A carta à igreja de Esmirna
mostra-nos que a fidelidade a Deus envolve perseguições neste mundo.
INTRODUÇÃO
- Na continuidade das sete cartas de Cristo às igrejas da Ásia, estudaremos a segunda carta, encaminhada à igreja de Esmirna.
- Nesta carta, o Senhor Jesus mostra que a vida cristã é uma vida de
perseguições neste mundo, mas que a perseverança é fundamental para a
vitória.
I - O CENÁRIO DA CARTA À IGREJA DE ESMIRNA
- Prosseguindo o estudo das sete cartas que o Senhor Jesus mandou
enviar às igrejas da província romana da Ásia, que constitui a parte
substancial do estudo proposto pela CPAD para este trimestre no livro do
Apocalipse, estudaremos a segunda carta, a carta encaminhada ao anjo da
igreja e, por conseguinte, à igreja de Esmirna.
Mapa do antigo reino da Lídia, onde se vê a cidade de Esmirna (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Esmirna Acesso em 12 mar. 2012)
- Esmirna, palavra cujo significado é “mirra” ou “amargura” (o que nos
fala de sofrimento), era cidade da província romana da Ásia, hoje a
parte ocidental da Turquia. É uma cidades mais antigas do Mediterrâneo,
tendo sido construída por volta do terceiro milênio antes de Cristo,
compartilhando com Troia a hegemonia da região. Conquistada pelos lídios
por volta do ano 600 a.C., perdeu sua importância até o tempo de
Alexandre, o Grande, quando foi reconstruída, passando a ter grande
desenvolvimento após ser conquistada pelos romanos no século I a.C.,
sendo esta a sua situação quando do encaminhamento da carta do Senhor à
igreja ali situada. Atualmente, é a cidade turca de Izmir, a terceira
maior cidade da Turquia, com uma população de mais de 3 milhões de
habitantes em 2009, sendo considerada a cidade mais cosmopolita da
Turquia, pois tem grande população de gregos e armênios, como também a
segunda maior colônia judaica da Turquia. É chamada “pérola do Egeu” e
considerada a cidade turca mais ocidentalizada, razão pela qual é
considerada pelos muçulmanos como “uma cidade infiel”. É a terra natal
do poeta grego Homero.
- A tradição, fundada em documentos, considera que o “anjo da igreja”,
ou seja, o pastor da referida igreja era Policarpo(69-159), um dos
discípulos pessoais do apóstolo João, cujo nome significa “muito
frutífero”, demonstrando que a igreja em questão, a começar do seu
pastor, era formada por servos exemplares, pois o servo de Deus exemplar
é aquele que produz muito fruto e fruto permanente (Mt.13: 23;
Jo.15:16).
- Policarpo, assim como muitos crentes de Esmirna, foram martirizados
em 159, consoante nos dá conta Eusébio de Cesareia no capítulo XV do
livro 4 de sua História Eclesiástica, onde cita documento
antigo que registra tal martírio, chamado “Martírio de Policarpo”, o
mais antigo registro de um martírio cristão. Policarpo é um dos “pais da
Igreja” e chegou até nós uma epístola que endereçou aos filipenses.
OBS: “…Diz a história que o procônsul romano, Antonino Pio,
e as autoridades civis tentaram persuadi-lo a abandonar sua fé em sua
avançada idade, a fim de alcançar sua liberdade. Ele entretanto,
respondeu com autoridade: “Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele
nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me
salvou? Eu sou um crente”!…” (Policarpo de Esmirna. In: WIKIPÉDIA.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Policarpo_de_Esmirna Acesso em 12 mar. 2012).
- Para a igreja de Esmirna, o Senhor Jesus Se identifica como sendo “o
primeiro e o último, que foi morto, e reviveu”(Ap.2:8). Que quis o
Senhor Jesus expressar com esta expressão aos esmirnitas?
- “…Cristo é o primeiro quanto ao tempo e à importância. Ele é a fonte
originária de toda e qualquer vida, seu princípio mesmo. O fato é de que
Cristo é o ‘princípio’ equivale à declaração de que Ele é o ‘Alfa’. E o
fato de ser o ‘Último’ equivale a ser o ‘Ômega’. Ele é o Princípio e o
Fim, O Primeiro e O Último, o ‘a’ e o ‘z’, nós nos encontramos no meio.
Mas Cristo continua a existir! Na qualidade de ser Ele o ‘último’
pode-se dizer o seguinte sobre Cristo: (a) Ele é a razão mesma da
existência; (b) Ele é o princípio da vida após a morte; (c) Ele é o alvo
de toda a existência, o Ômega.…” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo.
3. ed., p.35).“…O Senhor Se apresenta como o primeiro e o último. O Pai
da Eternidade (Is.9:6; Sl.90:2), sendo Ele o Deus Eterno, que,
humanizado, foi perseguido até a morte…” (OLIVEIRA, José Serafim de. Desvendando o Apocalipse: o livro da revelação, p.16).
- Como podemos notar, pois, o Senhor Jesus Se identifica como o
“primeiro e o último” para dar àquela Igreja a certeza de que Ele é
Deus, de que Ele é eterno e que, portanto, vale a pena sofrer todas as
agruras neste mundo passageiro pelo nome de Cristo. Não há, mesmo, como
suportar as perseguições e as aflições do tempo presente se não tivermos
a dimensão da eternidade, se não lembrarmos que fomos chamados para
viver para sempre com o Senhor e que tudo o que aqui passamos, nesta
vida, é passageiro e fugaz.
- Quando Jesus Se identifica como “primeiro e último”, está a nos dizer
que Ele é Deus, Ele é a razão mesma da existência, Ele é o
“Auto-Existente”, ou seja, “Aquele que é o que é”, precisamente a forma
como a Divindade Se identificou para Moisés (Ex.3:14), oportunidade em
que se revelou a Israel o que é a divindade, a saber, o senhorio sobre
as todas as coisas criadas, o único Criador, Aquele que tem todo o
poder.
OBS: Por isso, aliás, razão alguma têm as Testemunhas de Jeová ao
quererem negar a Cristo a divindade, pois Ele mesmo Se proclama como
“Auto-Existente”, como YHWH (Yahweh, Javé ou Jeová), uma das Pessoas
Divinas do “Deus Jeová triúno”, como nos declama o poeta sacro Reginald
Heber(1723-1826) no hino 9 do Cantor Cristão.
- Sem termos a convicção de que Jesus é Deus, não poderemos dar nossas
vidas por Ele. Sem ter a convicção de que Jesus é o Verbo que sempre
existiu (Jo.1:1), jamais poderíamos adorá-l’O e, nesta adoração,
inclusive enfrentar a morte. É esta convicção que falta àqueles que,
diante das dificuldades desta vida, retrocedem na jornada da fé e acabam
por morrer espiritualmente (Mt.13:20,21).
- Tal convicção exige de cada um de nós o aprofundamento na Palavra de
Deus e na vida espiritual, pois só assim teremos raízes capazes de nos
impedir o fracasso espiritual. Não é por outro motivo que o inimigo de
nossas almas tem buscado, de todas as maneiras, que os que cristãos se
dizem ser sejam levados, na atualidade, a ter uma vida espiritual
superficial e frívola. Temos cuidado para nos arraigarmos na fé em
Cristo Jesus, tendo plena consciência de Sua Divindade?
- Mas o Senhor Jesus também Se identifica como tendo sido Aquele “que
foi morto e reviveu”. É indispensável que tenhamos consciência da
Divindade de Cristo, mas também precisamos, para bem vencermos as
aflições do mundo em nossa peregrinação terrena, ter consciência de que
“o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo.1:14 “in initio”), ou
seja, estarmos convictos de que Jesus, que é Deus, fez-Se homeme, como
homem, permanece até a presente data.
- Ao dizer que “foi morto e reviveu”, o Senhor Jesus está dizendo à
igreja de Esmirna que Ele próprio sofreu, como homem, todas as
dificuldades, todos os problemas, todas as perseguições e todas as
tentações que nós agora estamos a padecer em nossa passagem pela Terra.
Ele também viveu entre nós, por trinta e três anos, tendo padecido todas
as coisas, mas vencido o pecado e o mal.
- Esta consciência devemos ter porque Jesus, apesar de ser Deus, nos
entende em tudo o que passamos, porque Ele também passou pelas
vicissitudes da peregrinação terra. Como disse o escritor aos hebreus,
“e visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele
participou das mesmas coisas, para que, pela morte, aniquilasse o que
tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com
medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão, porque, na
verdade, Ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência e Abraão. Pelo
que convinha que, em tudo, fosse semelhante aos irmãos, para ser
misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar
os pecados do povo. Porque naquilo que Ele mesmo, sendo tentado,
padeceu, pode socorrer aos que são tentados.” (Hb.2:14-18).
- O próprio Senhor Jesus disse que a Sua perseguição até a morte é um
exemplo para nós, Seus servos. “Se o mundo vos aborrece, sabei que,
primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fôsseis do mundo, o
mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos
escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da
palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim
Me perseguiram, também vós perseguirão a vós; se guardaram a Minha
palavra, também guardarão a vossa. Mas isto tudo vos farão por causa do
Meu nome; porque não conhecem Aquele que Me enviou.” (Jo.15:18-21).
“…Sendo Ele o Deus Eterno, que humanizado, foi perseguido até a morte. O
que esteve morto e tornou a viver. Isto quer dizer que Ele teve vitória
completa sobre todo tipo de perseguição; até mesmo sobre a própria
morte…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.16).
- Assim, tão importante quanto a Divindade de Cristo, é termos
consciência de Sua humanidade, pois é esta vida repleta de tentações,
provações e perseguições que nos dá o exemplo para que sigamos as
pisadas de Jesus neste mundo (I Pe.2:21), igualmente suportando as
afrontas para, também, desfrutarmos do gozo que estava proposto ao
Senhor Jesus e que, também, está prometido para nós (Hb.12:2,3). Quando
olhamos para o Senhor Jesus, para a Sua peregrinação terrena, ganhamos
força e estímulo para, também, vencermos o mundo. Por isso, o Senhor
Jesus diz que venceu o mundo, pois a Sua vitória, como homem, é um
“fortificante” para nossas vidas espirituais (Jo.16:33).
- Para uma igreja caracterizada pelo sofrimento, pela perseguição, pela
constante luta contra os inimigos de Deus, o Senhor Jesus tinha de Se
revelar, de Se identificar tanto como Deus, tanto como Homem. Não é à
toa que, ao longo da história da Igreja, não tenham sido poucos os
falsos mestres que tenham posto em dúvida seja a Divindade, seja a
Humanidade de Cristo Jesus, pois a exata compreensão da dupla natureza
do Senhor tem um papel fundamental para que o cristão suporte as
afrontas e as aflições e permaneça fiel até a morte.
- A lembrança da humanidade de Cristo vem por meio de dois episódios
fundamentais no ministério terreno de Jesus: a Sua morte e a Sua
ressurreição. Quando lembramos que Cristo morreu, lembramos, por
conseguinte, que Ele Se fez homem e que Se ofereceu por nós. Deus não
morre, mas o homem é mortal e, por isso, ao morrer, Jesus denuncia toda a
Sua humanidade.
- Mas, além da morte, a humanidade de Cristo revela-se, também, em Sua
ressurreição. Quem ressuscitou foi o homem, pois só o homem morreu, mas
esta ressurreição é, também, a garantia que temos da parte de Deus da
vitória de Cristo sobre a morte e da aceitação do Seu sacrifício
vicário. Porque Cristo ressuscitou, a nossa fé e a nossa pregação não
são vãs (I Co.15:14,17) e podemos ter a certeza de nossa salvação e da
vida eterna.
- Por isso, o Senhor instituiu a ceia a fim de que sempre rememoremos
que Ele morreu mas ressuscitou e, por isso, temos livre acesso ao Pai,
desfrutamos da comunhão com Ele, que nada mais é que a vida eterna e,
portanto, nada nos pode separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus
(Rm.8:33-39).
- Nos dias difíceis em que estamos a viver, torna-se imperioso,
indispensável que cada salvo em Cristo Jesus tenha a noção exata do que
representa a morte e ressurreição de Cristo. Esta é a garantia de nossa
fé, de nossa vitória sobre o pecado e o maligno. Porque Cristo
ressuscitou, sabemos que a Verdade é Jesus; porque Cristo ressuscitou,
temos certeza de que podemos viver em santidade e perseverar até o fim.
Porque Cristo ressuscitou, sabemos que o mal e o pecado não podem
dominar as nossas vidas. Que bom seria se todo crente tivesse esta
convicção!
II – O EXAME DAS QUALIDADES DA IGREJA DE ESMIRNA PELO SENHOR JESUS
- Após esta apresentação em que o Senhor rememora Sua dupla natureza
aos esmirnitas, vem a afirmação que reforça esta soberania do Senhor
sobre a Igreja: “Eu sei as tuas obras”, que se repete em todas as sete
cartas.
- No entanto, Esmirna tem um relatório extremamente positivo.
Juntamente com Filadélfia, faz parte do grupo de duas igrejas onde o
Senhor Jesus não aponta qualquer defeito, apenas qualidades.Como o
Senhor Jesus é imparcial, isto nos mostra que se trata de uma igreja
irrepreensível, ou seja, que não tem o que ser censurado, o que ser
repreendido.
- Isto não significa que a igreja de Esmirna fosse perfeita. Nós,
crentes, somente atingiremos a perfeição no dia de nossa glorificação,
quando nos encontrarmos com o Senhor nos ares, quando, então,
adquiriremos a estatura de varão perfeito, a estatura completa de Cristo
(Ef.4:13).
- Entretanto, embora não seja possível que atinjamos a perfeição agora,
é requerido de nós que sejamos irrepreensíveis, ou seja, que não sejam
achados em falta diante do Senhor, que não sejamos objeto de censura por
parte de Deus. Foi isto, aliás, que o Senhor exigiu de Abrão (Gn.17:1),
precisamente quando lhe mudou o nome para Abraão. Aqui a palavra
utilizada no hebraico é “tamyim” (תמי), cujo
significado, segundo o Dicionário VINE, é mais amplo, “…serve para
descrever atividades humanas externas e estados de ânimo internos que
Deus não condena…” (edição em espanhol da Ed. Caribe, disponível em www.semeadoresdapalavra.net, p.272)
e que, por isso, é traduzida na Nova Versão Internacional e na Bíblia
de Jerusalém por “íntegro”, ou seja, alguém que está servindo
inteiramente ao Senhor. É precisamente isto que ocorria tanto em Esmirna
quanto em Filadélfia.
- A primeira característica que o Senhor Jesus aponta para a igreja de
Esmirna é a tribulação(Ap.2:9). Esmirna realizava as suas obras em meio à
tribulação. Esmirna é a prova viva de que, ao contrário do que ensinam
os falsos mestres da teologia da confissão positiva ou da teologia da
prosperidade, o sofrimento nada tem que ver com pecado. A igreja de
Esmirna servia inteiramente ao Senhor e, nem por causa disso, estava
livre da tribulação. Como ensinava já o apóstolo Paulo às igrejas que
fundara em sua primeira viagem missionária: “…por muitas tribulações nos
importa entrar no reino de Deus” (At.14:22).
- A tribulação é uma constante na vida da Igreja, máxime quando ela é
fiel ao Senhor, visto que a fidelidade a Deus importa em desconsideração
dos valores mundanos e pecaminosos. Quando nos tornamos amigos de Deus,
“ipso facto”, nos tornamos “inimigos do mundo’ (Tg.4:4). “…No grego
clássico, tribulação é ‘thlipsis’, significa ‘pressão’, ‘opressão’,
derivado de ‘thlibo’, que tem o sentido geral de ‘pressionar’, ‘afligir’
etc. Nas páginas do Novo Testamento, em sentido comum, (…) tem o
sentido de ‘perseguição’ deflagrada por aqueles que são aqui, na Terra,
inimigos do povo de Deus…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.35).
- A igreja de Esmirna confessava a Cristo, ou seja, não negava que
pertencia ao Senhor Jesus, não deixava de seguir as Suas pisadas e, por
causa disso, vivia em tribulação, era objeto da fúria e da oposição do
adversário de nossas almas. Temos vivido em oposição ao pecado e ao
mundo assim como a igreja de Esmirna?
- Outra característica que o Senhor Jesus aponta na igreja de Esmirna é
a sua pobreza(Ap.2:9). A igreja de Esmirna era uma igreja pobre, mas
isto tem de ser entendido no sentido material, pois o próprio Jesus diz
que, apesar da pobreza, a igreja de Esmirna era rica. A igreja de
Esmirna não tinha posses materiais, até porque seus bens foram
confiscados pelos perseguidores, sendo certo, ainda, que, com a prisão
de muitos crentes, normalmente os pais de família, era natural que as
famílias padecessem carências materiais para sua sobrevivência.
- A pobreza material dos cristãos não é, portanto, ao contrário do que
ensinam os falsos mestres da teologia da prosperidade, qualquer
demonstração de desvio ou fraqueza espirituais. Pelo contrário, a igreja
de Esmirna, que não recebe qualquer reprimenda do Senhor Jesus, foi
apresentada como uma igreja materialmente pobre, apesar e por causa de
sua fidelidade ao Senhor.
- Ao longo da história da Igreja, são comuníssimos os casos em que se
verifica a presença de uma igreja fiel ao Senhor mas que era
materialmente pobre, sem qualquer influência política ou econômica na
sociedade onde vivia, o que, não raras vezes, fez com que tais
movimentos fossem “ignorados” pela história. Por isso até, muitas vezes,
se tem uma falsa ideia a respeito do que era o “Cristianismo” numa
determinada época ou de que houve intervalos temporais em que “tudo
estava perdido”, em que “houve total apostasia”, impressão esta que não
deve, em absoluto, ser tida como verdade, pois, sempre, durante todo o
tempo, o Senhor teve aqueles “sete mil que não dobraram seus joelhos
para Baal”, anônimos, ignorados, precisamente por serem “pobres”.
- Mas além desta pobreza material, o texto permite-nos também entender
que se está diante da “pobreza de espírito” de que fala o Senhor Jesus
no sermão do monte, ou seja, na consciência da dependência em relação a
Deus, da condição de servo. É interessante notar que, segundo o relato
do martírio de Policarpo, o “anjo da igreja de Esmirna”, é dito que foi
oferecido ao velho e quase centenário pastor a oportunidade de negar a
Cristo para se livrar da morte, tendo ele respondido ao procônsul romano
que lhe fez tal proposta o seguinte:“Eu tenho servido Cristo por 86
anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei
que me salvou? Eu sou um crente!” Estas palavras revelam que Policarpo
tinha plena consciência de que Jesus era o Senhor e Rei de sua vida e
que ele tudo devia ao Senhor, ou seja, o velho bispo de Esmirna sabia
que “era pobre e necessitado, mas que o Senhor dele cuidava”
(Sl.40:17a).
- Em contraste com esta pobreza material, o Senhor Jesus atesta que a
igreja de Esmirna era rica, ou seja, tinha as riquezas espirituais, o
que nos faz lembrar o que o apóstolo Paulo dissera a respeito da igreja
de Corinto, que fora descrita como enriquecida em Cristo, “em toda a
palavra e em todo o conhecimento (como foi mesmo o testemunho de Cristo
confirmado entre vós) de maneira que nenhum dom vos falta, esperando a
manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Co.1:5-7).
- Pelas palavras do apóstolo Paulo aos coríntios, palavras inspiradas
pelo Espírito Santo, podemos entender que a riqueza da igreja de Esmirna
era, também, o fato de ser uma igreja que havia se enriquecido em Jesus
Cristo, que prezava pela Palavra de Deus, pelo conhecimento do Senhor,
ou seja, por uma busca de intimidade crescente com Cristo Jesus,
inclusive pela aquisição das bênçãos espirituais, com destaque para o
batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais.
- Além disto, a riqueza espiritual da igreja de Esmirna estava na exata
compreensão da eternidade de Cristo e, assim, do caráter passageiro da
nossa peregrinação terrena, de forma a que era uma igreja levada, a
exemplo dos coríntios, a dar o importante realce e relevância, em sua
vida espiritual, da esperança da manifestação de nosso Senhor Jesus
Cristo, ou seja, era uma igreja que não desprezava mas dava o devido
valor ao aguardo da volta de Cristo.
- Para não sermos repreendidos pelo Senhor, precisamos ter esta mesma
característica da igreja de Esmirna. É imprescindível que alcancemos as
riquezas espirituais. Precisamos ter a “pobreza de espírito”, ou seja,
manifestarmos em nossa vida que somos dependentes do Senhor, obedientes à
Sua vontade, como também sermos espiritualmente ricos, passando a tomar
posse das bênçãos espirituais que já nos foram dadas pelo Senhor Jesus
(Ef.1:3).
- Temos aqui uma situação diametralmente oposta a que veremos quando do
estudo da sétima carta, endereçada à igreja de Laodiceia. Lá há uma
igreja que se diz rica, mas que é pobre (Ap.3:17); aqui, em Esmirna,
temos uma igreja que é tida como pobre, mas que é rica. A igreja de
Esmirna não recebeu qualquer repreensão do Senhor, enquanto que a igreja
de Laodiceia, nenhum elogio. A que igreja nós pertencemos?
- Outra característica apontada pelo Senhor Jesus para a igreja de
Esmirna é “a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a
sinagoga de Satanás”(Ap.2:9). A igreja de Esmirna sofria a oposição de
um grupo chamado de “sinagoga de Satanás”.
- Parece-nos que o Senhor Jesus vê, na igreja de Esmirna, uma certa
perplexidade dos crentes com relação a algumas pessoas religiosas,
extremamente devotas, em especial os judeus que ali habitavam. Não
compreendiam os esmirnitas porque tais pessoas resistiam tanto ao
Evangelho e o Senhor Jesus os ensina que tais pessoas, apesar de serem
religiosas, eram, na verdade, blasfemas, ou seja, ofendiam diretamente a
Deus com seu comportamento e, por isso, se opunham aos servos de
Cristo. Na verdade, a suposta piedade que aparentavam ser era ilusória:
não eram “judeus”, mas, sim, eram a “sinagoga de Satanás”!
- Temos aqui mais uma demonstração da fidelidade da igreja de Esmirna.
Esta expressão “sinagoga de Satanás” só aparece duas vezes nas
Escrituras, as duas no livro do Apocalipse e, precisamente, nas duas
cartas a igrejas que não são repreendidas pelo Senhor, ou seja, nas
cartas a Esmirna e a Filadélfia. Assim, a primeira coisa que percebemos é
quesó há “sinagoga de Satanás” nas igrejas que são plenamente fiéis ao
Senhor.
- Mas, o que é a “sinagoga de Satanás”? Diz o pastor José Serafim de
Oliveira que são “…os religiosos que queriam introduzir na igreja
conceitos da religião humana. Na época, os judaizantes desejavam
arrastar os crentes aos padrões da antiga lei judaica que o Senhor já
havia encravado na cruz (Cl.2:13,14)…” (op.cit., p.17). Vimos que, mesmo
quase dois mil anos depois, os judeus ainda têm em Esmirna uma grande
colônia.
- Mas aqui a “sinagoga de Satanás” não representa os judeus que se
opunham aos cristãos em Esmirna, mas, pelo contrário, os que se diziam
“judeus”, isto é, pessoas que afirmavam ser religiosas, adeptas do
judaísmo, mas que, na verdade, eram apenas a “sinagoga de Satanás”.
Temos aqui um grupo introduzido no meio dos crentes de Esmirna, mas que,
diante da sinceridade daquela igreja, não conseguiam ficar unidos aos
crentes autênticos e que se opunham à vida espiritual íntegra daqueles
cristãos.
- A “sinagoga de Satanás” é o grupo dos religiosos que se opõem ao
Evangelho de Cristo Jesus, assim como os fariseus e saduceus se opuseram
a Jesus em Seu ministério terreno. Os religiosos sempre são adversários
da igreja porque eles apresentam um conceito completamente oposto ao
Evangelho de Jesus Cristo. Enquanto a religião é uma fórmula humana para
se religar o homem a Deus, o Evangelho é uma fórmula divina para se
religar Deus ao homem, algo que somente pode ser feito por intermédio da
fé em Cristo Jesus, Deus que Se fez homem e morreu por nós para nos
salvar.
- A “sinagoga de Satanás”, portanto, nada mais é que um grupo de
religiosos que buscam, de todas as formas, impor ao Evangelho conceitos
humanos, completamente alheios à Palavra de Deus. A verdadeira e genuína
igreja é hostilizada pelos “religiosos”, pois representa a própria
negação dos conceitos defendidos pelas religiões humanas.
- Ao longo da história da Igreja, não foram poucos os cristãos que
foram, e são, perseguidos por “religiosos”. Nos dias hodiernos, podemos
ver, claramente, que um dos principais focos da perseguição contra os
cristãos provém de lideranças e movimentos religiosos, com destaque para
o islamismo, a religião que mais tem crescido nos últimos tempos no
planeta. A religiosidade pagã durante o tempo do Império Romano; a
“religiosidade romanista” na Idade Média e a “religiosidade ateísta
marxista-leninista” no século XX foram outros grandes nomes
perseguidores da Igreja.
- Watchman Nee, em seu livro A ortodoxia na Igreja, identifica
na “sinagoga de Satanás” quatro conceitos que contrariam o Evangelho de
Cristo Jesus, caracterizando esta religiosidade que se opõe à Igreja, a
saber: a adoração externa, a vida por regulamentos externos, a
distância entre Deus e adoradores e a busca de bênçãos nesta Terra.
- Os “falsos judeus” buscam sempre “um templo para adorar a Deus”. Uma
das características da religiosidade humana é a procura de “um lugar
para adoração”. A adoração faz-se num determinado local, depende de
circunstâncias externas para se realizar. Entretanto, o Evangelho diz
que a adoração se dá em espírito e em verdade (Jo.4:23,24), onde cada
crente é “templo do Espírito Santo” (I Co.6:19). A adoração é interior e
acompanha a cada um de nós, estejamos, ou não, num lugar designado para
nos reunirmos em nome do Senhor.
OBS: Sabemos que daí Watchman Nee faz a defesa de sua tese da “igreja
local”, que é herética, mas não é por isso que iremos desconsiderar esta
sua análise que é exata, ou seja, de que a adoração é interior, ainda
que isto não signifique que não se deva ter locais para a adoração
coletiva.
- Não falta, em nossos dias, quem esteja a idolatrar “templos” em nosso
meio. Há, na verdade, uma verdadeira competição pela construção de
“megatemplos” entre muitos que cristãos se dizem ser, numa inversão de
prioridades que preocupa e revela a presença de muitos da “sinagoga de
Satanás” em nosso meio. É evidente que precisamos de templos para
acomodar o povo de Deus, para que se possa adorar a Deus e centralizar
as atividades da Igreja, mas daí a se dar prioridade a isto, há uma
grande distância e se trata de um comportamento que não deve, em
absoluto, estar presente no meio dos cristãos que não querem ser
censurados pelo Senhor. Vigiemos, amados irmãos!
- Os “falsos judeus” buscam sempre “uma vida por regulamentos
externos”. Uma das características dos religiosos é criar um sistema de
regras de observância, à moda da lei de Moisés, esquecidos, porém, que a
lei de Moisés servia apenas de “aio” até a vinda de Cristo (Gl.3:24,25)
e que, a partir de agora, temos leis inscritas nas tábuas do nosso
coração (II Co.3:2,3). E, pior, há aqueles que, em vez de quererem impor
a lei de Moisés, criam outros regulamentos, verdadeiros mandamentos de
homens, querendo, com isto, escravizar as pessoas (Mc.7:7; Tt.1:14).
Quem assim age prega uma salvação pelas obras, esquecidos de que a
salvação vem pela graça.
- Não falta, em nossos dias, quem esteja criando dezenas e dezenas de
“mandamentos de homens” para “complementar” a sã doutrina. Recentemente,
o pastor presidente da CGADB, José Wellington Bezerra da Costa, disse,
em reunião de obreiros, que há muitos que estão seduzidos pelos
“regimentos internos”, querendo criar normas e mais normas para
observância do povo de Deus, como se a Bíblia fosse insuficiente. É a
“sinagoga de Satanás” quem gosta de “legalismo”. Fujamos destas coisas,
amados irmãos!
- Os “falsos judeus” buscam sempre uma “distância entre Deus e
adoradores”. Uma das características das religiões humanas é a
constituição de um “sacerdócio”, de uma “classe mediadora” entre Deus e
os fiéis. Com a vinda de Cristo, Ele nos fez “reis e sacerdotes para
Deus e Seu Pai” (Ap.1:6), não havendo mais mediador entre Deus e os
homens senão Jesus Cristo homem (I Tm.2:5; Hb.12:24). Aqui, vemos que os
“falsos judeus” dão as mãos para os “nicolaítas”, mencionados pelo
Senhor Jesus na carta à igreja de Éfeso.
- Não falta, em nossos dias, quem esteja querendo criar, no meio da
Igreja, uma distinção entre “clero” e “laicato”, como existem em algumas
organizações religiosas. Já há quem defenda que o crente confesse seus
pecados ao pastor em vez da igreja, como se o pastor fosse um
“sacerdote”! Já existem os que acham que quem tem que ter compromisso
com a igreja são os obreiros, podendo haver crentes descompromissados,
“crentes não-praticantes”, que se limitariam a assistir aos cultos, e,
mesmo assim, os cultos dominicais. Tomemos cuidado, amados irmãos, com
tais conceitos dos integrantes da “sinagoga de Satanás”.
- Os “falsos judeus”, por fim, estão interessados na obtenção de
bênçãos para esta Terra, seu alvo não é mais o céu nem a vida eterna,
mas uma vida terrena regalada e abençoada. Esperam em Cristo somente
para esta vida, sendo, por isso mesmo, os mais miseráveis de todos os
homens (I Co.15:19). Exaustivamente, vimos, no trimestre anterior, como a
teologia da prosperidade tem sido este verdadeiro arauto da “sinagoga
de Satanás”. Tomemos cuidado, amados irmãos!
III – AS PALAVRAS DO SENHOR JESUS PARA A IGREJA DE ESMIRNA
- Após ter indicado as características da igreja de Esmirna, o Senhor
Jesus passa a proferir algumas palavras para ela, predizendo o que iria
acontecer, a fim de manter a firmeza demonstrada por aqueles crentes, em
especial pelo pastor do rebanho do Senhor ali.
- Por primeiro, diz o Senhor Jesus que a tribulação prosseguiria, mas
que não deveria haver temor por parte daqueles crentes. Diante de tantas
qualidades, não seria de se esperar que o Senhor lhes prometesse o fim
de tudo aquilo, uma época de bonança e de triunfo? Não, não e não!
Aquela igreja sabia que, no mundo, somente teremos aflições, mas seu
alvo não era este mundo, eles não tinham se deixado iludir pela
“sinagoga de Satanás” e, por isso, não ambicionavam coisas desta vida,
mas única e exclusivamente “as coisas de cima” (Cl.3:1-4).
- Por isso, o Senhor Jesus pôde lhes falar abertamente que a tribulação
prosseguiria e até se intensificaria. Eles não precisavam temer o que
estavam para sofrer. O Senhor permitiria que o diabo lançasse alguns
deles na prisão para que fossem tentados (Ap.2:10).
- Mas por que Jesus permitiria uma coisa dessas? Seria Ele um sádico,
alguém que gosta de ver crentes sofrer? Não, não e não! O Senhor Jesus
permitiria a prisão e morte de alguns crentes única e exclusivamente
pelo amor que tinha em relação à humanidade. A igreja de Esmirna
padeceria para que muitas almas mais fossem salvas, pois, como já
tivemos ocasião de dizer em lição anterior, o “sangue dos mártires é
semente de novos cristãos”. A fidelidade de Esmirna era tanta que o
Senhor queria fazer com que a morte, que os esmirnitas não temiam, fosse
mais um fator para salvação das almas, premiando, ainda mais, o
esforçado evangelismo daqueles crentes.
- Nesta afirmação, ainda, o Senhor Jesus mostra à Sua Igreja a real
origem de todo e qualquer movimento de perseguição à Igreja: o diabo.
Toda e qualquer perseguição, evidente ou indireta, tem sua origem no
inimigo de nossas almas. Não devemos, pois, nos iludir quanto aos
compromissos de todo segmento, movimento ou liderança que tem, por
finalidade, perseguir a Igreja do Senhor.
- A perseguição serve para o crente como uma “provação”, sendo este o
sentido da expressão “tentados” que se encontra em Ap.3:10, traduzido na
Bíblia de Jerusalém por “serdes postos à prova”. A “provação” tem por
finalidade fazer com que os servos de Cristo sejam “aprovados”, ou seja,
fazer com que a fé de cada um se ache em louvor, e honra, e glória, na
revelação de Jesus Cristo (I Pe.1:7), i.e., que a nossa fé seja
aperfeiçoada a fim de que alcancemos, na nossa glorificação, o devido
estágio reservado para nós. Trata-se, pois, de um bem, não de um mal
para cada um de nós. Entendamos isso e nos consolemos com estas
palavras. A conversão de almas que sempre segue à perseguição mostra,
claramente, como a perseguição nos traz a aprovação em Cristo, a ponto
de haver a máxima frutificação pelo nosso serviço ao Senhor.
- O Senhor também informou à igreja de Esmirna que ela sofreria “uma
tribulação de dez dias”,expressão que alguns estudiosos das Escrituras
interpretam como sendo “uma tribulação de curta duração”. Em se pensando
assim, o que se tem aqui é a afirmação do Senhor de que toda tribulação
é passageira, pois está sujeita ao tempo e a dimensão da vida terrena,
enquanto que o gozo que nos está reservado é eterno. A dimensão da
eternidade, a que o Senhor já aludira na Sua identificação no início da
carta, é mais uma vez realçada aqui. Por mais longa que possa parecer a
perseguição, a vida de aflições, tudo é “de curta duração” quando
comparamos com a glória que há de ser revelada para nós, com a dimensão
da eternidade. Como diz o poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo
Leivas Macalão: “Nada aqui é permanente, tudo tem que terminar, mas
olhamos para a frente, para o nosso eterno lar” (segunda estrofe do hino
215 da Harpa Cristã).
- Outros estudiosos entendem que a “tribulação de dez dias” mencionada
pelo Senhor Jesus diz respeito, também, às dez grandes perseguições que a
Igreja sofreu durante o Império Romano. Com efeito, desde o momento em
que o governo romano passou a perseguir a Igreja, tivemos, até a
promulgação do “Édito da Tolerância” de 312, em Milão, pelo imperador
romano Constantino, documento que põe fim às perseguições romanas contra
os cristãos, dez grandes perseguições, a saber: Nero (64-68), Domiciano
(68-96), Trajano (04-117), Marco Aurélio (161-180), Severo (200-211),
Máximo (235-237), Décio (250-253), Valeriano (257-360), Aureliano
(270-275) e Diocleciano (303-312).
- Estas grandes perseguições não retiram outras perseguições sofridas
pelos cristãos durante o Império Romano, perseguições menores,
localizadas e efetuadas por autoridades menores do Império. Estas dez,
porém, foram caracterizadas por terem sido decididas pelos próprios
imperadores e, embora nem todas tenham tido abrangência em todo o
Império, foram generalizadas. A pior das perseguições, aliás, foi,
exatamente, a última, empreendida por Diocleciano, que abrangeu todo o
Império.
- Por isso, aliás, dentro da perspectiva futurista de que cada igreja
da Ásia corresponde a um período da história da Igreja sobre a face da
Terra, há a identificação da igreja de Esmirna com o período das grandes
perseguições romanas, ou seja, com o chamado “período do martírio” que
se iniciaria por volta de 159, com o martírio de Policarpo de Esmirna e
de diversos crentes daquela igreja e iria até 312, quando termina a
perseguição romana contra os cristãos.
- Este período teria sido um período em que, para enfrentamento da
perda do primeiro amor que teria caracterizado o período anterior,
chamado pós-apostólico, que teria durado entre 100 e 159, o Senhor teria
permitido a perseguição cruenta dos romanos como forma de impedir o
desvio espiritual da Igreja e possibilitando que a falta de empenho
evangelístico se compensasse com o aumento de conversões por intermédio
do martírio. É também desta época o surgimento da “sinagoga de Satanás”,
ou seja, daqueles que procuravam, ainda sem êxito, levar para o
Cristianismo conceitos religiosos mundanos.
OBS: Entre os episódios que denunciam a presença da “sinagoga de
Satanás”, uma característica desta época estariam a questão surgida com
os “donatistas”, seguidores de Donato (?-355), bispo da Numídia e,
depois, de Cartago, que não admitia o retorno à Igreja dos que negavam a
Cristo nas perseguições, nem aceitava a validade dos sacramentos
ministrados por tais “traidores”, como também os próprios “gnósticos”,
cujas ideias levavam ao reconhecimento de um “sacerdócio” entre os
cristãos.
- Na perspectiva de que cada igreja da Ásia representa um tipo de
crente, temos aqui a figura da “igreja perseguida”, uma igreja cada vez
mais numerosa em nosso planeta, nestes dias difíceis que antecedem a
volta do Senhor, cujos sinais estão praticamente todos cumpridos,
inclusive o da intensificação da perseguição (Mt.24:9; Lc.21:12). Hoje,
em cada três crentes, um não tem liberdade para adorar ao Senhor no
mundo.
- A “igreja perseguida” deve ser constantemente lembrada em nossas
oraçõese temos de nos esforçar para ajudar os nossos irmãos que não têm o
privilégio que ainda temos, no Brasil, de adorar a Deus sem restrições,
ainda que o Brasil já tenha passado a figurar entre os países que
também perseguem o Evangelho de Jesus Cristo. Participemos dos esforços
de organizações como a “Missão Portas Abertas” (http://www.portasabertas.org.br),
que têm ajudado os cristãos perseguidos e nos empenhemos para que esta
igreja, tão querida pelo Senhor Jesus, tenha o nosso apoio. Dentre as
iniciativas interessantes para tanto, temos o “Domingo da Igreja
Perseguida”, que é o primeiro domingo após o Domingo de Pentecostes,
quando toda a igreja pode ser mobilizada em prol da “igreja perseguida”.
Em 2012, o “Domingo da Igreja Perseguida” será no dia 3 de junho e
maiores informações poderão ser obtidas no site http://www.domingodaigrejaperseguida.org.br.
IV – A PROMESSA DE VITÓRIA FEITA À IGREJA DE ESMIRNA
- O Senhor Jesus, após ter predito aos crentes de Esmirna o sofrimento
que estava por vir, foi enfático ao ordenar aos Seus servos: “Sê fiel
até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap.2:10 “in fine”).
- Apesar do sofrimento que era predito, o Senhor Jesus ordenou à igreja
de Esmirna que mantivesse a sua fidelidade: “sê fiel até a morte”. A
salvação é um processo que somente termina com a nossa passagem para a
eternidade, seja pela morte física, seja pelo arrebatamento da Igreja,
se estivermos vivos naquela ocasião (I Co.15:51,52; I Ts.4:17). A
salvação depende de nossa perseverança até o fim (Mt.24:13).
- Quando fazemos a nossa profissão de fé, por ocasião do batismo nas
águas, somos levados a assumir o compromisso de sermos fiéis ao Senhor
até a morte. Temos cumprido tal compromisso, amados irmãos? O Senhor
Jesus exige de cada um de nós a fidelidade até a morte, aconteça o que
acontecer, haja a tribulação e o sofrimento que houver.
- Àqueles que forem fiéis até a morte, o Senhor Jesus promete dar “a
coroa da vida”. O pastor José Serafim de Oliveira entende que “a coroa
da vida” é “a verdadeira vida eterna. Não apenas a vida biológica,
animal, mas a vida espiritual, a verdadeira vida que não envelhece, que
não se deteriora: VIDA DE DEUS.…” (op.cit., p;.17).
- O martírio é, sem dúvida, uma demonstração eloquente da fé em Cristo
Jesus, uma ação que leva a fidelidade ao limite máximo. Entendem, pois,
alguns que “a coroa da vida” se apresenta como um galardão, um prêmio
reservado a estes que, imitando o Senhor Jesus, deram suas vidas para
fazer a vontade de Deus. Trata-se de um privilégio que se concede a
alguns crentes de serem ainda mais semelhantes ao Senhor Jesus em sua
peregrinação terrena.
- Esta deferência especial aos mártires encontra respaldo no relato
bíblico do primeiro martírio, o de Estêvão, quando nos é indicado que,
para receber o Seu servo nos céus, o Senhor Jesus ficou de pé, em nítido
sinal de reconhecimento do gesto praticado por aquele eloquente diácono
(At.7:55,56).
OBS: Advém daí a crença de que os mártires ingressam diretamente na
glória e que poderiam, assim, interceder pelos crentes junto ao Senhor,
motivo por que, entre os católicos romanos, ortodoxos e anglicanos,
havendo prova de que alguém foi mártir, isto é suficiente para a sua
canonização ou beatificação. À evidência, porém, sabemos que não podem
os mortos interceder pelos vivos.
- Por fim, após a advertência de que os que têm ouvidos ouçam o que o
Espírito Santo diz às igrejas (Ap.2:11), expressão que, conforme já
vimos na lição anterior, significa que o que o Senhor Jesus disse à
igreja de Esmirna se aplica a todos os crentes, de todas as igrejas
locais, de todas as épocas, o Senhor faz a promessa de vitória desta
carta, a saber: “Ao que vencer não receberá o dano da segunda morte”.
- Aqui, em perfeita consonância com a Sua identificação no início da
carta, o Senhor lembra os crentes de Esmirna que, embora eles tivessem
de morrer fisicamente por causa do Evangelho, eles estavam livres da
“segunda morte”, que é a morte espiritual, a morte que sobrevirá a todos
quantos não receberem a Cristo Jesus como Senhor e Salvador e que, por
isso, serão condenados no juízo do trono branco, que ocorrerá após o fim
da história da humanidade (Ap.20:14).
- O Senhor Jesus lembra aos esmirnitas que a morte física decorrente da
perseguição e da manutenção da fidelidade nada representa para o
crente. A morte física, por primeiro, não afeta a vida eterna recebida
quando da salvação, pois o crente, na verdade, não morre, porque morte
significa separação e nem a morte nos pode separar do amor de Deus que
está em Cristo Jesus (Rm.8:38,39).
- Por segundo, a morte física, para o crente, é algo passageiro, pois,
quem morrer em Cristo há de ressuscitar no dia do arrebatamento da
Igreja (I Ts.4:13-16). Assim como a tribulação e o sofrimento, a morte
física, para os crentes fiéis, é algo passageiro, que findará no dia em
que o Senhor vier buscar a Sua Igreja.
- Por terceiro, a verdadeira morte, a morte espiritual, ou seja, a
separação eterna de Deus é algo completamente desconhecido e retirado da
vida do crente fiel. O Senhor Jesus diz que o crente fiel não receberá o
dano da segunda morte, não estará sequer no juízo do trono branco, onde
tal morte será sentenciada aos impenitentes. O crente fiel participará
da primeira ressurreição, terá ressurgido e sido glorificado no dia do
arrebatamento da Igreja e, por isso, não tem a menor possibilidade de
sofrer sequer o perigo de ser eternamente separado do Senhor (Ap.20:6).
- Por isso, mesmo diante da perspectiva do martírio, vale a pena servir
a Jesus, porque a morte física decorrente da fé em Cristo Jesus, além
de não significar qualquer separação de Deus, é passageira e representa a
certeza de que se está livre da morte que realmente importa, ou seja, a
morte espiritual.
- Foi por isso, aliás, que o Senhor Jesus disse, certa feita, que
devemos temer quem pode matar a alma e não quem pode matar o corpo
(Mt.10:28). O diabo, quando muito, pode matar o corpo, mas jamais poderá
matar a alma. Quem o faz é o dono da vida, ou seja, Nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Por isso, temamos a Cristo, temamos a Deus, ainda
que isto custe as nossas vidas físicas.
OBS: “…O diabo pode prender os corpos dos servos de Deus, mas não suas
almas nem seus espíritos, que podem deixar os seus corpos encarcerados e
votar às regiões celestiais sentindo o doce clima da gloriosa presença
do Senhor.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.17).
- Somente quem tem a visão da eternidade, somente quem está em comunhão
com o Senhor Jesus e já morreu para as coisas desta vida pode desfrutar
desta convicção e desta certeza. É esta a sua situação, amado irmão?
Sejamos, pois, fiéis até a morte e esperemos o dia em que trocaremos as
nossas cruzes, os nossos sofrimentos pela coroa que o Senhor nos reserva
nos céus. Amém!
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: PortalEBD
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