Igreja Evangélica Assembleia - Recife / PE
Superintendência
das Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor
Presidente: Aílton José Alves
Av. Cruz
Cabugá, 29 – Santo Amaro – CEP. 50040 – 000.
Fone: 3084 1524
(Tg 1.19-27)
INTRODUÇÃO
Estudaremos nesta
lição o ensino do apóstolo Tiago sobre os perigos da falta de controle no uso
da língua; veremos também que devemos ter o máximo de cuidado com nosso
temperamento para não dar ocasião ao diabo inflamar uma ira excessiva em nosso
coração; e por fim, concluiremos analisando que a verdadeira religião consiste
não só em palavras, mais também em ação fraternal.
I – DEFINIÇÃO DA PALAVRA LÍNGUA
A língua é um órgão do corpo humano, cuja função principal
está relacionada a fala. É em face dessa atribuição que esse membro do corpo
aparece na Bíblia como uma poderosa força. Afirma-se que a morte e a vida estão no seu poder (Pv 18.21).
Tiago elabora isso quando se refere à língua como indomável e um mal incontido,
cheio de veneno mortal (Tg 3.8) e como fogo, um mundo de iniquidade (Tg 3.6).
Paulo, por sua vez, refere-se à língua como um instrumento de engano (Rm 3.13),
caracterizando o homem não regenerado. Jesus ensinou que os homens terão de
prestar contas, finalmente, de sua vida na terra, incluindo “toda palavra
frívola que proferirem” (Mt. 12.36). (MERRILL, sd,
Vol. 3. p. 933).
II – ANALISANDO
O TEXTO DE TIAGO: O CUIDADO AO FALAR
A sabedoria nem sempre consiste em
ter algo a dizer. Ela envolve o ouvir cuidadosamente, o refletir piedosamente,
e o falar mansamente, pois quando falamos demais é porque ouvimos pouco.
Pessoas que falam muito tendem a errar muito e Tiago nos adverte sabiamente
para revertermos este processo. Vejamos:
2.1 “Portanto, meus amados irmãos, todo o homem
SEJA PRONTO PARA OUVIR...” Tg 1.19-a. A expressão “seja pronto para ouvir”
é uma bela maneira de traduzir a ideia de uma audição sábia e ativa. Não
devemos simplesmente deixar de falar; devemos estar prontos e dispostos mais
para ouvir. Deus não nos impede de falar, mas pede que o façamos de forma
coerente e com sabedoria. “o que guarda sua boca conserva a sua alma, mas
o que muito abre os lábios tem perturbação” (Pv 13.3). Já diz o adágio popular: “Temos dois ouvidos mas somente uma boca,
assim podemos ouvir mais e falar menos”. Portanto,
devemos ouvir duas vezes mais do que falar. Muitos de nós bem faríamos
em esperar e ouvir mais, e falar menos (Sl 141.3; Pv 10.19; Pv 13.3; Pv 17.28;
Pv 29.20) (BARCLAY, sd, p. 66). Quanto ao uso
da fala e o uso apropriado da linguagem, podemos ver nos seguintes Salmos (Sl
5.9; 12.2; 15.3; 17.3; 34.12; 35.28; 36.3; 39.9; 55.21; 64.4; 66.17; 73.9;
94.1; 101.5; 109.2; 119.172; 120.3,4; 139.4 e 141.3). O filósofo grego Xenócrates que viveu em 396
– 314 a.C e que acompanhou Platão dizia: “Tenho-me arrependido muitas
vezes por ter falado, mas nunca por ter guardado silêncio” (CHAMPLIN,
2004, p. 2501).
2.2
“...tardio para FALAR, tardio para se IRAR” Tg 1.19-b. O conselho de Tiago é que também deveríamos ser tardios para nos
irarmos. Há uma conexão íntima entre o ouvir e o falar; também entre o falar e a
ira. Aquele que ouve mais atentamente entende melhor o seu próximo; entender
leva a um falar ponderado e a uma resposta branda que “desvia o furor” O falar
impensado, por outro lado, com frequência produz a palavra pesada que “suscita
a ira” (Pv 15.1). A ira é um profundo sentimento de ódio e rancor
contra a outra pessoa. Uma vez descontrolada, ela não produz a justiça de Deus,
mas uma justiça segundo o critério da pessoa que sofreu o dano: a vingança.
Vejamos algumas verdades sobre este tema:
2.2.1 Podemos
dizer que há dois tipos de ira: a justa (Ef 4.26) e a injusta (Ef 4.31). “A
única ira que o homem pode ter é uma ira que Cristo sentiu” (Mc 3.5). Esse tipo
de ira não é a expressão de uma petulância particular, mas de um ressentimento
público contra o comportamento e as ações que levam outros a sofrer sem culpa
da pessoa irada” (HARPER, 2008, Vol. 10. pp. 161-162). Em Efésios 4.26 o
apóstolo Paulo também instrui sobre a ira que é dada no contexto de uma citação
literal do Sl 4.4-a: “Perturbai-vos e não pequeis...” Com essas
palavras Paulo lembra, em tom de exortação, a rápida transição da ira para o
pecado.
2.2.2 A Bíblia
não diz que não devemos nos irar, mas ela mostra que é importante controlarmos
adequadamente este sentimento: “irai-vos e NÃO pequeis; NÃO se ponha o
sol sobre a vossa ira. NÃO deis lugar ao diabo” (Ef 4.26,27). É
interessante notarmos que Paulo qualifica sua expressão permissiva ao sentirmos
ira com três advérbios negativos, a saber: Irar sem pecar; não conservar
a ira no coração e não dar lugar ao Diabo. De acordo com o livro de
Deuteronômio, o pôr-do-sol é a hora em que todo o mal contra Deus e contra os
outros deve ser corrigido (Dt 24.13,15). Não devemos ceder aos nossos
sentimentos de ira ou permitir que eles nos levem ao ódio. Jesus Cristo
enfureceu-se com os mercadores no Templo, mas esta era uma ira justa, e por
isso, não o levou a pecar (Mt 21.12,13; Mc 11.15,16; Lc 19.45-48).
2.3 “Porque a ira do HOMEM não opera a
justiça de DEUS” Tg 1.20. Esses dois elementos citados “ira do homem e justiça de
Deus” estão extremamente distantes um do outro. A ira do homem pode ser justa
aos seus próprios olhos, mas isso não significa que ela é justa aos olhos de
Deus. E um momento de indignação pode colocar muitas coisas a perder na vida de
um cristão além de não garantir a bênção de Deus.
2.3.1 Deus não se deixa levar pela raiva humana, ainda
que essa aparente ser lícita ou justa. E se a ira humana fosse o referencial para que Deus agisse, não
faltaria julgamento divino para todas as pessoas (COELHO; DANIEL, 2014, pp.
61-62). A ira fecha as nossas mentes à verdade de Deus (2Rs 5.11; Pv 10.19;
13.3; 17.28; 29.20). É a ira que explode quando os nossos egos estão
inflamados. Quando a injustiça e o pecado acontecem, é até normal que fiquemos
irados, mas não devemos nos irar quando deixamos de “ganhar” uma discussão, ou
quando nos sentimos ofendidos ou negligenciados. A ira egoísta nunca ajuda
ninguém (Ec 7.9; Mt 5.21-26; Ef 4.26).
2.4 “Por isso, rejeitando toda a
imundícia e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós
enxertada, a qual pode salvar as vossas almas” Tg 1.21. Tiago convida a seus leitores a desprender-se de
todo vicio e imundície. A palavra traduzida como “despojando-vos” é a
mesma que literalmente significa “despojar-se das roupas que se está usando”.
O apóstolo estimula a seus ouvintes para que se desprendam de toda imundície;
assim como a pessoa se desprende de suas roupas sujas. As duas palavras que
Tiago usa para significar imundície são vocábulos muito expressivos. A palavra
traduzida como imundície é “ruparia” e pode ser usada para
significar a sujeira que mancha as roupas ou a que mancha o corpo. Mas, além
disso, uma muito interessante particularidade. Trata-se de um derivado do
vocábulo “rupos” que, usado em sentido médico, significa “cera
no ouvido”. É possível que até aqui mantenha esse significado, de maneira
que o escritor sacro estaria dizendo a seus leitores que se despojem de tudo o
que possa enclausurar seus ouvidos à verdadeira Palavra de Deus (BARCLAY, sd,
p. 68 – grifo nosso).
2.5 “E sede cumpridores da palavra, e
não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos” Tg 1.22. Tiago argumenta que olhar para a Palavra de Deus e não agir
de acordo com o que está escrito, significa que encontramos nas Escrituras não tem significado para nós.
Se lemos e ouvimos a Palavra de Deus e não praticamos o que ela diz estamos
dizendo que o que Deus falou não tem importância alguma para nossas vidas. Não
pode haver incoerência entre o que se "diz" e o que se
"faz" para quem é discípulo de Jesus. Tiago nos desafia em seu
escrito a sermos praticantes da Palavra, e não apenas ouvintes. Primeiro
ouvimos o discurso e depois o praticamos. Não é razoável ler, estudar e ouvir a
Palavra de Deus se não temos o objetivo de seguir o que ela nos apresenta
(COELHO; DANIEL, 2014, pp. 64-65). O verdadeiro crente pratica a Palavra (Tg
1.22-25). Não basta ouvir ou ler a Palavra, é preciso praticá-la. Não
basta apenas o conhecimento da verdade, é necessário também a prática da
verdade. Muitos crentes marcam sua Bíblia, mas a Bíblia não os marca.
2.6 “Porque, se alguém é ouvinte da
palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu
rosto natural” Tg 1.23. A Palavra aqui é comparada não com a semente, mas com o espelho. O
principal propósito do espelho é o autoexame. Quando olhamos para dentro da
Palavra e compreendemos o que ela diz, conhecemos a nós mesmos: nossos pecados, nossas
necessidades, nossos deveres e suas recompensas. Ninguém olha no espelho e logo
vai embora sem fazer uma autoanálise. Quando olhamos no espelho, descobrimos
que tipo de pessoa somos e como estamos. Muitas pessoas leem a Bíblia todo dia,
mas não são lidas por ela, não a observam. Muitos leem por um desencargo de
consciência, mas não se afligem por não colocar sua mensagem em prática.
III – ANALISANDO O TEXTO DE TIAGO: A RELIGIÃO PURA
3.1
“A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os
órfãos e as viúvas nas suas tribulações...” Tg 1. 27-a. O cuidado pelos
órfãos e as viúvas é uma ordem do AT como uma forma de imitar o cuidado do
próprio Deus com estas pessoas, “pois ele é o pai dos órfãos e defensor
das viúvas” (Sl 68.5; Is 1.10-17). Já nas páginas do NT, Jesus
condenou de forma contundente os escribas e fariseus, que desrespeitavam as
viúvas e as exploravam financeiramente (Mt 23.14; Lc 20.47). Isso demonstra o
zelo e o cuidado que ele tinha por esta classe tão sofrida. A Bíblia nos mostra
que devemos honrar as verdadeiras viúvas (ITm 5.3; At 6.1). O
apóstolo Tiago nos informa que o cuidado com essas mulheres aparece na
definição do que vem a ser a verdadeira religião (Tg 1.27). Os cristãos que professam uma religião pura irão imitar seu
Pai, intervindo para ajudar os desamparados.
3.2 “...e guardar-se da corrupção do mundo” Tg
1. 27-b. Além de visitar órfãos e viúvas nas suas
necessidades, é preciso que nos resguardemos da corrupção do mundo. É possível
que uma pessoa corrupta faça atos de caridade em prol dos mais desassistidos.
No entanto, aqueles que têm uma religião pura e imaculada se guardarão da
corrupção do mundo. O guardar-se incontaminado do mundo significa evitar que
pensemos e ajamos de acordo com o sistema de valores da sociedade que nos
cerca.
CONCLUSÃO
Nessa
lição aprendemos sobre o cuidado que devemos ter com o ouvir e o falar.
Estudamos também acerca da religião pura e imaculada que alegra a Deus: visitar
os órfãos e as viúvas nas tribulações e guardarmo-nos da corrupção do mundo.
Que os nossos ouvidos estejam prontos para ouvir, a nossa língua para falar
sabiamente e a nossa vida para praticar tudo quanto aprendemos do Evangelho.
Embora estejamos em um mundo turbulento, devemos exalar o bom perfume de Cristo
por onde quer que andemos (2Co 2.15).
REFERÊNCIAS
COELHO, A; DANIEL, S.Fé e Obras: Ensinos
de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. CPAD.
CHAMPLIN, R. N. Antigo Testamento
Interpretado versículo por versículo. Hagnos.
BARCLAY, W. Comentário Biblico de Tiago. PDF
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal. CPAD.
TENNE, C. M. Enciclopédia da Bíblia.
Editora Cultura Cristã.
HARPER, A. F. Comentário Bíblico Beacon.
Tiago. Vol. 10. CPAD.
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