Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Recife / PE
Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor Presidente: Aílton José Alves
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(Tg 2.14-26)
INTRODUÇÃO
Em Tiago 2.14-26 vemos o apóstolo chamando a atenção dos cristãos quanto a práticas das boas obras como demonstração da fé que professavam ter em Cristo. Tiago é enfático ao asseverar que a fé sem as obras é morta. Na verdade a exortação quanto a prática da fé não é apenas um ensinamento peculiar do apóstolo, mas que faz parte do Novo Testamento e é perfeitamente aplicável a todo e qualquer servo de Deus.
I – DEFINIÇÕES
1.1 Fé. A palavra fé no hebraico é “heemim” e no grego é “pisteuõ”. A Bíblia diz que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem” (Hb 11.1). “É a confiança que depositamos em todas as providências de Deus. É a crença de que Ele está no comando de tudo, e que é capaz de manter as leis que estabeleceu. É a convicção de que a sua Palavra é a verdade. Enfim, é a tranquilidade que depositamos no plano de salvação por Deus estabelecido, e executado por seu Filho no Calvário” (ANDRADE, 2006, p. 188).
1.2 Obras. A palavra obra no grego “ergon” denota “trabalho, ação, ato”. Ocorre frequentemente indicando as ações humanas, boas ou ruins (Mt 23.3; 26.10; Jo 3.20,21; Rm 2.7,15; I Ts 1.3; 2 Ts 1.11). Pode-se dizer que as obras de que Tiago se refere é “tudo quando se faz, pela fé, visando a expansão do Reino de Deus. É a maior evidência de uma fé viva e eficaz. Pelas obras atesta-se a qualidade da fé” (ANDRADE, 2006, p. 282).
II – FÉ E OBRAS NA PERSPECTIVA DE TIAGO E DE PAULO
A passagem de Tiago 2.14-26 é a mais conhecida e mais debatida da epístola. Estes versículos, mais do que quaisquer outros, levaram Martinho Lutero (século XVI), a descrever este livro como “uma epístola que não passa de palha” por não mencionar a justificação pela fé mas pelas obras. A maior das dificuldades na interpretação surgiram por não se entender que Tiago não estava refutando a doutrina paulina da justificação pela fé, mas antes uma distorção dela o que Paulo também o fez (Rm 6.1,2). Na verdade, o que Paulo rejeita são obras sem fé (Gl 2.16); o que Tiago rejeita é a fé sem obras (Tg 2.14); Paulo nega a eficácia das obras antes da conversão (Ef 2.9); Tiago apela à necessidade das obras depois da conversão (Tg 2.18); Paulo declara como alguém é justificado (Rm 8.33); Tiago enfatiza como alguém deve viver depois de justificado (Tg 2.15-17); Paulo confirma a declaração por Deus da nossa retidão (Rm 5.1); Tiago fala da demonstração da nossa retidão (Tg 2.22); Abraão foi justificado porque creu em Deus (Rm 4.3); Abraão foi justificado porque obedeceu a Deus (Tg 2.21-24).
III – O ENSINO DO NT SOBRE AS OBRAS COMO EVIDÊNCIA DA FÉ
Tiago falou que nascemos da Palavra (Tg 1.18), ouvimos a Palavra (Tg 1.19), acolhemos a Palavra (Tg 1.21), mas devemos também praticar a Palavra (Tg 1.23). Ouvir a Palavra e falar a Palavra não substitui o praticar a Palavra. “O fato é que ninguém pode ser salvo mediante as obras, mas tampouco ninguém pode ser salvo sem produzir obras” (BARCLAY, sd, p. 87). A ênfase de Tiago sobre as obras que devem acompanhar a fé, tem a mesma característica de todo o ensino do Novo Testamento. Abaixo destacaremos alguns exemplos:
EXEMPLOS BÍBLICOS
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O QUE ENSINAVAM
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João Batista
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Foi levantado por Deus para preparar o caminho do Senhor, chamando os homens ao arrependimento e exigindo deles frutos dignos disso (Mt 3.8). Confira também (Lc 3.11-14)
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Jesus Cristo
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Conclamou os seus seguidores a praticarem a justiça que os escribas e fariseus não observavam (Mt 5.20); Segundo Jesus, proceder conforme a justiça glorifica o Pai (Mt 5.16).
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Paulo
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Embora ensinou que os homens são justificados diante de Deus pela fé, Paulo exortou também que aqueles que estão em Cristo são novas criaturas (II Co 5.17), não devem mais andar segundo a carne (Rm 8.1), mas na prática das boas obras que Deus preparou para que praticássemos (Ef 2.10; Tt 2.14);
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Pedro
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Nas palavras do apóstolo Pedro, aqueles que se dirigem a Deus como Pai, devem andar em santidade e temor durante o período em que estiverem aqui na terra (I Pe 1.17);
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João
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Seguindo a mesma linha de exortação dos demais apóstolos, João também é contundente ao afirmar que “aquele que diz estar nele deve andar como ele andou” (I Jo 2.6).
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IV – OS CINCO TIPOS DE FÉ SEGUNDO O APÓSTOLO TIAGO
TIPOS DE FÉ
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DEFINIÇÃO
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Fé fingida
(Tg 2.14)
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Pela exortação de Tiago, percebemos que nos seus dias haviam pessoas que se diziam cristãs “se alguém disser que tem fé”, no entanto, suas atitudes diziam o contrário (Tg 2.20). O apóstolo é contundente ao afirmar que se tal pessoa diz ter fé, mas não a demonstra através do seu comportamento, tal fé é fingida e insuficiente para salvar “porventura a fé pode salvá-lo?”.
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Fé morta
(Tg 2.17)
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Para o apóstolo, ter fé e não ter obras, é possuir uma fé morta. A expressão “morta” usada por Tiago no grego é “nekrós” adjetivo de “nekys”, que quer dizer um cadáver. Por isso para ilustrar esta verdade, o apóstolo faz uma comparação com um corpo sem espírito (Tg 2.26).
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Fé incompleta
(Tg 2.19)
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A crença na unicidade de Deus (que Deus é um só) era artigo fundamental do credo dos judeus (Dt 6). Tiago assegura que tal crença é boa. No entanto, somente a fé não é suficiente, pois sem as obras ela é incompleta (Tg 2.17-20). Este tipo de fé até os demônios possuem. A Bíblia diz que eles creem na unicidade de Deus (Tg 2.19); também acreditam na divindade de Cristo (Mc 3.11,12). Uma fé meramente intelectual e emocional põe o indivíduo no patamar dos demônios.
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Fé provada
(Tg 1.3)
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A fé de um salvo passa por testes a fim comprovar sua legitimidade (Tg 1.3). Assim como o patriarca Abraão creu em Deus, mas quando provado confirmou a sua fé na obediência total ao Senhor (Tg 2.21-24). O salvo não deve se alegrar com a tribulação mas com o que ela produz.
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Fé aperfeiçoada
(Tg 2.22)
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Na concepção do apóstolo é a fé que se evidencia com boas obras em relação a Deus e no serviço ao próximo (Tg 2.14-26). A fé, somente Deus vê que o ser humano a possui, mas as obras são a parte visível da fé que pode ser contemplada pelos homens.
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V – A RESPONSABILIDADE DO CRENTE NO CUIDADO COM OS POBRES E NECESSITADOS
Do ponto de vista de Tiago o cristianismo autêntico é aquele que se mostra, na prática, pela perseverança nas tribulações (Tg 1.3-20), pela obediência a Palavra em vez de meramente ouvir (Tg 1.21-25), pelo controle da língua (Tg 1.26), pelo amor de Deus ao próximo (Tg 1.27), pelo exercício da misericórdia para com todos, especialmente para com os necessitados (Tg 2.1-13). Em Tiago 2.14-26 ele nos fala sobre a fé sem as obras. O fato do apóstolo mencionar como ilustração desse assunto o despedir somente com palavras as pessoas carentes de roupa e comida, indica claramente que, ele ainda não terminou de lidar com a questão do desprezo pelos pobres (Tg 2.15,16). Nos ensinos de Tiago, vemos as seguintes observações quanto aos pobres: a) eles não deviam se achar inferior aos ricos (Tg 1.9); (b) não deveriam sofrer acepção (Tg 2.1-9); e, c) deveriam ser assistidos em suas necessidades (Tg 1.27; 2.15-17). Quanto a prática da benevolência com os carentes, Tiago deu as seguintes exortações:
5.1 Exortação a assistência aos órfãos e viúvas (Tg 1.27). Nos dias do NT, os órfãos e as viúvas tinham poucos meios de auto sustento; em muitos casos, não tinham ninguém para cuidar deles. Esperava-se da parte dos crentes que lhes demonstrassem o devido cuidado. Devemos procurar aliviar suas aflições e sofrimentos (Lc 7.13; Gl 6.10). “O termo visitar usado pelo apóstolo em Tiago 1.27 no grego “episkeptomai” indica mais que uma mera visita. Também indica a manifestação de simpatia e as dádivas para aliviar as necessidades” (CHAMPLIN, 2005, p. 33).
5.2 Exortação a caridade para com os pobres (Tg 2.15-17). Nos referidos versículos Tiago cita agora um outro exemplo: o “mal vestido e o faminto” que provavelmente alude a um irmão ou irmã, isto é, um membro da comunidade cristã que também pode passar por privações, mas que aquele que diz que “crê em Deus” deve socorrer estes irmãos necessitados não apenas orando por eles, mas agindo suprindo-lhes as devidas necessidades (Tg 2.15,16). Do contrário a fé que professa é inoperante e morta (Tg 2.19,20).
5.3 Exortação a prática da hospitalidade (Tg 2.25,26). Quando Tiago cita o exemplo de Raabe, a mulher prostituta de Jericó que acolheu em paz os espias. O apóstolo Tiago e o escritor aos hebreus citam-na como um exemplo de hospitalidade (Tg 2.25; Hb 11.31). O Aurélio diz que a palavra hospitaleiro “é a pessoa que dá hospedagem por bondade ou caridade”. O escritor estimula os cristãos a serem hospitaleiros sob a advertência de que “por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hb 13.2). Confira também (Rm 12.13; I Tm 5.10; Tt 1.7,8).
CONCLUSÃO
Como pudemos ver, a fé cristã não é estática, mas prática. Aqueles que professam ser cristãos são exortados pelo apóstolo Tiago a atestarem a sua fé em obediência total ao Senhor e no serviço ao próximo. Pois, a fé que não se preocupa, através de participação ativa, com as necessidades dos outros não é fé nenhuma.
REFERÊNCIAS
· STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
· BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento. PDF.
MOODY, D. L. Comentário Biblico de Tiago. PDF.Fonte: http://portal.rbc1.com.br/licoes-biblicas/baixar-licao/cod/334
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