Texto áureo
“E bem-aventurado aquele que em Mim se não escandalizar” (Lc.7:23)
INTRODUÇÃO
- Em complemento ao estudo do trimestre, faremos uma breve análise das bem-aventuranças em o Novo Testamento, excluídas as bem-aventuranças do sermão do monte e do sermão da planície, analisadas na lição 6, como também as bem-aventuranças do livro do Apocalipse, analisadas na lição 4.
- Assim como no Antigo Testamento, a ideia de bem-aventurança em o Novo Testamento é de cunho espiritual.
I – AS BEM-AVENTURANÇAS NOS EVANGELHOS, COM EXCEÇÃO DOS SERMÕES DO MONTE E DA PLANÍCIE
- A palavra “bem-aventurado”, usada com suas cognatas cerca de cinquenta vezes em o Novo Testamento, é tradução do grego “makarismós” (μακαρισμός), cujo significado é “felicidades”. Para
os gregos antigos, ser “makários” (μακάριος), i.e., “bem-aventurado”,
era viver livre de sofrimentos e de preocupações, ideia pagã que foi completamente apropriada pela “teologia da prosperidade”.
- Por isso, os estudiosos entendem que a raiz da palavra grega esteja
vinculada à ideia de “grande” e, por isso, usada como sinônimo de
“rico”, no seu sentido predominantemente material, sendo, por vezes,
aplicada aos deuses, como num contraste com a situação medíocre do ser
humano.
- Os próprios judeus entendiam que a “bem-aventurança” era,
principalmente, um estado de bem-estar material, ainda que como
recompensa pela observância fiel da lei. Este significado, entretanto, era, talvez, fruto da influência das ideias da cultura helenística sobre os judeus.
- A primeira vez que surge a palavra “bem-aventurado” em Mateus, fora do sermão do monte, é em Mt.11:6,
quando Jesus recebe a visita de dois discípulos de João. A estes
discípulos, no final da mensagem que manda a João, o Senhor diz que “bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em Mim”.
- Vemos que, para consolar o duvidoso e abatido João, o Senhor afirmou
que “bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em Mim”, ou seja,
aquele que, por causa de Jesus, não venha a tropeçar na caminhada
espiritual, aquele que permanece em pé, que não abandona o Senhor Jesus.
Perseverar na fé e na confiança em Cristo é, portanto, uma
“bem-aventurança”.
- Quando verificamos esta bem-aventurança, já vemos quanto mal têm
feito os “pregadores da prosperidade”. Hoje já são milhões de pessoas
que se escandalizaram em Jesus e perderam esta bem-aventurança porque
foram levados a crer em falsas promessas que jamais se realizarão,
promessas estas feitas por estes falsos pregadores, pessoas que se
encontram “decepcionadas com Jesus”. Vemos, pois, como estes homens de
Belial são instrumentos malignos para a perdição das almas.
- Em Mt.13:16, temos novo contato com a expressão
“bem-aventurado”, quando Jesus explica a Seus discípulos porque estava a
falar por parábolas. Nessa ocasião, Cristo disse que “bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem”.
- A bem-aventurança afirmada pelo Senhor Jesus diz respeito ao atendimento à Sua Palavra,
à prontidão para crer na mensagem do Evangelho. Ao contrário da
multidão que O havia deixado depois de Ele ter contado a parábola do
semeador, Seus discípulos, não a tendo entendido, quiseram saber a
respeito do seu significado, não deixando o Senhor e crendo que Ele lhes
poderia explicar o sentido.
- A bem-aventurança, portanto, está em querer ter intimidade com o
Senhor Jesus, em querer conhecê-l’O, em não buscar simplesmente
benefícios de Jesus, mas querer ter comunhão com Ele, exatamente o
contrário do que estimulam e incentivam os “pregadores da prosperidade”.
Quantos, na atualidade, não se comportam como a multidão que deixou o
Senhor e não era bem-aventurada? Quantos não vão atrás de Jesus apenas
para ter bens e saúde física, não querendo ter uma vida de comunhão com
Ele? “Mas bem aventurados os olhos que veem e os ouvidos que ouvem”.
- A expressão “bem-aventurado” aparece, então, em Mt.16:17,
quando o Senhor Jesus chama de “bem-aventurado” a Pedro, por ter tido a
revelação do Pai a respeito da natureza de Jesus, “o Cristo, o Filho de
Deus vivo”. Esta bem-aventurança deu a Pedro a primazia entre os
apóstolos, primazia que deve ser entendida como o apóstolo escolhido
para levar, em primeira mão, a mensagem do Evangelho aos judeus (no dia
de Pentecostes – At.2) e aos gentios (na casa de Cornélio – At.10) e
não, como entendem os romanistas, como um papel de “vigário de Cristo”.
- Apesar de se tratar de uma “bem-aventurança” especial, podemos daí
extrair uma verdade bíblica, qual seja, a de que se trata de “bem-aventurança” temosacesso à revelação de Deus, o que, para nós, traduz-se no saber a vontade de Deus, notadamente através da Sua Palavra, como, aliás, vimos em Mt.13:16.
- Em Mt.24:46, temos a única bem-aventurança
mencionada pelo Senhor Jesus no sermão escatológico na versão deste
evangelista. O Senhor Jesus disse que “bem-aventurado o servo que o Senhor achar servindo assim”.
Assim como? Explica-nos o versículo anterior: o servo fiel e prudente,
que o Senhor constituiu sobre a sua casa para dar sustento a seu tempo.
- É bem-aventurado o servo que cumprir aquilo que o Senhor lhe confiou na obra de Deus, na igreja do Senhor.
Vemos que a bem-aventurança está vinculada a assumirmos a condição de
servos do Senhor e, portanto, de cumpri-Lhe a vontade, algo
completamente oposto a que ensinam os “teólogos da confissão positiva”. O
Senhor nos manda fazer algo e temos de ser fiéis e prudentes para
cumprir, no tempo determinado, aquilo que nos foi mandado fazer. Só
estes servos fiéis e prudentes, bem-aventurados, serão arrebatados pelo
Senhor naquele dia. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Ausente no Evangelho segundo Marcos, a expressão “bem-aventurado” e
seus cognatos somente aparecerá no evangelho segundo Lucas, que, além do
“sermão da planície” (Lc.6:17-49), apresenta outras ocorrências da
palavra.
- A primeira ocorrência é em Lc.1:45, quando a expressão é utilizada em relação a Maria, a mãe de Jesus. Tomada pelo Espírito Santo, Isabel chama Maria de bem-aventurada porque ela creu. Vemos, de pronto, que crer na Palavra de Deus, crer naquilo que Deus nos revela é uma bem-aventurança.
- Maria não foi chamada “bem-aventurada” porque teria sido “concebida
sem pecado” como defendem os romanistas. Não, não e não! Maria é chamada
bem-aventurada porque creu e, por crer, deu o seu “sim” a Deus,
permitindo, apesar de todos os tormentos que isto representaria, que
fosse concebido, ainda solteira, o Filho de Deus em seu ventre. Nossa
justificação vem pela fé em Cristo Jesus (Rm.5:1).
- A “bem-aventurança do crer” implica em aceitar a vontade de Deus,
apesar de todos os transtornos que isto venha a criar no meio do mundo e
da sociedade. Ser bem-aventurado é confiar em Deus, como já se viu na
análise das bem-aventuranças do Antigo Testamento (apêndice 2). Estamos
dispostos a confiar em Deus apesar de todas as adversidades deste
mundo? É por isso que, a partir de Isabel, Maria é chamada por todos de
“bem-aventurada” (Lc.1:48)!
- A próxima ocorrência de “bem-aventurado” em Lucas, fora o sermão da planície, é em Lc.7:23, quando temos a reprodução do que já vimos em Mt.11:6, quando o Senhor encontra dois discípulos de João Batista.
- Em Lc.10:23, temos outra reprodução do que já visto
em Mt.13:16, quando o Senhor Jesus fala da bem-aventurança dos Seus
discípulos em querer saber o significado da parábola do semeador.
- Em Lc.11:27,28, após Jesus ter falado a respeito da
blasfêmia dos fariseus, uma mulher dentre a multidão exclamou que
“bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste”, ao
que Jesus respondeu que “antes bem-aventurados os que ouvem a Palavra de
Deus e a guardam”.
- Neste episódio mencionado por Lucas, temos uma demonstração de que Maria não era bem-aventurada por si só, nem tampouco tinha uma posição distinta da dos demais seres humanos.
Ao ser chamada de bem-aventurada por sua condição maternal, por uma
mulher da multidão, imediatamente o Senhor Jesus fez questão de mostrar
que a ascendência biológica de Sua mãe não tinha qualquer papel no
sentido espiritual. Pelo contrário, o “parentesco espiritual” se dá
apenas pelo ouvir e pelo guardar a Palavra de Deus.
- Neste trecho, que tem paralelos em outras passagens do Evangelho em
que Jesus insiste que Sua família é constituída “pelos que ouvem a
Palavra de Deus e a executam” (Mt.12:49,50; Mc.3:34,35; Lc.8:21),
mostra-nos que fazer parte da Igreja é ouvir e cumprir a Palavra de Deus e isto é uma “bem-aventurança”.
- Portanto, ao contrário do que alegam os “pregoeiros da prosperidade”,
ser “bem-aventurado” é “ouvir e cumprir a Palavra de Deus” e não, como
alguns dizem por aí, “fazer determinações” ou “pronunciar palavras
inspiradas” que vinculariam a Deus. Ser “bem-aventurado” é fazer a
vontade de Deus e não querer que Deus faça a nossa.
- Em Lc.12:37,38, na parábola do servo vigilante, o Senhor Jesus diz que “bem-aventurados os servos que, quando o Senhor vier, achar vigiando”. Aqui, vemos que um dos segredos para se alcançar a felicidade é estar vigilante, aguardando a volta do Senhor.
- A “bem-aventurança” do crente não está em passar uma vida regalada
nesta vida, mas, bem ao contrário, em saber que este mundo passa e que
não é aqui o nosso descanso e que temos de estar prontos pois, a
qualquer instante, o Senhor Jesus pode voltar para arrebatar a Sua
Igreja ou, então, pode nos chamar para a eternidade. Como isto é
diferente das “pregações da prosperidade” que nunca lembram seu
auditório de que Jesus está próximo às portas…
- A próxima bem-aventurança registrada no evangelho segundo o médico amado é a “bem-aventurança dos que chamam os que não tem como recompensar o que chama” (Lc.14:14). Aqui, aliás, temos uma bem-aventurança completamente alheia ao pensamento da “teologia da prosperidade”.
- Ao contar a parábola dos primeiros assentos e dos convidados, o
Senhor Jesus disse aos Seus discípulos que deveriam fazer o bem aos
pobres, aleijados, mancos e cegos (Lc.14:13), ou seja, a pessoas que,
por suas condições, não têm qualquer condição de recompensar o bem
praticado. Quem fizer isto, diz o Senhor, será bem-aventurado e
recompensado “na ressurreição dos justos”. Jesus deixa aqui claro que
não existe qualquer “reciprocidade”, qualquer “toma-lá-dá-cá”. Quem
fizer bem ao próximo, é bem-aventurado e sua recompensa somente se dará
no além, nunca nesta Terra. Como isto é diferente do que falam os
“pregoeiros da confissão positiva”…
- Por causa desta lição de Jesus, alguém que estava com Ele assentado à
mesa disse que “bem-aventurado o que comesse pão no reino de Deus”
(Lc.14:15), numa atitude que revelava a confiança daquele conviva de
que, por causa da profecia de Is.25, todo judeu tinha sua salvação
garantida, não precisando, por isso, atender ao que Jesus ensinara na
parábola.
- Esta afirmação, porém, não foi avalizada pelo Senhor Jesus que, em
resposta a ela, contou a parábola da grande ceia, mostrando que o
sentido com que aquele homem havia proferido, ou seja, de que bastava
ser judeu para participar do banquete celestial, não era verdadeiro,
visto que os israelitas haveriam de rejeitar o Messias e a oportunidade
seria dada aos gentios.
- Ao negar esta “bem-aventurança”, o Senhor Jesus retira a
possibilidade de presunção, de “determinações”, de “direitos” no
relacionamento do homem para com Deus. A “felicidade” não virá, nem
mesmo nos aspectos espirituais (o homem não falou de coisas desta vida,
mas do banquete celestial), por supostos “direitos” do homem em relação a
Deus, mas pela infinita graça e misericórdia de Deus em relação ao
homem. Lembremos disto!
OBS: “…Jesus aproveitou a observação desse homem para dar a
advertência, em forma de parábola, de que nem todos entrariam no reino.”
(BÍBLIA DE ESTUDO NVI, com. Lc.14:16, p.1759).
- A próxima ocorrência de “bem-aventurado” é em Lc.23:29,
quando Jesus, no caminho do Gólgota, em resposta aos lamentos das
mulheres que O acompanhavam com choros, disse-lhes que não deveriam
chorar por Ele, mas sim, por elas e pelos seus filhos, pois viriam dias
em que se diria que “bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram” (Lc.23:29).
- Jesus, nesta passagem, fala dos dias difíceis que os judeus passariam
na Grande Tribulação, onde a cruel angústia e perseguição que sofrerão
farão com que mudem o seu conceito a respeito da bênção que é a mulher
ter filhos e amamentar, pois as dificuldades serão tantas que se
lamentará o sofrimento atroz que sofrerão tanto as grávidas quanto as
que amamentarem naqueles dias (cfr. Mt.24:19).
OBS: Exemplo recente disto tivemos nas enchentes que assolaram as
Filipinas em dezembro de 2011, quando se noticiou que uma grávida, em
fuga com seus filhos e seu marido, acabou dando à luz no telhado de uma
clínica, a mostrar como ficam difíceis nestas situações a condição de
grávida ou de quem amamenta (UOL Notícias. Bebê nasce no telhado durante
fuga de sua mãe das enches nas Filipinas. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2011/12/22/mulher-que-fugia-das-enchentes-nas-filipinas-da-a-luz-no-telhado.jhtm Acesso em 22 dez. 2011).
- No evangelho segundo João, temos apenas duas ocorrências de “bem-aventurança”. A primeira, em Jo.13:17, quando o Senhor Jesus chama de “bem-aventurados” os que “soubessem estas coisas e as fizessem”.
A que coisas o Senhor Jesus Se refere? À consciência de que Jesus,
sendo Senhor e Mestre, lavou os pés dos discípulos, dando exemplo de
humildade e serviço, exemplo que deveria ser seguido pelos Seus
discípulos.
- Então, devem os discípulos lavar os pés uns dos outros para serem
“bem-aventurados”? Sim e não. Como assim? Os discípulos não precisam
efetuar o “ritual do lavapés”, pois isto era um dado cultural judaico,
mas o exemplo deixado por Jesus de servir o próximo deve, sim, ser
seguido pelos Seus discípulos e, ao sermos humildes e serviçais,
seremos “bem-aventurados”. Como isto é diferente do que pregam os
“teólogos da prosperidade”, que, ao invés de servirem querem ser
servidos por Deus…
- Em Jo.20:29, Jesus, ao ter o encontro com Tomé, disse a Seu discípulo que “bem-aventurados os que não viram e creram”,
indicando que crer em Jesus, sem O ver é uma “bem-aventurança”. Por
isso, não podemos querer “materializar a fé”, como fazem os “teólogos da
prosperidade”, com um sem-número de amuletos (meias, gaiolas, tijolos,
sabonetes, chaves e tantas outras invencionices).
II – AS BEM-AVENTURANÇAS EM ATOS E NAS EPÍSTOLAS
- Em Atos dos Apóstolos, só temos uma ocorrência de “bem-aventurança”, a saber, em At.20:35,
quando em seu discurso aos crentes de Éfeso, o apóstolo Paulo recorda
palavras do Senhor Jesus que não foram registrados em qualquer dos
evangelhos, onde o Senhor ensinou que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”.
- Nesta bem-aventurança mencionada pelo Senhor Jesus e que o Espírito
Santo mandou que Lucas registrasse neste ensino de Paulo aos efésios em
Mileto, temos a negação de tudo quanto se vê na “teologia da
prosperidade”. O importante não é “receber”, mas, sim, “dar”. Quem dá é
bem-aventurado. Quem dá e não retém mostra sua semelhança com o Senhor,
que Se deu a si mesmo por nós. Por que, então, diante de tão belo ensino
do próprio Cristo, aceitarmos a mentira do “receba, receba” destes
falsos ensinadores?
- Na epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo fala de “bem-aventuranças”
quando trata da justificação pela fé de Abraão, fazendo alusão às
bem-aventuranças do Sl.32:1,2 (mencionadas em Rm.4:7,8), que explica
dizendo que “bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as
obras” (Rm.4:6), lembrando, ainda, que esta bem-aventurança se deu na
incircuncisão (Rm.4:9).
- Esta bem-aventurança do Antigo Testamento que é repetida e explicada
pelo apóstolo é, também, uma contundente refutação da “teologia da
prosperidade”. Com efeito, os “teólogos da prosperidade” com sua falsa
“lei da reciprocidade”, fazem a justiça e a salvação depender das obras,
o que é totalmente negado pelo texto bíblico em análise. Não podemos
prevalecer espiritualmente pelas nossas obras, precisamente para que não
nos gloriemos (Ef.2:9).
- Lamentavelmente, como foi muito bem afirmado pelo padre católico
romano Paulo Ricardo de Azevedo Júnior (Teologia da prosperidade?
Disponível em: http://padrepauloricardo.org/audio/49-a-resposta-catolica-teologia-da-prosperidade/
Acesso em 22 dez. 2011), os “teólogos da prosperidade”, estes falsos
ensinadores conseguiram perverter a própria razão de ser da Reforma
Protestante, pois, assim como os pregadores de indulgência nos dias de
Lutero, defendem que se pode “comprar Deus com dinheiro”. O ensino de
Paulo em Romanos mostra que a bem-aventurança está na “justiça sem as
obras”, que é imputada pelo Senhor a todos quantos creem em Cristo
Jesus.
- Ainda em Romanos, o apóstolo Paulo nos indica uma outra bem-aventurança, em Rm.14:22, quando afirma que é “bem-aventurado aquele que não condena a si mesmo naquilo que aprova”.
- Esta bem-aventurança está vinculada com a questão da liberdade e da
caridade, quando o apóstolo nos ensina que não podemos escandalizar os
outros irmãos, que não podemos fazer com que os irmãos venham a cair da
fé por causa da nossa conduta, ainda que ela seja conforme a Palavra de
Deus.
- Paulo diz que o crente que se privar de fazer coisas que não são
condenadas pela Palavra de Deus apenas com o propósito de não fazer o
seu irmão, mais fraco na fé, se escandalizar e cair da fé, é
bem-aventurado, pois, embora tenha fé e saiba que o que fizesse não
seria pecado, tem o amor suficiente para manter a sua fé intimamente e
não dar motivo para levar um irmão à perdição e, por causa disso,
condenar a si mesmo naquilo que aprova.
- Nesta bem-aventurança notamos, claramente, que temos, uma vez mais,
algo diametralmente oposto ao que é ensinado pelos “teólogos da
prosperidade”, que não pensam no próximo, nem tampouco no “fraco na fé”,
mas que defendem um evangelho egoístico e individualista. Aliás,
quantos exemplos temos de pessoas que, após não receberem as “bênçãos”
depois de terem feito seus “sacrifícios”, são lançados em rosto por
estes falsos ensinadores como “pessoas de pouca fé”, numa
insensibilidade que somente perde para a ganância destes ditos cujos.
Fujamos disto, amados irmãos!
- Em I Co.7:40, o apóstolo Paulo, quando trata da questão dos casamentos, diz que “mais bem-aventurado é o viúvo que não se casa novamente”,
conceito que o apóstolo diz ser seu, embora dissesse que tinha o
Espírito de Deus. Neste pensamento de Paulo está o fato de ser uma
bem-aventurança servir a Deus integralmente, o que não se pode fazer
quando se é casado, visto que é preciso servir ao cônjuge, o que diminui
o tempo do serviço a Deus.
- Apesar de ser um conceito pessoal do apóstolo, o fato é que está
registrado nas Escrituras, motivo por que temos de reconhecer que se
trata de um texto que tem autoridade de Palavra de Deus. O apóstolo,
porém, não disse que era proibido casar, nem que o serviço a Deus exige o
celibato, mas apenas disse que a dedicação integral ao serviço do
Senhor após a ocorrência de uma viuvez é uma bem-aventurança.
- Em Gl.4:15, o apóstolo Paulo diz aos gálatas que o
fato de o terem recebido como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo,
era uma bem-aventurança, pois aqueles crentes estavam dispostos a
arrancar os seus olhos e lhos darem. Vemos, pois, que se trata de uma
bem-aventurançao acolhimento dos servos do Senhor, o seu amparo e sustento quando estão a realizar a obra de Deus.
- Mais uma vez temos a presença de uma bem-aventurança vinculada ao
serviço ao próximo, à dedicação ao próximo, algo bem diverso, contrário
mesmo à ganância individualista propalada pela “teologia da
prosperidade”.
- Em I Tm.1:11, a expressão “bem-aventurado” é aplicada ao próprio Deus,
a indicar que as “bem-aventuranças” são atitudes que nos fazem
expressar “a imagem e semelhança de Deus”, a corroborar o ensino de
Jesus no sermão das bem-aventuranças (veja lição 6), ao mostrar que “bem-aventurados” são os Seus discípulos, aqueles que são filhos de Deus.
- Em I Tm.6:15, o apóstolo, novamente, chama de “bem-aventurado” ao Senhor Jesus, “o bem-aventurado e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores”, a reafirmar que a “bem-aventurança” nos torna “cristãos”,
ou seja, “pequenos Cristos”, “parecidos com Cristo”. Deste modo, quando
vemos que os “teólogos da prosperidade” nos afugentam destas
bem-aventuranças, entendemos que eles querem impedir que nos tornemos
cristãos.
- Em Tt.2:13, o apóstolo Paulo chama de “bem-aventurada” a esperança que tem o salvo da volta de Jesus,
texto que corrobora o ensino do próprio Jesus que disse que aguardar a
Sua vinda, ser vigilante é ser bem-aventurado. Ao revés, em I Co.15:19, o
apóstolo chama de “os mais miseráveis de todos os homens” os que
esperam Jesus somente nesta vida, que é, precisamente, a situação dos
que adotam a “teologia da prosperidade”. Qual é a sua situação, amado(a)
irmão(ã)?
- A epístola de Tiago, apesar de breve, tem três referências sobre bem-aventuranças. A primeira delas, em Tg.1:12, diz que “bem-aventurado
o varão que sofre a tentação; porque, quando provado, receberá a coroa
da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam”.
- Esta bem-aventurança mostra, claramente, que, ao invés do “pare de
sofrer” dos “teólogos da prosperidade”, o Senhor não só diz que os
crentes sofrerão nesta vida, como também que, se suportarem as provas,
receberão a coroa da vida como recompensa, galardão este que não é desta
vida, mas na vida do além. Como isto é totalmente diferente do que
falam estes falsos ensinadores…
- Em Tg.1:25, temos a segunda bem-aventurança desta epístola, qual seja, a “bem-aventurança do cumpridor da Palavra de Deus”.
O irmão do Senhor diz que quem atenta bem para a lei perfeita da
liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido mas fazedor da
obra, é bem-aventurado no seu feito.
- Tiago, ao aludir a esta bem-aventurança, faz coro a textos do Antigo
Testamento que confirmam que quem guarda e pratica as Escrituras é
bem-aventurado. Não podemos, para alcançar a felicidade eterna, fugir do
que estatui a Bíblia Sagrada, nossa única regra de fé e prática.
- Os “teólogos da prosperidade”, contudo, arvoram-se em “visões”,
“revelações” e “deduções” completamente alheias às Escrituras, com as
quais Deus não tem qualquer compromisso e, por causa disso,
desencaminham milhões de vida. Não os ouçamos, mas demos ouvidos ao
Senhor e, em fazendo o que Ele manda, seremos bem-aventurados!
- A terceira bem-aventurança de Tiago está em Tg.5:11, onde, praticamente, temos uma repetição da primeira bem-aventurança, pois o irmão do Senhor diz que “eis que temos por bem-aventurados os que sofreram”.
Mais uma vez, é mostrado que o sofrimento é uma bem-aventurança. Se, na
primeira bem-aventurança, está enfatizado o fato de que suportar a
prova é fonte de felicidade, aqui se tem que o sofrimento em si mesmo já
é uma bem-aventurança.
- Para confirmar isto, Tiago traz o exemplo de Jó e confirma que a
paciência deste patriarca foi fundamental para que a misericórdia e
piedade divinas mudasse a situação daquele homem. Esta bem-aventurança é
outra refutação dos falsos ensinos da “teologia da prosperidade”, visto
que Jó sofreu sem ter pecado e aceitou o sofrimento humildemente e
reside aí a sua bem-aventurança, diz-nos o irmão do Senhor. Enquanto
isso, os “teólogos da prosperidade” ficam a ensinar o povo a “não
aceitar” as provações, as dificuldades…
- O apóstolo Pedro corrobora este pensamento pois, em sua primeira
carta, traz-nos bem-aventurança bem similar. Diz o apóstolo que “se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados” (I Pe.3:14a).
O apóstolo aqui nada mais, nada menos que repete uma das
bem-aventuranças do sermão de Cristo, ao dizer que são bem-aventurados
aqueles que forem ofendidos por causa da justiça, por causa do Senhor
Jesus.
- Ainda se referindo a este ponto, o apóstolo, em I Pe.4:14, diz mais, a saber: “Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois,
porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus”. Ser vituperado,
i.e., desprezado, insultado, aviltado por causa do nome de Cristo é uma
bem-aventurança, como o apóstolo uma vez mais lembra, repetindo as
palavras do Senhor Jesus seja no sermão do monte (Mt.5:11,12), seja no
sermão da planície (Lc.6:22).
- Como, pois, insistem os “teólogos da prosperidade” numa falsa ideia
de que o evangelho nos leva a um mundo de “sombra e água fresca”, de uma
suposta “imunidade contra doenças, problemas e sofrimentos”?
- Ao propagandear este “mar de rosas”, os “teólogos da prosperidade”
estão a querer transformar seus seguidores em “falsos profetas”, pois é
àqueles que o mundo aplaude e diz bem, como nos ensina o próprio Jesus
em Lc.6:26.
- Como podemos observar, pois, em momento algum, ao longo desta
análise, temos qualquer bem-aventurança vinculada à posse de bens
materiais ou a uma vida regalada nesta Terra. Por isso, em toda a
Bíblia, vemos que não tem respaldo algum este ensino falso e que tanto
mal tem causado aos crentes. Fiquemos com a Palavra de Deus, amados
irmãos!
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Prof. Dr.Caramuru Afonso Francisco
Fonte: PortalEBD
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