A fidelidade é nota essencial do casamento bíblico.
INTRODUÇÃO
- A fidelidade é nota essencial do casamento bíblico.
- Por causa da fidelidade, o casamento pode ser figura do relacionamento entre Deus e Israel, entre Cristo e a Igreja.
- Por causa da fidelidade, o casamento pode ser figura do relacionamento entre Deus e Israel, entre Cristo e a Igreja.
I – OS SIGNIFICADOS DE FIDELIDADE
- O Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa dá, entre os muitos significados de fé, o de
“compromisso assumido de ser fiel à palavra dada, de cumprir exatamente o
que se prometeu”. Por sua vez, o mesmo dicionário identifica
“fidelidade” como sendo “característica, atributo do que é fiel, do que
demonstra zelo, respeito quase venerável por alguém ou algo; lealdade”.
Percebe-se, portanto, que a ideia de fidelidade está vinculada à ideia
de compromisso, ou seja, a uma persistência num acordo, num pacto que
foi firmado entre duas partes.
- Ora, é precisamente este o sentido da
fé ou fidelidade enquanto fruto do Espírito Santo. Quando somos salvos,
passamos a ser participantes da natureza divina (II Pe.1:4) e, sendo
assim, temos de assumir o mesmo caráter de Deus, já que, em nós, foi
restaurada a imagem e semelhança de Deus, que deve ser refletida por nós
aos homens (Mt.5:16; II Co.3:18).
- Uma das principais características
divinas é a Sua imutabilidade. Deus não muda e n’Ele não há sombra de
variação (Tg.1:17). A Bíblia ressalta, ainda, que Jesus Cristo é o mesmo
ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8). Desta maneira, o salvo não pode,
também, no tocante aos valores morais e espirituais, sofrer qualquer
variação. Tem de ser firme, tem de manter a sua posição, custe o que
custar, aconteça o que acontecer.
- Esta firmeza é o respeito, o zelo ao
compromisso assumido, que é a fidelidade, como vimos na definição supra.
A fé enquanto fruto do Espírito traz ao homem esta atitude de firmeza,
de imutabilidade, que o leva a manter as suas posições apesar das
circunstâncias adversas. O homem que morará no santo monte do Senhor é
aquele, diz o salmista, que “mesmo que jure com dano seu, não muda”
(Sl.15:4 “in fine”).
- A fé é, portanto, enquanto fruto do
Espírito, a característica de manutenção dos compromissos assumidos
diante do Senhor e de imutabilidade de suas posições frente aos desafios
e obstáculos que se lançam diante do crente. Quando observamos a
galeria dos “heróis da fé” no capítulo 11 dos Hebreus, vemos que a fé
existente naqueles homens fez com que tivessem eles atitudes firmes,
imutáveis, que não se alteraram mesmo diante das tribulações e das
dificuldades apresentadas, que, aliás, chegaram mesmo a levar, algumas
vezes, os fiéis à morte. Entretanto, a fidelidade não se abala mesmo
diante da morte, tanto que o próprio Senhor, em Sua carta à igreja de
Smirna, reconhece esta circunstância, prometendo, porém, aos que forem
fiéis até a morte, a coroa da vida (Ap.2:10).
- A fé importa em tomada de posição
firme ante o compromisso assumido com o Senhor quando de nossa salvação.
Ao aceitarmos a Cristo como nosso Senhor e Salvador, a exemplo do que
fez Israel quando do pacto que selou com Deus no deserto, dizemos ao
Senhor: “tudo o que o Senhor tem falado, faremos” (Ex.19:8 “in medio”). O
próprio Jesus afirma que só seremos Seus amigos se fizermos o que Ele
manda (Jo.15:14). Ora, como o Senhor é sempre o mesmo, Sua Palavra não
muda, permanece para sempre (I Pe.1:25), de sorte que não temos
dificuldade em saber o que devemos fazer. Por isso, Paulo dizia que não
se cansava de ensinar aos crentes as mesmas coisas (At.13:42; Fp.3:1).
- Falar de imutabilidade de posição e de
firmeza nos nossos dias é algo difícil de se pensar, pois o mundo
defende exatamente o oposto. Estamos na “era da flexibilização”, onde
tudo pode ser modificado, alterado, onde se defende a “tolerância” e a
“flexibilidade”. Entretanto, devemos lembrar que não é isto que ensina a
Palavra de Deus. É evidente que o mundo está sujeito à mudança, que o
homem é, por natureza, mutável, que as relações sociais, políticas e
econômicas são sujeitas a alterações e devem, mesmo, se modificar, pois o
homem é imperfeito e esta sua imperfeição abre espaço para que haja uma
contínua alteração. Até mesmo no campo espiritual há espaço para
mudança, pois a Bíblia diz que o homem deve atingir a perfeição
espiritual, tanto que, para isto, Cristo dotou a Igreja de dons
ministeriais (Ef.4:12,13).
- Todavia, a mudança prevista nas
Escrituras é uma mudança com vistas a atingirmos o alvo que é a
plenitude de Cristo em nós. Devemos ser iguais a Cristo, atingir a Sua
estatura, a medida de Cristo. Portanto, o que temos de mudar é o que há
em nós para sermos iguais a Cristo e não mudar os princípios e os
valores que nos foram ensinados e revelados através da Palavra de Deus.
Nosso mudar é um caminhar em busca da perfeição e a perfeição está em
Cristo e quem nos diz quem é Cristo e como devemos viver para sermos
como Ele é a Bíblia Sagrada, as Escrituras que d’Ele testificam
(Jo.5:39). Por isso, não podemos permitir que o “espírito da
flexibilização” venha a habitar na Igreja ou em nós mesmos. Não podemos
mudar a Palavra de Deus e esta Palavra permanece para sempre.
Repudiemos, portanto, as inovações, as novidades, os modismos e
modernismos que querem encontrar guarida na Igreja e na nossa vida. Quem
pretende mudar a Palavra do Senhor apenas está indicando que já foi
cortado da videira verdadeira, pois uma das qualidades do fruto do
Espírito é a fidelidade, que é uma atitude de imutabilidade quanto aos
princípios e valores escriturísticos, que é uma atitude de firmeza, de
repúdio à mudança.
- Esta firmeza na vida do crente faz com
que ele se relacione também desta maneira com os outros. Sendo imutável
no seu relacionamento com Deus e consigo mesmo, o crente é, também,
firme no seu relacionamento com os outros e aí vemos um outro aspecto da
fidelidade, que é a lealdade. Lealdade é entendida como sendo
“fidelidade aos compromissos assumidos, caráter do que é inspirado por
este respeito ou fidelidade”, sendo palavra que se origina de “legal +
dade”, ou seja, é a observância de uma lei, de uma regra, de um acordo.
- O crente tem de ser leal, ou seja,
deve cumprir com os compromissos assumidos diante de Deus e dos outros
homens. A lealdade é um dos aspectos da fidelidade, aquele que diz
respeito a nosso relacionamento com outrem. Em Dt.32:20, no cântico de
Moisés, é dito que Israel seria desleal, porque se esqueceria da Rocha
que o havia gerado, do Deus que o havia formado (Dt.32:18). Esta
deslealdade, como se verifica, foi o fato de Israel não ter cumprido o
compromisso assumido com o Senhor em Ex.19:6, quando afirmou que faria
tudo o que Senhor havia falado. Entretanto, como bem sabemos, a geração
que assumiu este compromisso, cedo se distanciou do Senhor, como vemos a
partir do episódio do bezerro de ouro. O escritor aos hebreus diz que a
geração do êxodo não entrou na Terra Prometida por causa da sua
incredulidade (Hb.3:19), ou seja, por causa da sua falta de fé. A
deslealdade nada mais é que produto da falta de fé.
- Ser leal é cumprir os compromissos
assumidos, é observar os preceitos e normas estabelecidos. O crente é
leal, em primeiro lugar, ao Senhor e, em segundo lugar, ao próximo. Na
Bíblia, temos vários exemplos de servos de Deus que demonstraram a sua
lealdade não só para com Deus como para com o próximo. Daniel e seus
amigos são exemplos de lealdade, pois, mesmo na corte babilônica,
assentaram no seu coração não se contaminar com o manjar do rei e, já
dotados de posição na corte, mantiveram esta resolução, mesmo diante das
ameaças da fornalha de fogo ardente ou da cova dos leões. Davi
demonstrou sua lealdade para com Jônatas, fazendo bem a Mefibosete,
mesmo depois que Jônatas havia morrido e não havia qualquer força ou
circunstância que pudesse forçá-lo a cumprir a promessa feita a seu
amigo, promessa, aliás, que não teve qualquer outra testemunha a não ser
o próprio Deus. Temos sido leais? Temos cumprido com os compromissos
assumidos?
- A lealdade é tão importante na vida do
cristão que Jesus proibiu terminantemente que o crente faça
juramentos(Mt.5:34-36), pois, a um verdadeiro filho de Deus, basta a
palavra que for dita. Quando juramos, reconhecemos que precisamos de
algo superior a nossa palavra para confirmarmos o que estamos a
prometer, reconhecemos que nossa palavra não tem força suficiente para
se impor. Todavia, o crente em Cristo Jesus não pode jurar, ou seja, o
crente em Cristo tem de ter uma conduta, uma credibilidade tal que sua
palavra é suficiente, bastante. O falar do crente deve ser sim, sim,
não, não. Tudo o que vem além disto, que é contrário à fidelidade, tem
procedência maligna (Mt.5:37).
- Uma das características dos homens
ímpios é o fato de serem “infiéis nos contratos” (Rm.2:31), “traidores”
(II Tm.3:4), “nuvens levadas pela força do vento” (II Pe.2:17) e “nuvens
sem água, levadas pelo vento de uma a outra parte”(Jd.12), ou seja,
pessoas que não cumprem com os compromissos assumidos, que faltam à
confiança neles depositada. Assim, uma característica do verdadeiro
servo de Deus é ser cumpridor de seus deveres, de suas obrigações. Um
verdadeiro cristão nada pode dever a não ser o amor (Rm.13:8). É
inadmissível que um cristão ligado na videira verdadeira seja um devedor
contumaz, um indivíduo que não tenha crédito na sociedade onde viva,
alguém cuja palavra nada valha. O crente é leal, porque produz o fruto
do Espírito e um dos gomos deste fruto é a fidelidade.
OBS: Por isso mais do que acertada a
providência que alguns ministérios tem tomado de exigir, dos indicados à
separação para o ministério, certidões dos cartórios de protestos de
títulos e dos órgãos de proteção ao crédito. O cristão verdadeiro produz
o fruto do Espírito e o crente tem de mostrar que é fiel, que é leal,
que é cumpridor de suas obrigações. A deslealdade é um indício de que a
pessoa não está ligada à videira verdadeira, pois foi Jesus quem disse
que pelos frutos conheceríamos os salvos e os ímpios (Mt.7:20)
- Fidelidade também é, segundo os
dicionaristas, “constância nos compromissos assumidos com outrem”,
“constância de hábitos, de atitudes”. Não basta assumirmos um
compromisso com alguém e cumpri-lo, nem mesmo tomar a iniciativa de
fazer algo de acordo com a vontade de Deus, mas é indispensável, para
que haja fidelidade, que haja “constância”, ou seja, assiduidade,
frequência, prosseguimento, continuidade. Jesus disse aos smirnitas que
eles deveriam ser fiéis “até a morte”, ou seja, até o fim(Ap.2:10).
Paulo afirmou, no final de sua vida, que havia “guardado a fé”(II
Tm.4:7). Ainda Paulo, quando escrevia aos coríntios, afirmou que eles
precisavam ser “firmes e constantes”(I Co.15:58). Não basta que tenhamos
uma ação isolada de lealdade ou de observância de um mandamento divino,
mas isto tem de ser algo constante, algo sempre presente em nossas
vidas. A fidelidade implica em constância, em continuidade. O profeta
Ezequiel é claro ao afirmar que uma vida justa que não for constante
leva à perdição, se o momento da morte for, precisamente, o da falta de
continuidade (Ez.18:24).
OBS: Esta noção de fidelidade, aliás,
ficou evidenciada no campo comercial, como se pode ver pelos “cartões de
fidelidade” que foram lançados por algumas administradoras de cartões
de crédito e pelo próprio conceito de “fidelidade do cliente”, algo que
tem sido perseguido no mundo dos negócios, notadamente na área da
publicidade e propaganda.
- É interessante notar que, no Novo
Testamento, o verbo “pisteuo”, quando empregado no tempo presente,
sempre o é numa ideia de continuidade, a nos indicar que “…a fé não é
uma fase passageira. Mas é uma atitude contínua.…”(L.L. MORRIS. Fé. In:
J.D. DOUGLAS(org.). O Novo Dicionário da Bíblia, p.607). A propósito,
Paulo afirmou que no Evangelho se descobre a justiça de Deus “de fé em
fé”, “…que significa literalmente ‘ fé do começo ao fim’. O justo deve
viver sempre pela fé e, assim fazendo, continua a viver uma vida
espiritualmente cada vez mais rica.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL,
com. Rm.1.17, p.1694).
- Fidelidade também é “compromisso que
pressupõe dedicação amorosa à pessoa com quem se estabeleceu um vínculo
afetivo de alguma natureza”. Neste ponto, vemos, claramente, que a
fidelidade é fruto, é consequência, é efeito do amor. Já vimos que o
amor é o fruto por excelência, ou seja, é o verdadeiro pressuposto para
todas as demais qualidades do fruto do Espírito. Somente apresentaremos
fidelidade se tivermos amor por quem somos fiéis. Isto é bem ilustrado
no caso do casamento: o dever de fidelidade conjugal é consequência
única e exclusiva do amor que um cônjuge nutre pelo outro. Somente
seremos fiéis a alguém, se amarmos este alguém. Os estudiosos da
publicidade e da propaganda têm, nos últimos tempos, enfatizado a
necessidade de se criar um vínculo afetivo entre o consumidor e um
determinado produto, sem o que não será possível se estabelecer
fidelidade no consumo.
- Fidelidade também é “característica de
um sentimento que não esmorece com o decorrer do tempo”, ou seja,
fidelidade é algo que não envelhece, que não sofre os efeitos do tempo.
Isto é importante, porque muitos acham que a fidelidade ou aumenta, ou
diminui com o tempo. Verdade é que a fidelidade pode aumentar. Os
próprios discípulos de Jesus pediram ao Senhor que se lhes acrescentasse
a fé (Lc.17:5) e o próprio Senhor afirmou que a fé tem diferentes
graus, pois falou de pequena ou pouca fé (Mt.8:26), de fé grande
(Mt.15:28). A possibilidade de aumento da fé está evidenciada na figura
da mostarda, que, sendo uma das menores sementes, produz a maior das
hortaliças. Jesus disse que a nossa fé deve ser assim, ou seja, ter a
capacidade de crescer e se tornar a maior das nossas qualidades
espirituais(Mt.13:31,32; 17:20). Entretanto, não é o tempo que faz
aumentar ou diminuir a fidelidade, mas uma continuidade de comunhão com
Deus.
-Quando vemos pessoas que, no ministério
de Jesus, foram tidas como de grande fé, eram, via de regra, pessoas
que não tinham uma vida religiosa segundo os padrões judaicos (a mulher
cananeia, o centurião romano, que nem mesmo judeus eram), enquanto que
os discípulos, que estavam ao lado do Senhor, vez por outra, são
chamados de homens de pouca fé. Isto é a prova indelével que “tempo de
casa”, que religiosidade não demonstram fidelidade, nem são critérios
para isto, pois a fidelidade independe do tempo. O tempo apenas serve
para denotar a fidelidade no aspecto da constância, é mais um fator que
exige a sua prática do que que indique a sua presença.
OBS: Os mais longos reinados da história
de Judá, os de Manassés e de Uzias, são exemplos de que tempo nada tem a
ver com fidelidade. Uzias era fiel ao Senhor, que o fez prosperar, mas,
depois, se ensoberbeceu e morreu leproso, afastado do trono. Manassés,
por sua vez, foi um dos mais impiedosos reis de Judá, tão mau que Deus o
entregou nas mãos dos seus inimigos. Porém, no cárcere se humilhou e se
arrependeu e, por isso, foi reconduzido ao trono, onde passou seus dias
finais servindo a Deus.
- Fidelidade, ainda, é “compromisso
rigoroso com o conhecimento; exatidão, sinceridade”, significado, aliás,
que levou, na física, a se considerar como fidelidade:
a) característica de um
sistema de reprodução acústica, relacionada com a capacidade deste em
reproduzir, com maior ou menor exatidão, as componentes de frequência de
um sinal acústico, mantendo as intensidades relativas destas
componentes (por isto se diz que um aparelho de som tem “alta
fidelidade”)
b) em uma balança,
propriedade que esta tem de assumir uma única posição, ou fornecer a
mesma leitura, quando submetida repetidas vezes às mesmas forças
- Este significado de fidelidade
mostra-nos, claramente, que a fidelidade se traduz por um compromisso
rigoroso com a Palavra de Deus, com uma busca incessante para se
conhecer e se saber o que Deus deseja de nós, qual é a Sua vontade, algo
que é revelado sobretudo pela Palavra de Deus. A fidelidade exige um
aprendizado contínuo e sincero das Escrituras, que se tenha uma vida que
não vá além do que está escrito (I Co.4:6). Somente assim, seremos um
“instrumento de alta fidelidade”, ou seja, uma pessoa que transmita aos
outros, com exatidão, a frequência de Jesus Cristo, a Sua mensagem.
Somente assim poderemos ser pessoas que
sempre forneçam a mesma posição, a posição da vontade de Deus, ainda que
sejamos submetidos a diversas forças, a diversas situações. Como dizem
os inspirados poetas Nils Katsberg e Emílio Conde, na letra do hino 342
da Harpa Cristã, quando aceitamos a Cristo, somos afinados pelo Senhor,
passamos a ter nova harmonia e tom, mas isto somente se dará se formos
fiéis.
II – A FIDELIDADE CONJUGAL
- Vistos os significados do que seja
fidelidade, voltemo-nos para a questão da fidelidade no casamento.
Sendo, como é, o casamento o máximo compromisso que se assume entre um
homem e uma mulher, consoante o modelo bíblico de família (Gn.2:24),
tem-se como evidente que tal compromisso deve ser mantido ao longo
de toda a vida, sem qualquer mudança. É, em virtude disto, que o
casamento tem como nota essencial a fidelidade.
- Tanto assim é que a Bíblia Sagrada
deixa bem claro que a veneração devida ao matrimônio envolve a proibição
do adultério (Hb.13:4), adultério que é definido por Russell Norman
Champlin como sendo o “contato sexual de uma mulher casada ou
comprometida com alguém que não seja esteja seu marido ou noivo. Ou de
um homem casado com sua mulher que não fosse sua esposa.…” (Adultério.
In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. v.1, pp.65-6).
- A proibição do adultério está presente
no princípio bíblico que instituiu o casamento, como vemos em Gn.2:24,
quando se fala que cada homem terá a sua mulher, estabelecendo, deste
modo, a monogamia, princípio este que é reforçado pelo Senhor Jesus não
só em Mt.19:4,5 e Mc.10:5-12, quando trata da questão do divórcio, mas
também quando fala com o chamado “mancebo de qualidade”, como se
verifica em Mt.19:18, Mc.10:19 e Lc.18:20, como ainda no episódio da
mulher adúltera, narrado apenas no evangelho segundo João (Jo.8:1-11).
- O casamento faz surgir o máximo
compromisso entre um homem e uma mulher, para que ambos tenham comunhão
de vida, complementem-se um ao outro e, deste modo, não há mesmo
possibilidade de que se possa ter, simultaneamente, mais de um marido ou
mais de uma mulher. Nesta exclusividade é que se encontra o fundamento
da proibição do adultério.
- Não é por outro motivo que, nas
legislações mais antigas da humanidade, o adultério já era proibido,
como um resquício do princípio divino estabelecido para o primeiro casal
ainda no Éden. No Código de Hamurábi, vigente na Mesopotâmia desde
tempos um pouco anteriores a Abrão, já havia dispositivo que proibia o
adultério.
OBS: Eis o dispositivo do Código de
Hamurábi a respeito do adultério: “129º – Se a esposa de alguém é
encontrada em contato sexual com um outro, se deverá amarrá-los e
lançá-los n’água, salvo se o marido perdoar à sua mulher e o rei a seu
escravo.”
- Deste modo, não é surpresa que, ao
conferir os dez mandamentos ao povo de Israel, o Senhor tenha estatuído
um mandamento específico a respeito do adultério, o sétimo mandamento,
que é claro, simples e objetivo: “Não adulterarás” (Ex.20:14; Dt.5:18). A
palavra hebraica aqui utilizada é “na’aph” (נאף ), cujo significado é
de “quebra de compromisso de casamento”, ideia esta que também é
presente no vocábulo grego correspondente, presente em o Novo
Testamento, a saber, “moicheuo” (μοιχεύω), onde a ideia de “quebra de
compromisso” é tão presente que se aplica, também, ao gesto de se ir
adorar outros deuses entre os judeus da diáspora.
- Como aduz Russell Norman Champlin, o
adultério é proibido “ …a fim de preservar a santidade do lar…”
(op.cit., p.66). “Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão
pessoal de amor. Criando-a à Sua imagem… Deus inscreve na humanidade do
homem e da mulher a vocação e, assim a capacidade e a responsabilidade
do amor e da comunhão.” (§ 2331 do Catecismo da Igreja Católica
Apostólica Romana – CIC). Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade,
embora de maneira diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A
união do homem e da mulher no casamento é uma maneira de imitar na carne
a generosidade e a fecundidade do Criador: “O homem deixa seu pai e sua
mãe, se une à sua mulher, e eles se tomam uma só carne” (Gn 2,24).
Dessa união procedem todas as gerações humanas. Jesus veio restaurar a
criação na pureza de sua origem. No Sermão da Montanha, Ele interpreta
de maneira rigorosa o plano de Deus: “Ouvistes o que foi dito: ‘Não
cometerás adultério’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma
mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu
coração” (Mt 5,27-28).…” (§§ 2335 e 2336 CIC).
- Tem-se, portanto, que a proibição do
adultério é muito mais do que uma determinada opção de organização
social, é muito mais que um dado cultural, pois é um princípio divino
que, deste modo, se estende a todas as épocas e a todos os lugares, não
se podendo, portanto, considerar que seja algo que possa ser modificado
ou tolerado através dos tempos, como, lamentavelmente, temos visto nas
sociedades contemporâneas, onde a figura do adultério tem sido cada vez
mais aceita e tolerada, como, por exemplo, entre nós, onde, inclusive,
deixou de ser uma conduta criminosa (a lei 11.106/2005 revogou o artigo
240 do Código Penal, que tratava do crime de adultério).
- Para que seja possível a comunhão de
vida entre um homem e uma mulher, para que ambos possam se complementar
e, desta maneira, cumprir o propósito divino estabelecido para o ser
humano, faz-se necessário que haja uma entrega mútua, a construção de um
projeto de vida que inclua a exclusividade de um cônjuge para o outro,
um relacionamento onde se verifique o compromisso de cada um viver ao
lado do outro e para o outro até o término da existência terrena.
- Não é por outro motivo que o casamento
se constitui em uma figura, um sinal, um símbolo do relacionamento
entre Deus e o homem. Deus, também, firmou um compromisso de abençoar o
homem, de com ele conviver para sempre, fazendo-o administrador da
criação terrena, compromisso este que é imutável, exclusivo e duradouro.
Deus é fiel (II Co.1:18), tem uma natureza que não permite a
infidelidade (II Tm.2:13) e, portanto, exige de cada um de nós que, em
firmando compromisso com Ele, também sejamos fiéis (I Co.4:2).
- Já vimos supra o significado de
fidelidade, ou seja, a manutenção do compromisso assumido, a
imutabilidade dos propósitos, o cumprimento do compromisso assumido, a
imunidade do compromisso através do tempo e é precisamente isto que
caracteriza o relacionamento conjugal tal como estatuído pelo Senhor:
marido e mulher prometem, ao se casar, ser um o complemento do outro e
este compromisso deve perdurar até o término da existência terrena, a
despeito das circunstâncias, a despeito da passagem do tempo.
- Deus estabeleceu que marido e mulher,
assim como devem ser fiéis ao Senhor, devem, também, ser fiéis um em
relação ao outro, o que significa afirmar que devem ser exclusivos um
para o outro, enquanto complementares, formadores de uma comunhão e
unidade de vida, a fim de que ambos, sob a orientação do Senhor, possam
cumprir os propósitos estatuídos ao ser humano pelo seu Criador
(frutificação espiritual; multiplicação, ou seja, reprodução biológica;
enchimento da terra e dominação sobre a criação terrena – Gn.1:28).
- A fidelidade, portanto, envolve a
exclusividade de ser complementado pelo cônjuge, o dever de com ele
formar uma carne, o que envolve muito mais do que o simples
relacionamento íntimo. Esta realidade precisou ser retomada pelo Senhor
Jesus, o que faz no sermão do monte.
- Com efeito, nos dias do Senhor Jesus, o
entendimento da lei de Moisés assumia um caráter meramente material,
sem a dimensão exigida pelo próprio Deus quanto ao aspecto sagrado do
casamento. Para os doutores da lei, o adultério somente se verificava
quando houvesse o contato sexual entre uma pessoa casada e alguém que
não fosse o seu cônjuge. Sem a prova da conjunção carnal, sem a prova da
manutenção do relacionamento sexual, não havia que se falar em
adultério.
- Tal entendimento, aliás, é ainda hoje
vigente nos ordenamentos jurídicos. Não se pode dizer que alguém cometeu
adultério com outrem se não houver prova de que houve o relacionamento
sexual entre as pessoas. Assim, tecnicamente falando, o simples fato de
se encontrarem duas pessoas, uma casada e outra que não é seu cônjuge,
nus em uma mesma cama não significa que tenham adulterado, a não ser que
haja prova de que mantiveram relacionamento sexual.
OBS: Por este motivo, embora o adultério
seja motivo para o divórcio, é raramente invocado como causa para um
pedido judicial de divórcio, diante da dificuldade de se ter a prova da
manutenção do relacionamento íntimo, preferindo as pessoas a figura
prevista em lei da “injúria grave” (art.1573, III CC), que é toda e
qualquer conduta de desrespeito, de afronta ao outro cônjuge, inclusive
no aspecto moral, que dispensa a prova do relacionamento íntimo.
- Tal compreensão do adultério,
entretanto, não abarcava todo o significado desta conduta. Não se
tratava de reduzir a figura ao aspecto meramente físico, genital, mas o
princípio divino exigia uma exclusividade de complementaridade, algo
muito mais profundo.
- Por isso, no sermão do monte, o Senhor
Jesus deu o verdadeiro alcance do princípio divino, ao estabelecer que
há adultério sempre que alguém, mesmo em seu interior, em sua mente, já
cobiça alguém que não é seu cônjuge, por nesta pessoa posto a sua
atenção (Mt.5:28).
- Não se tratou de inovação alguma do
Senhor Jesus, mas de retorno ao princípio. Jó, cujo testemunho de homem
sincero, reto, temente a Deus e que se desviava do mal era dado pelo
próprio Deus (Jó 1:8; 2:3), mostra bem isso, ao dizer que havia feito um
concerto com seus olhos para jamais fixá-los em uma virgem (Jó 31:1) e é
este comportamento do patriarca que nos faz entender como, mesmo
hostilizado por sua própria mulher, Jó não a tenha abandonado apesar de
tudo quanto estava a passar (Jó 2:9,10).
- Salomão, também, quando fala sobre
este assunto no livro de Provérbios, mostra, com absoluta clareza, que o
segredo para se evitar o adultério é, precisamente, o de não dar lugar
em seu cotidiano à “mulher estranha”, que sempre busca, através das
sensações, conquistar as suas vítimas, consideradas pelo sábio como
sendo pessoas faltas de juízo (Pv.7:7-23).
- Deste modo, tem-se como adultério toda
e qualquer conduta de uma pessoa casada que intente se complementar,
manter uma unidade, física, espiritual e emotiva com quem não seja a
pessoa com quem se casou, independentemente de ter havido, ou não, a
conjunção carnal.
III – OS MALES TRAZIDOS PELO ADULTÉRIO
- O adultério, conforme
visto, portanto, trata-se de uma conduta de infidelidade, de quebra do
compromisso assumido diante de Deus e dos homens de se formar uma
unidade com o cônjuge.
- É evidente que uma prática desta causa
muitos males, que trasbordam o próprio relacionamento entre o marido e a
mulher, daí porque seja uma atitude cuja gravidade seja maior, ainda
que, à evidência, não estejamos aqui a considerar que se trate tal
conduta de um “pecado grave”, como muitos que, ao se falar em pecado,
logo pensam no adultério, como se houvesse “pecadão” e “pecadinho”.
- Todo pecado traz, como consequência, a
morte espiritual (Rm.6:23) e não têm direito à vida eterna tanto os
adúlteros, como, por exemplo, os mentirosos (Ap.21:8; 22:15). Assim, não
se deve entender que o adultério seja um pecado cujo tratamento deva
ser muito mais rigoroso do que a mentira, pois tanto um quanto o outro
excluem a pessoa da comunhão com Deus.
- Todavia, entende-se porque o adultério
seja tratado como um pecado de maior gravidade do que os demais, pois
ele não só afeta o relacionamento com Deus, mas também tem reflexos em
relação ao cônjuge, à família e à sociedade, sendo, pois, muito mais
visível o mal cometido.
- Não resta dúvida que a prática do
adultério, por primeiro, produz um abalo muito grande no relacionamento
conjugal, pois há uma quebra na confiança que é fundamental entre marido
e mulher, quebra esta que, em muitas vezes ocasiões, torna-se
irreversível, inviabilizando a própria continuidade da convivência, com a
destruição da família e de tudo o que isto representa.
- Ora, quando alguém gera tal quebra de
confiança junto àquele com quem se comprometeu a compartilhar a sua
existência, temos um mal que atinge o próprio adúltero, visto que a
quebra da confiança e da complementaridade representa a própria perda da
identidade daquela pessoa, que passara a viver em função do outro, que
construíra uma própria vida com o cônjuge, o que gerará mazelas que,
muitas vezes, também não terá qualquer possibilidade de se retornar.
- A própria Bíblia Sagrada mostra-nos,
com um exemplo, como fica manchada a própria imagem da pessoa perante a
sociedade por causa do adultério, uma “trinca” no vaso que prejudica não
só o restante de sua existência terrena mas até mesmo a sua imagem
perante a posteridade. Em I Rs.15:5, o historiador sagrado (que a
tradição judaica diz tratar-se de Jeremias), séculos depois, ao narrar o
reinado do bisneto de Davi, Abião (ou Abias), fez questão de dizer que
Davi fizera o que era reto aos olhos do Senhor, “senão só no negócio de
Urias, o heteu”, ou seja, o adultério seguido de homicídio praticado
pelo rei Davi ficou como u’a mancha na reputação do rei que, mesmo
séculos depois, isto ainda era lembrado para denegri-lo.
- Verdade é que, embora o adultério
autorize a dissolução do vínculo matrimonial (o que haveremos de estudar
na próxima lição), não se pode, somente por este fato, desistir-se da
reconciliação entre os cônjuges por causa desta prática, ainda que se
saiba que a quebra de confiança é de difícil superação. O próprio Código
de Hamurábi, como visto supra, abria já a possibilidade do perdão do
cônjuge traído, algo que deve ser sempre buscado e que deve compor as
características de quem cristão se diz ser, visto que precisamos perdoar
para que alcancemos o perdão divino (Mt.6:12,15).
- Mas, além dos males provocados no
relacionamento conjugal, o adultério traz uma péssima imagem em relação
aos filhos. Com efeito, o pai ou mãe destroem, com o adultério, a imagem
de confiabilidade que é fundamental no relacionamento entre pais e
filhos, sem dizer que o adultério, ao quebrar o relacionamento entre os
cônjuges, põe os filhos numa situação delicadíssima, visto que, ante a
ruptura da unidade entre os pais, terão eles, muitas vezes, de tomar
partido, o que é algo traumático e que causa perturbações e sequelas
que, não poucas vezes, perdurarão pelo restante da vida dos filhos.
- Aqui, também, temos, como exemplo
bíblico, o que se passou na família de Davi após a prática do adultério
com Bateseba e do homicídio de Urias. A partir desta circunstância, a
vida familiar de Davi sempre foi extremamente tumultuada, a ponto de,
até mesmo no ocaso da vida, ter o rei de enfrentar a disputa entre os
filhos (Adonias e Salomão), como subproduto da falta de confiabilidade
gerada pelo seu gesto impensado.
- O adultério, entretanto, por fulminar o
relacionamento familiar, faz com que se tenha uma repercussão social,
que também traz graves consequências ao adúltero. O esfacelamento da
família faz com que a imagem do responsável por tal destruição se veja
arranhada em toda a sociedade. A quebra do compromisso solene com o
cônjuge dá ao adúltero uma justa imagem de pessoa indigna de confiança
em todos os que o cercam, fazendo com que seja considerada uma pessoa
desacreditada, não confiável. Esta circunstância explica porque o
adultério era punido com a morte na lei de Moisés (Lv.20:10), pois se
entendia que a convivência desta pessoa em sociedade, a partir de seu
ato, era impossível, impraticável.
- Em termos de igreja, então, o
adultério tem um efeito devastador, pois seu praticante é um nítido
instrumento de escândalo e, como tal, sujeito a um rigoroso e duro juízo
da parte de Deus (Mt.18:6,7), máxime se se tratar de pessoa que tenha
proeminência na igreja local. Já na antiga aliança, o Senhor mostrou
todo o duro tratamento para com os sacerdotes que eram desleais para com
a mulher da sua mocidade (Ml.3:12-16). Se isto ocorreu quando havia a
permissão do divórcio na lei mosaica, que podemos dizer do período da
igreja, onde tal permissão se reduziu drasticamente, visto que Jesus
restaurou o princípio divino do matrimônio?
- Recuperar a credibilidade perdida
diante do cônjuge, dos filhos, da igreja local e da sociedade é, sem
dúvida, algo muito difícil de ocorrer e que deixará marcas que jamais
serão esquecidas por todos os envolvidos. Trata-se, pois, de uma conduta
altamente destruidora da reputação e da própria identidade do adúltero,
de sorte que se deve sempre evitar tal conduta. Não é por outro motivo
que o sábio Salomão diz que quem assim age, destrói a sua própria alma
(Pv.6:32).
- A tolerância e o estímulo ao adultério
em uma dada sociedade é um sinal eloquente da perversão vigente no
ambiente social, é uma evidência do aspecto doentio da sociedade, do
esgarçamento dos laços de convivência e de confiança entre as pessoas,
um forte indício do esfacelamento da sociedade. Por isso, em Israel, o
reino do norte, em seus últimos dias, havia uma prevalência do adultério
na sociedade (Os.4:2).
- O Senhor Jesus disse que, nos dias imediatamente anteriores ao
arrebatamento da Igreja, viveríamos “os dias de Noé” (Mt.24:38,39), dias
caracterizados pela banalização do casamento, onde o adultério era uma
prática normal, haja vista que as uniões eram feitas com base na atração
física (Gn.6:1,2) e, como tal, fugazes por natureza.
- São estes os dias em que estamos a
viver. O adultério é estimulado pela mídia (basta ver os enredos de
todas as telenovelas, onde esta prática está sempre presente e é vendida
aos telespectadores como algo bom, elogiável e prazeroso) e as próprias
legislações estão, há décadas, trazendo cada vez mais incentivos a esta
prática, reduzindo todos os efeitos negativos a ela associadas. No
Brasil, mesmo, depois da descriminalização do adultério em 2005, já há
até uma proposta de lei (o famigerado “Estatuto das Famílias”- PL
2285/2007, em trâmite na Câmara dos Deputados) em que se está a querer
dar direito de alimentos a “amantes”. Tudo isto é demonstração de quanto
afastados estamos da Palavra de Deus, de quanto nossa sociedade caminha
para seu completo esfacelamento.
OBS: Reproduzimos aqui o artigo 64,
parágrafo único do Estatuto das Famílias que concede alimentos a
“amantes”: “Art. 64…. Parágrafo único. A união formada em desacordo aos
impedimentos legais não exclui os deveres de assistência e a partilha de
bens.”. Como se verifica, qualquer “união” feita em adultério garantirá
ao comparsa do adultério direito a alimentos e a bens. Que absurdo!
COMO EVITAR O ADULTÉRIO
- Visto o que é o adultério, como
podemos evitar que tal prática, cada vez mais costumeira e estimulada em
nossa sociedade pervertida?
- Por primeiro, devemos impedir que esta
apologia, estímulo e incentivo ao adultério ingresse na intimidade do
nosso lar. Lamentavelmente, nos dias hodiernos, a esmagadora maioria dos
que cristãos se dizem ser são assíduos acompanhantes dos capítulos das
telenovelas que, como já dissemos, são os principais veículos de
incentivo e estímulo à prática do adultério, pois promovem uma
verdadeira “engenharia social” com a finalidade de mudar os hábitos e
valores da família brasileira (recomendamos, neste passo, que se assista
a vídeo que trata do assunto, apresentado pelo Padre Paulo Ricardo de
Azevedo Júnior – A engenharia social e as novelas. Disponível em:
http://padrepauloricardo.org/episodios/as-novelas-e-a-engenharia-social
Acesso em 07 mar. 2013).
- Deve-se, portanto, fazer-se um rígido controle sobre o conteúdo de mídia que adentra nos nossos lares, que tenham nossos familiares contato, a fim de que não haja uma “lavagem cerebral” que faça com que seja considerado “normal” e “tolerável” a prática do adultério.
- Deve-se, portanto, fazer-se um rígido controle sobre o conteúdo de mídia que adentra nos nossos lares, que tenham nossos familiares contato, a fim de que não haja uma “lavagem cerebral” que faça com que seja considerado “normal” e “tolerável” a prática do adultério.
- À evidência, tem-se que não basta
apenas que se tenha este conteúdo negativo, de se impedir que haja a
“doutrinação maligna da mídia” na formação dos valores entre nossos
familiares, mas que, ao lado disto, se tenha um conteúdo positivo, que é
o ensino da Palavra de Deus, a fim de que saibam todos os familiares
qual é a vontade de Deus com relação ao casamento e à família.
- Por segundo, é imperioso que se adote a
mesma conduta do patriarca Jó, ou seja, que haja um concerto com os
olhos de cada cônjuge para que não se atente nem se cobice terceira
pessoa. A santificação dos olhos é fundamental para que não se ingresse
num processo que culminará na prática do adultério.
- O Senhor Jesus foi claríssimo ao
mostrar que todo adultério começa no olhar impudico, no olhar impuro,
devendo, pois, todo cristão casado vigiar para que os seus olhos, que
são candeia do corpo, não se tornem em razão para ingresso em densas
trevas (Mt.6:22,23).
- Neste ponto, aliás, vemos quão
indispensável é que os cônjuges não se deixem vencer pela pornografia,
este terrível mal que tem dilacerado e destruído muitas famílias em
nossos dias. Com o avanço da telemática, a pornografia está hoje
extremamente acessível e seu efeito deletério sobre a pureza sexual das
pessoas é algo evidente. Dezenas e dezenas de milhões de pessoas estão
atualmente dominadas pela pornografia e o adultério tem, nesta ação
maligna, uma de suas principais fontes nos dias de hoje.
- É importante, aliás, verificar que o chamado “sexo virtual”, outra
das ferramentas extremamente nocivas da internet, é, sim, adultério,
quando praticado por quem é casado com uma terceira pessoa. Aliás,
trata-se de prática que, lamentavelmente, tem se repetido cada vez mais
entre pessoas que cristãs se dizem ser.
- Mas não é somente fazendo concerto com
os olhos que se conseguirá evitar o adultério. Torna-se, também,
fundamental que os cônjuges realmente assumam o compromisso de
compartilharem a sua vida, de serem uma unidade.
- Nos dias hodiernos, é cada vez mais
frequente que os cônjuges somente se encontrem no final do dia e travem
algumas poucas palavras, não convivam no sentido exato da palavra, mas
estejam solitários, ainda que sob o mesmo teto. Por trabalharem ambos,
resta pouquíssimo tempo de real convivência, o que ainda se agrava com
relação aos cônjuges cristãos que têm uma vida ativa nas igrejas locais
que frequentam.
- Esta convivência entre marido e mulher
precisa realmente existir, é absolutamente necessário que marido e
mulher compartilhem todas as experiências, tenham no cônjuge o seu
confidente, o seu amparo afetivo, o seu conselheiro, aquele com quem
tenham intimidade e transparência. Tirante os assuntos espirituais
particulares e peculiares, pois a maior intimidade de um cristão sempre
será com Deus, tudo o demais deve ser compartilhado com o cônjuge, pois é
ele quem é sua “cara metade”, é ele quem nos complementa em nossa vida
debaixo do sol.
- A intensa vida cotidiana e a falta de
tempo para compartilhamento entre os cônjuges da vida de cada qual, que
deve ser sempre uma vida em comum, tem levado muitos casados a
“adotarem” confidentes, companheiros de jornada e aconselhadores com
pessoas outras que não seus cônjuges, o que já em si o início de uma
vida adulterina, já que passam a ter como complementos de afetividade,
como correspondentes, como parceiros de caminhada pessoas que não são
seus cônjuges.
- Como temos dito ao longo do trimestre,
a sexualidade não envolve tão somente a genitalidade, mas a própria
ideia de complementação. Se “adotamos” alguém com quem compartilhar
nossas ansiedades, sentimentos, emoções, frustrações, este alguém estará
a ocupar o lugar que é exclusivo do nosso cônjuge e o resultado disto
será a criação de vínculos que levarão, mais cedo ou mais tarde, ao
adultério propriamente dito.
- As Escrituras bem demonstram esta
realidade quando o apóstolo Paulo demonstra a necessidade de que haja um
relacionamento íntimo e constante entre marido e mulher para que não
venham eles a se prostituir por causa da incontinência (I Co.7:5),
estabelecendo, quanto a isto, inclusive uma parcimônia de abstinência
sexual, movida por dedicação à oração, a nos mostrar que mesmo nosso
relacionamento com o Senhor deva ser devidamente equacionado para não
dar vazão a uma circunstância que facilite o adultério.
- Vê-se que a falta de compartilhamento
de vida entre marido e mulher lançam os cônjuges a uma situação de
solidão que é a própria negação da razão de ser da formação da família e
do casamento e, ante a própria natureza gregária do ser humano, tal
circunstância de solidão leva o cônjuge a uma nítida tendência natural a
busca de um companheirismo com alguém que não será o seu cônjuge, o que
é nada mais, nada menos que adultério.
- Eis porque não podem ser admitidas
certas variações da vida conjugal, verdadeiras “invenções” (Ec.7:29) que
se têm criado ao longo dos anos, como casamentos em que os cônjuges
apenas se encontram periodicamente, mantendo cada qual seu domicílio e
residência próprios, situações que estão ao arrepio do princípio bíblico
e que apenas propiciarão ambientes propícios para a prática do
adultério.
- Este compartilhamento de vida com o
cônjuge leva ao ponto que o nosso comentarista denominou de “apreciação
do cônjuge”, ou seja, é preciso que o cônjuge seja devidamente
valorizado, seja visto como a única e exclusiva pessoa com quem podemos
nos complementar e, portanto, a única pessoa em função de quem deveremos
viver a partir do casamento sobre a face da Terra.
- Nosso cônjuge é nossa “cara metade”,
ou seja, é a pessoa com quem nos completamos, com quem formamos uma
unidade, aquele complemento sem o qual não poderemos realizar a vontade
de Deus em nossas vidas. É preciso termos consciência desta realidade
para evitarmos criar circunstâncias que facilitem o adultério.
- Quando sobrepomos qualquer outra coisa
acima de nosso cônjuge, tais como o trabalho, a igreja ou, mesmo, os
filhos, estamos nos afastando do melo bíblico e criando uma situação de
“adultério” que poderá não só nos levar a preencher este vazio com uma
outra pessoa, como também levar nosso cônjuge a buscar alguém para
suprir-lhe esta lacuna.
- A situação é tão séria que o apóstolo
Paulo mostra a indispensabilidade desta valorização do cônjuge quando
fala que o casado não pode dedicar-se às coisas do Senhor senão depois
de ter devidamente satisfeito o seu cônjuge (I Co.7:32-34). Embora
devamos amar a Deus sobre todas as coisas, no cotidiano de nossa vida
terrena, temos de dar prioridade a cuidar do cônjuge para só então
cuidarmos das coisas referentes ao Senhor.
- É evidente que, quando o apóstolo
Paulo está a tratar aqui das “coisas do Senhor” e das “coisas do mundo”,
não está se referindo a uma possibilidade de pecarmos tão somente para
agradarmos nosso cônjuge. A salvação é individual e não se pode abrir
mão da comunhão com o Senhor por causa do casamento, como haveremos de
discutir na próxima lição. Não obstante, em não se tratando de questão
relativa a pecado, tudo o mais que agrade ao cônjuge deve ser levado em
consideração precipuamente.
- Ora, se até as coisas atinentes ao
Senhor devem ser sopesadas com o agrado do cônjuge, como podemos admitir
que coisas outras, puramente terrenas, possam sobrepujar em valor a
nosso cônjuge? Quando deixamos de dar o devido valor ao nosso cônjuge,
estamos, sim, criando condições para que se desenvolva um clima que seja
favorável ao adultério.
- Por fim, ante estas condutas que devem
ser tomadas a fim de que não se tenha a prática do adultério, bem
percebemos que não é tão simples assim, como muitos querem crer, culpar
unilateralmente qualquer dos cônjuges quando se tem a ocorrência do
adultério em uma família.
- Não é simplesmente dizer que o único
culpado pela ocorrência da infidelidade conjugal é aquele que foi
apanhado em contato sexual com um terceiro que não é seu cônjuge. Além
do contato sexual em si, há de se perquirir porque aquele cônjuge chegou
a essa situação. Terá sido deixado solitário pelo cônjuge, que não lhe
deu o devido valor, que já está a ter um compartilhamento de vida com
terceira pessoa? Evidentemente que isto não justifica nem absolve aquele
que pecou contra o seu próprio corpo, mas não podemos simplesmente
considerá-lo como o único culpado sem bem avaliar o caso concreto, até
porque uma das características do justo é sempre bem investigar o que
ocorre (Sl.10:4).
- De tudo o que se disse, tem-se que a
observância do modelo bíblico da família, a instituição de uma vida
familiar de acordo com as Escrituras Sagradas se constitui na maior
garantia para que afugentemos a possibilidade do adultério em nosso
relacionamento conjugal. Quando somos fiéis à Palavra de Deus, quando
obedecemos ao que estatui a Bíblia, não há como criarmos brechas e
embaraços que podemos nos levar ao adultério e à destruição de nossas
famílias. Obedeçamos ao Senhor e Ele nos livrará de qualquer
infidelidade conjugal.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: PortalEBD
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