Samuel, sob direção divina, disse: “já tem buscado o Senhor para si um
homem segundo o seu coração” (1 Rs 13.14). Deus procurou um homem, e não um
semideus. Não um herói. Não devemos esquecer a nossa humanidade. As vezes encontramos
crentes que não querem mais ser humanos, eles buscam um projeto de
espiritualidade destituído da parte humana. Isso é extremamente perigoso.
Devemos ser crentes espirituais, mas não esquecendo de que ainda habitamos
neste tabernáculo (2 Pe 1.14).4
Assim como Davi, Elias também era
humano. Ele estava sujeito aos “mesmos sentimentos”. Elias não era apenas
espiritual, era também sentimental! Alegrava-se, mas também se entristecia!
Talvez o que distingue Elias dos demais mortais é que ele não maquiava seus
sentimentos. Ele os punha para fora.
Um homem espiritual
Como vimos, há muitas semelhanças
nas histórias de Frankl e do profeta de Tisbe, em especial quando levamos em
conta a dimensão psicológica ou subjetiva. Todavia há diferenças também. Elias
não era psiquiatra, não possuía formação em comportamento humano, mas era um
profeta com uma profunda vida espiritual. Se Frankl se valeu do que ele mesmo
batizou com o nome de logoterapia, uma técnica que busca um sentido para a
existência, Elias buscou o sentido dessa mesma existência em Deus. Elias era servo
do Deus vivo, razão última de toda a existência humana! Dizendo isso de uma
outra forma, o profeta de Tisbe era um homem espiritual.
Elias era um homem espiritual e
vários fatos narrados nas Escrituras atestam essa verdade. Primeiramente vemos
Elias como um profeta profundamente envolvido com a Palavra de Deus: “E, que
segundo a tua palavra fiz todas essa coisas” (1 Rs 18. 36). Em segundo lugar,
observamos que o profeta de Tisbe possuía uma profunda vida devocional. Elias
era um homem de oração: “Subiu Acabe a comer e a beber; Elias, porém, subiu ao
cimo do Carmelo, e, encurvado para a terra, meteu o rosto entre os joelhos, e
disse ao seu moço: Sobe e olha para o lado do mar. Ele subiu, olhou e disse:
Não há nada. Então, lhe disse Elias: Volta. E assim por sete vezes” (1 Rs
18.42,43). Elias aprendera a arte da oração!
As causas dos conflitos de Elias
Decepção
O capítulo 18 de 1 Reis narra a
fantástica vitória que o profeta Elias obtivera sobre os profetas de Baal. O
Senhor havia respondido a oração do seu servo e respondeu com uma demonstração
inequívoca do seu poder — O Senhor enviou fogo do céu em resposta à oração de
Elias (1 Rs 18.38). O que Elias esperava em resposta a esse avivamento era um
total quebrantamento do povo, incluindo a casa real. Todavia o avivamento não
alcançou as proporções desejadas. A casa de Acabe ficou insensível a ele.
Jezabel mandou dizer a Elias, em tom de ameaça: “Façam-me os deuses como lhes
aprouver se amanhã a estas horas não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um
deles” (1 Rs 19.2). Parece que a vitória havia se convertido em derrota! Sem
dúvida Elias ficou decepcionado, não com o seu Deus, mas com o príncipe de seu
povo!
Para a psicóloga Esther Carrenho
(2001, pp.148-149) essa sem dúvida foi a razão que motivou o profeta Elias
ficar deprimido. Em sua excelente obra, Carrenho faz uma análise detalhada
sobre os principais conceitos da Depressão, em especial quando ela se manifesta
em personagens bíblicos tais como: Jó, Moisés, Davi e Elias.
Na sua análise sobre o profeta de
Tisbe, Carrenho destaca que:
“Quando analisamos
psicologicamente os fatos na vida de Elias, podemos também concluir que sua
depressão poderia ser chamada de “depressão após o sucesso”. Esse é um tipo de
depressão que também pode cair sobre muitas pessoas. Normalmente, diante de um
desafio, o corpo passa a produzir um excesso de adrenalina para que a pessoa dê
conta de executar todo seu plano até ver o desafio cumprido. Uma vez que a
tarefa está encerrada, a produção de adrenalina também cessa, trazendo para o
corpo uma prostração e um cansaço de tal forma que algumas pessoas demoram
alguns dias para se recuperarem novamente”.5
Medo
Diante da ameaça de morte
sentenciada pela rainha Jezabel, a reação de Elias foi imediata: “Temendo,
pois, Elias, levantou-se, e, para salvar a sua vida, se foi, e chegou a
Berseba, que pertence a Judá; e ali deixou o seu moço” (1 Rs 19.3). Elias teve
medo e fugiu! O homem que havia confrontado Acabe e os falsos profetas de Baal
e Aserá, agora fugia temendo morrer pela mão de uma mulher! Não devemos
esquecer que Elias era um homem semelhante a nós e sujeito aos mesmos
sentimentos (Tg 5.17). Os gigantes também possuem seus momentos de fraqueza!
Não há dúvidas de que aqui os sentimentos falaram mais alto do que a fé!
Esther Carrenho destaca que:
“Acabe relata tudo para sua
mulher, Jezabel, que se enfurece com Elias ao saber da morte dos profetas de
Baal. Ela manda um aviso dando-lhe 24 horas de prazo; depois disso, ela o
destruirá da mesma forma com que ele destruiu e matou os profetas. Elias sentiu
medo diante da ameaça de Jezabel. E esse medo vai desencadear uma depressão que
faz com que Elias, o grande herói e vencedor, se prostre em total desânimo”.6
As consequências dos conflitos
Fuga e isolamento
O texto sagrado destaca a fuga do
profeta Elias (1 Rs 19.3). O homem de Deus que havia enfrentado situações tão
adversas, agora se vê impotente diante das ameaças de uma rainha pagã. Ele se
viu sem escapatória diante dessa nova situação e temeu por sua vida.
Humanamente falando, era ficar e morrer. Devemos observar que o Senhor não recriminou
Elias por isso, nós também não devemos fazê-lo. Por outro lado, Elias não
apenas fugiu, ele também se isolou. “Ele mesmo, porém, se foi ao deserto” (1 Rs
19.4). Essa é uma marca de uma pessoa deprimida — ela busca o isolamento. Somos
seres sociais e como tal não podemos viver no isolamento. Carrenho (pp.150,151)
vê o medo e isolamento de Elias como os dois primeiros sintomas depressivos do
profeta:
“O primeiro sintoma da depressão
presente em Elias é o medo. Ele se deu conta de que, humanamente falando, não
tinha escapatória, e diante da sensação de impotência foge para salvar a
própria vida. ‘Elias teve medo e fugiu para salvar a vida.’ O segundo sintoma é
o isolamento. ‘Em Berseba de Judá ele deixou o seu servo e entrou no deserto,
caminhando um dia.’Foi no deserto e sozinho que ele achou que poderia se
proteger do ataque de Jezabel”.7
Autopiedade e desejo de morrer
Vemos ainda as marcas do
comportamento depressivo do profeta na sua atitude de autopiedade, um termo
sinônimo para autocomiseração, cunhado pelos psicólogos. Elias achava que
somente ele ficara como um servo fiel do Senhor. “Eu fiquei só” (1 Rs 19.10).
Ele achava que todos haviam apostatado ou abandonado a fé. Não havia mais
fiéis, somente ele. Como o texto deixa claro, isso era ver a realidade de forma
distorcida. Deus possuía ainda seus sete mil (1 Rs 19.18). Mas Elias foi mais
além — ele agora queria morrer. “E pediu para si a morte” (1 Rs 19.4). Os
psicólogos observam que este é um sintoma de uma pessoa com depressão profunda.
Ela perde o encanto pela vida. Elias, portanto, precisava urgentemente da ajuda
do Senhor.
Carrenho destaca com muita
propriedade que: “O desejo de morrer não significa desejo de se matar. Há
diferença entre sentir o desejo de morrer, não querer continuar a viver, e o
desejo de se matar. Elias pede que Deus tire a vida dele, que na verdade é uma
forma de ter a vida terminada, mas sem a própria participação. Para muitas
pessoas, o simples fato de pensar em morrer já se torna um peso insuportável,
pela culpa que elas sentem”.8
O socorro divino
Um breve esboço da estadia do
profeta Elias no Monte Horebe ou Sinai, que é uma espécie de resumo do que foi
dito até aqui, pode ser dado como segue:
A) Elias entrando na caverna
a) Decepção (1 Rs 19.2)
b) Medo (1 Rs 19.3)
B) Elias dentro da caverna
a) Fuga (1 Rs 19.3)
b) Isolamento (1 Rs 19.4)
c) Autopiedade (1 Rs 19.10)
d) Desejo de desistir e morrer (1
Rs 19.4,18)
C) Elias saindo da caverna
A terceira e última parte é a que
iremos analisar agora — Elias saindo da Caverna. Foi o escritor americano John
Gray (1995, pp.42,43) quem popularizou a figura da caverna como símbolo de
conflitos psicológicos. Em seu livro: Homens São de Marte e as Mulheres são de
Venus, que se tornou best-seller, ele escreveu:
“Quando um homem está estressado,
ele se retira para dentro de uma caverna na sua mente e se concentra na
resolução de um problema. Ele geralmente escolhe o problema mais urgente ou
mais difícil.
Ele fica tão concentrado na
resolução desse problema que perde temporariamente a noção de tudo o mais.
Outros problemas e responsabilidades desaparecem gradualmente no pano de fundo.
Em tais momentos, ele se torna
progressivamente distante, esquecido, insensível e preocupado em seus
relacionamentos. Por exemplo, quando tiver uma conversa com ele em casa, parece
que somente 5% de sua mente estão disponíveis para o relacionamento enquanto os
outros 95% ainda estão no trabalho.
Sua plena consciência não está
presente porque ele está ruminando o próprio problema, esperando encontrar uma
solução. Quanto mais estressado estiver, mais preso ao problema ficará. Em tais
momentos, ele é incapaz de dar a uma mulher a atenção e o sentimento que ela
normalmente recebe e certamente merece. Sua mente está preocupada, e ele se
sente impotente para liberá-la. Se, no entanto, ele puder encontrar a solução,
ele se sentirá melhor instantaneamente e sairá da caverna; repentinamente ele
estará à disposição para participar do relacionamento novamente.
Entretanto, se ele não puder
encontrar uma solução para seu problema, então permanecerá enfiado na caverna.
Para sair, ele ficará atraído pela resolução de pequenos problemas, como ler o
jornal, ver televisão, dirigir seu carro, fazer exercícios físicos, assistir a
um jogo de futebol, jogar basquete, e por aí afora. Qualquer atividade
desafiadora que inicialmente requeira somente 5% de sua mente pode ajudá-lo a
esquecer seus problemas e a sair. Assim, no dia seguinte, ele será capaz de
redirecionar seu foco para seu problema com mais sucesso”.9
No caso de Elias, fica evidente o
fato que se não fosse a mão do Senhor, Elias jamais teria conseguido sair
daquela caverna.
Esther Carrenho destaca esse
fato:
“Elias, na minha opinião, é o
exemplo bíblico mais forte e significativo de uma pessoa deprimida. Primeiro,
porque sua depressão poderia ser classificada como severa. Há todos os indícios
e sintomas de alguém que se prostra sem recursos próprios para sair da situação
sem ajuda externa. Só depois que Elias é assistido, até de maneira
sobrenatural, é que ele recobra suas forças e consegue caminhar novamente em
direção ao monte Horebe”.10
Provisão física
O socorro do Senhor chegou até o
profeta na forma de provisão física ou material: “Deitou-se e dormiu debaixo do
zimbro; eis que um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come”(l Rs 19.5). Os
psicólogos veem aqui um dos sintomas da depressão de Elias — a inapetência ou
alteração dos hábitos alimentares. Nesse estado a pessoa pode não querer comer
como também pode possuir um apetite exagerado. Em ambos os casos é necessário o
auxílio de terceiros. Esse sintoma é denominado pelos psicólogos de
inapetência, isto é, “a alteração nos hábitos alimentares, quando tanto pode
ocorrer a falta de apetite como o comer exagerado. No caso de Elias, ele só
dorme e não tem nenhum interesse em providenciar o alimento. E preciso que o
anjo traga a alimentação pronta. Os familiares e aqueles que cuidam de pessoas
com depressão precisam saber que em muitos casos é preciso tomar a iniciativa
de, respeitosa e amorosamente, por um tempo, cuidar do deprimido.”11 No caso do
profeta, o anjo do Senhor é quem o auxilia providenciando-lhe alimento. Ele
precisava alimentar-se e Deus fez com que isso fosse providenciado: “Olhou ele
e viu, junto à cabeceira, um pão cozido sobre pedras em brasa e uma botija de
água. Comeu, bebeu e tornou a dormir” (1 Rs 19.6,7).
Provisão espiritual
Observamos que Elias se alimentou
de pão e água, sem dúvida alguma, elementos de natureza material. Todavia a
forma e o instrumento usado por Deus para fazê-los chegar até ao profeta era de
natureza espiritual. Como já vimos, o texto sagrado diz que um anjo do Senhor
foi quem providenciou aqueles víveres para o profeta (1 Rs 19.5,6). Mas não foi
apenas um anjo que prestou auxílio ao profeta. O próprio Deus a quem Elias
servia o conduziu durante todo o tempo. A própria ida de Elias ao monte Horebe
fez parte dessa terapia. Ali Elias seria revitalizado não apenas na sua vida
espiritual, mas também na sua vida emocional (1 Rs 19.8-15).
O Dr. Rodrigo Pires do Rio (2010,
pp.82,83) destaca esse momento na vida do profeta Elias:
“A experiência do deserto marcou
a caminhada de Elias. Deserto não apenas como região externa, mas,
principalmente, como experiência interior. Elias viveu em uma época de
corrupção e suborno, de uso abusivo e absurdo do poder, de ruptura com as
coisas de Deus e culto de idolatrias. Ele teve momentos de não saber, de estar
perdido, de ter medo, de achar que tudo estava terminado, de querer fugir e
morrer. Ele procurou Deus nos sinais tradicionais (terremoto, vento, fogo) e
não O encontrou.
Pareceu-lhe, como para muitos de
nós hoje, que não havia sentido na vida, nem direção a ser seguida. Os sinais
tradicionais eram para Elias nada mais que lâmpadas que já não se acendiam.
Elias só encontrou a Deus, de maneira inesperada, na brisa leve, que significa
voz de calmaria suave. A brisa leve indica algo, um fato que, de repente, faz a
pessoa ficar calada, cria nela um quebrantamento e, assim, a dispõe para
escutar; provoca nela expectativa.
A brisa leve é o “sair de si
próprio” para se encontrar novamente, é rever as próprias convicções pela
Palavra de Deus; é redescobrir o sentido da vida pela vida que vem de Deus.
Elias desesperou-se, perdeu-se, procurou, perseverou e reencontrou-se em Deus
(2 Rs 2.11)”.12
Acabamos de observar que os
homens de Deus também têm conflitos. Padecem também dos males comuns a todos os
mortais. Todavia é perceptível que o servo de Deus conta com uma forma de
auxílio diferenciado — ele não está sozinho neste mundo e por isso não depende
apenas dos limitados recursos humanos. O Senhor se faz presente nas horas
conflituosas da vida e presta-nos o seu auxílio. Lemos nos Salmos as palavras:
“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas angústias” (SI
46.1).
O psiquiatra cristão John White
observa que:
“Todos nós experimentamos tais
sentimentos de vez em
quando. As soluções são muitas: uma boa caminhada, contar as
bênçãos, uma boa noite de sono, uma conversa com os amigos, alguns hinos de
louvor, uns momentos a sós com Deus. Quando, entretanto, os sentimentos
continuam a nos assaltar por semanas e meses, devemos procurar ajuda de alguém
[...]
Infelizmente, os cristãos têm uma
inclinação para considerar suas depressões só em termos espirituais. Acham que
desapontaram a Deus. Os judeus religiosos fazem o mesmo, interpretando suas
experiências dentro de uma estrutura religiosa. E os conselheiros espirituais,
presos nessa mesma estrutura, podem muito bem diagnosticar um problema
espiritual em algum cliente, mas não perceber uma enfermidade depressiva em
outro, de modo que a fé vai ser encorajada onde ela não existe, ou o louvor em
um coração murcho como uma ameixa seca”.
Extraído do livro:Porção Dobrada
- José Gonçalves CPAD.
Fonte: http://euvoupraebd.blogspot.com.br/2013/01/licao-5-um-homem-de-deus-em-depressao.html#.UQVXiyuGwqo.blogger
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