Texto
Áureo: Sl. 116.12 – Leitura Bíblica: Mt. 4.1-11
Pb. José Roberto A. Barbosa
INTRODUÇÃO
A Teologia da Ganância está fundamentada na relação de
causa e efeito, isto é, na possibilidade do ser humano barganhar com Deus. Na
aula de hoje, destacaremos essa impossibilidade, tendo em vista a graça de
Deus, que desconstrói essa relação de troca. No início, mostraremos que a
Bíblia, como Palavra de Deus, condena a barganha com Deus, em seguida, que esse
tipo de ensinamento é perigoso por desconsiderar o favor imerecido de Deus.
1. A BÍBLIA CONDENA A BARGANHA COM DEUS
A Bíblia é susceptível à construção de qualquer
doutrina, ela pode ser usada para fundamentar qualquer posicionamento humano.
Ao longo da história, ela foi usada para justificar o extermínio de pessoas, o
preconceito contra os negros, entre outros descalabros. A Bíblia é a Palavra de
Deus, mas precisa ser lida com sinceridade e responsabilidade, sobretudo com disposição
para ouvir o que o Senhor tem a dizer (Ap. 2.7,11). O texto bíblico precisa ser
considerado em sua inteireza, e contextualizado, dentro de uma revelação
específica para determinado tempo, avaliando as possibilidades para a sua
aplicação, tendo como crivo o evangelho de Cristo (Lc. 11.52). Tal como os
amigos de Jó, muitos defendem, nos dias atuais, que as adversidades pelas quais
muitos cristãos passam advêm de pecado, como também acreditavam os discípulos
de Jesus (Jo. 9.1). O próprio Diabo acreditava que Jó se distanciaria de Deus
se viesse a perder o que possuía (Jó. 1.6-12; 2.1-10), não são poucos que, como
Elifaz, Zofar e Bildade querem fazer o mesmo. O Tentador também barganhou com
Cristo quanto o Senhor foi tentado no deserto, prometendo-LHE as glórias desta
era, caso se prostrasse e o adorasse (Mt. 4.8-10). A barganha é sempre uma
doutrina satânica, respaldada pela religiosidade humana, o evangelho de Cristo
é escândalo para o mundo e para a religião, pois Cristo morreu justamente pelos
que não mereciam (II Co. 10.2). A base desse evangelho é o amor, revelado no
agape, na disposição de Deus de entregar Seu Filho para que todos os que nEle
creem tenham a vida eterna (Jo. 3.16).
2. OS ARTIFÍCIOS PERIGOSOS
DA BARGANHA COM DEUS
A doutrina da barganha com Deus é perigosa porque
condiciona a operação de Deus às atitudes humanas. O ser humano é posto diante
de leis e decretos que são considerados infalíveis. A famosa expressão “toda
ação resulta em uma reação” é amplamente usada pelos adeptos da barganha. Essa
lei se aplica aos valores seculares, mundo, às trocas empresariais, mas nada
tem a ver com o relacionamento do homem com Deus, não deve ser imitada pela
igreja do Deus Vivo. Cristo é a verdade que liberta (Jo. 8.32-36), e, por causa
dEle, nenhum ritual religioso pode restringir a graça (Cl. 2.16-23). A barganha
perdeu toda e qualquer razão de ser, pois, na cruz, a cédula foi rasgada, não
existe mais débito (Cl. 2.14,15). Nos primórdios da igreja cristã a doutrina da
barganha adentrou as igrejas da Galácia. Paulo reconheceu o perigo daquele
ensinamento, por isso escreveu urgentemente àquelas igrejas (Gl. 1.1-13). A
circuncisão, naquelas comunidades, é o exemplo de lei que se impõe como entrave
à manifestação da graça de Deus. Paradoxalmente, em Cristo não existe mais lei,
senão a do amor, o fruto que em nos opera para a vida, não para a morte (Gl.
5.21,22). Aqueles que se fiam na lei não agem com amor, apenas conseguem impor
sobre os outros as suas interpretações, suas neuroses, concretizada em perseguições,
tal como fez Paulo, quando adepto do farisaísmo (Fp. 3.4,6; I Tm. 1.13).
3. BARGANHA É O ESTELIONATO
DA GRAÇA DE DEUS
A barganha com Deus é um estelionato contra a graça de
Deus, ela nega o princípio maior da ética do evangelho. A religiosidade
fundamentada na competitividade leva às pessoas a quererem ser sempre uma
melhores do que as outras. Tal como Caim, somos levados a medir constantemente
as atitudes dos outros pelas nossas, inclusive no que tange à espiritualidade,
impossibilitando a operação do amor de Deus (I Jo. 3.11-13). As pessoas que se
fiam na barganha com Deus vivem sempre amedrontadas, não conseguem desfrutar da
plena liberdade que há em Cristo (Gl. 5.13-16). É bem verdade que o homem
ceifará o que semear, mas isso somente na dimensão da lei, pois, na graça, a
ética é respaldada pelo amor. É o amor de Deus que nos constrange a fazer o bem
(Gl. 6.9-10), como expressava Agostinho, “amemos a Deus e podemos fazer o que
quisermos”. Os dividendos dessa condição existencial será para a eternidade,
reconhecimento divino do nosso desprendimento (II Co. 9.7-11). As atitudes
cristãs, inclusive a contribuição, é uma extensão da atuação graciosa de Deus.
Os adeptos da Teologia da Ganância, no entanto, transformam essa ética em
práticas legalistas. O objetivo central desses é o acúmulo de bens, a fim de
viverem regaladamente, enquanto os pobres da igreja padecem necessidade. Mas o
julgamento de Deus sobrevirá sobre eles, pois, conforme já antecipou Pedro,
esses “farão de vós negócio com palavras
fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua
perdição não dormita." (II Pe. 2.3)
CONCLUSÃO
O Jesus pregado pelos Teólogos da Ganância nada tem a
ver com Aquele revelado nas Escrituras. Mais que isso, conforme revela Paulo
aos coríntios, se trata de outro espírito e de outro evangelho (II Co. 11.1-4).
A doutrina da barganha defendida por tais pregoeiros é perigosa porque põe em
questão a manifestação escandalosa da graça de Deus através da cruz de Cristo
(I Co. 2.14; 3.19). O relacionamento do crente com Deus, e com o próximo, se
fundamenta não na misericórdia e na graça, mas na troca de favores, que nada
tem a ver com o genuíno evangelho (I Co. 13).
BIBLIOGRAFIA
FABIO,
C. Sem barganhas com Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2005.
GONÇALVES, J. A
prosperidade à luz da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
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