(Fp 3.1-10)
INTRODUÇÃO
Uma das principais características da Bíblia é a sua contemporaneidade.
Suas doutrinas e ensinos são atuais. Quando lemos as epístolas
paulinas, por exemplo, podemos ver claramente que os problemas que
surgiram nas igrejas do primeiro século, também ocorrem em nossos dias.
Consequentemente, os conselhos e ensinos apostólicos servem para a
Igreja do século XXI. Nesta lição, estudaremos o texto de (Fp 3.1-10),
onde veremos os ensinos paulinos sobre a alegria no Senhor; as
advertências quanto aos inimigos da fé; o significado da verdadeira
circuncisão; em que nós devemos nos gloriar; e, finalmente, quais as
prioridades da vida cristã.
I – A ALEGRIA NO SENHOR
Já vimos que a Epístola aos Filipenses foi escrita quando o apóstolo
Paulo estava preso em Roma (Fp 1.12,14). No entanto, ele não demonstra
angústia, tristeza ou frustração; pelo contrário, é nesta carta em que
ele mais descreve o seu regozijo (Fp 1.4,18; 2.2,17; 3.1; 4.1,4,10), bem
como o seu desejo que os irmãos de Filipos estivessem alegres (Fp 3.1).
O termo deriva-se do grego chairõ e significa “alegrar-se muito” ou “grande gozo”. O desejo do apóstolo era que os cristãos vivessem alegres, independente das
circunstâncias (II Co 1.5; 4.8,9; 7.4; I Ts 1.6). Mas, essa alegria só é
possível através da nossa fé em Cristo e da morada do Espírito Santo em
nós (Rm 12.12,15; 14.17; II Co 6.10; 13.11; Gl 5.22; Fp 2.18; 4.4; I Ts
5.16).
II - ADVERTÊNCIAS QUANTO AOS INIMIGOS DA FÉ
O apóstolo Paulo fez uma tríplice advertência acerca dos inimigos da fé em Fp 3.2. Três vezes ele diz: “guardai-vos”, ou seja, “vigiai”, “estai atentos”. Alguns estudiosos dizem que as expressões “cães...maus obreiros...circuncisão”,
não se trata de três classes de pessoas, mas, de apenas uma, os
judaizantes. Estes eram judeus cristãos que de tão apegados ao judaísmo,
ensinavam que os gentios, além de crer em Cristo, deveriam guardar a
circuncisão (Gl 5.2) e os dias santos judaicos (Gl 4.10). Os judaizantes
insistiam que a salvação vinha pelas obras da Lei. Por isso, o apóstolo
Paulo é tão taxativo quando se dirige a eles. Vejamos:
2.1 “Guardai-vos dos cães” (Fp 3.2-a). Os cães eram
considerados animais imundos na sociedade oriental. Eles não eram
domesticados como hoje, pois eram selvagens e viviam soltos como os
lobos. Paulo faz uso dessa comparação para dizer que os cristãos de
Filipos deveriam ter cuidado com os judaizantes para que suas doutrinas e
suas práticas não viessem macular a pureza da igreja. Semelhantemente, a
Igreja necessita estar vigilante quanto as heresias, ou seja, falsos
ensinos e falsas doutrinas, que podem
surgir, inclusive, no meio do povo de Deus (Gl 5.20; I Tm 4.1; II Pe 2.1-3).
2.2 “Guardai-vos dos maus obreiros” (Fp 3.2-a). Paulo
se referia aos falsos obreiros, como em (II Co 11.13) onde ele chama de
obreiros fraudulentos. Com certeza, estes eram homens que não tinham o
chamado divino para o ministério e nem as qualidades dos companheiros de
Paulo, tais como: fidelidade e zelo pela doutrina, como Timóteo e
Epafrodito (Fp 2.19, 25). Tal qual nos dias de Paulo, muitos falsos
obreiros têm se levantado no meio do povo de Deus, principalmente na
mídia televisiva, pregando um evangelho distorcido, sem cruz e sem
renúncia (Mc 8.34; Lc 9.23), conduzindo as massas a uma falsa
espiritualidade, onde os valores monetários são mais importantes do que
as virtudes da vida cristã (II Pe 2.3; I Co 13.13).
2.3 “Guardai-vos da circuncisão” (Fp 3.2-a). O termo grego usado por Paulo aqui é katatome que significa “falsa circuncisão”, em contraste com peritome, que quer dizer “circuncisão”.
Paulo faz uso desse termo para demonstrar que os judaizantes ensinavam
os cristãos gentios a se circuncidarem (At 15.5). O apóstolo declara,
que a verdadeira circuncisão é uma obra do Espírito no coração da
pessoa, pela qual o pecado e o mal são cortados (Rm 2.25-29; Cl 2.11).
Hoje, esses religiosos representam aqueles que estão mais preocupados
com rituais e liturgias religiosas do que ter um coração contrito e
quebrantado (Is 1.10-17; 57.15; Jr 6.20; Sl 51.17).
III – A VERDADEIRA CIRCUNCISÃO
O apóstolo deixa bem claro que a verdadeira circuncisão não é física, e sim, espiritual: “Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3.3). Vejamos:
3.1 “Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito” (Fp 3.3a). Enquanto
os judaizantes se gloriavam do pacto da circuncisão, Paulo ensina que a
verdadeira circuncisão é operada no coração (Rm 2.25-29; Ef 2.11; Cl
2.11). No original grego, o termo é latruo, que originalmente significa “servir por aluguel” ou, simplesmente, “servir”.
Nas páginas do NT essa palavra é usada para indicar o serviço ritual,
como vemos em (Hb 8.5; 9.9; 10.2; 13.10), mas também indica adoração e
serviço de modo geral (Lc 1.74; Rm 1.9).
3.2 “...e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não nos gloriamos na carne” (Fp 3.3b). Em
outras palavras, Paulo estava dizendo que a confiança do cristão não
deve estar baseada no esforço e sacrifício humano, e sim, no que Cristo
fez por nós. Enquanto os judaizantes se gloriavam na Lei e nos
sacrifícios mosaicos, que, embora importantes para os judeus, eram
apenas sombra das coisas futuras (Hb 8.5; 9.5; 10.1); nós nos gloriamos
em Cristo (I Co 1.31; II Co 10.17) e em sua cruz (Gl 6.14). A palavra
“carne” neste texto não indica “natureza má”, e sim, coisas humanas, ou
seja, as coisas feitas pelo homem em benefício próprio. A ideia de
gloriar-se na carne também é mencionada em (II Co 11.18; Gl 6.13,14).
IV – MOTIVOS PELOS QUAIS PAULO PODERIA SE GLORIAR
Em (Fp 3.4-6) Paulo declara que se os privilégios da carne tivessem
méritos próprios, ele teria, mais do que todos, muitos motivos para se
gloriar. Vejamos:
4.1 “Circuncidado ao oitavo dia”. A circuncisão era o
símbolo do pacto abraâmico (Gn 17.10-27; 21.4). Com esta expressão, o
apóstolo Paulo estava dizendo que ele não era um convertido à fé
judaica, nem fora admitido depois de adulto como um prosélito. Ele era
judeu de nascimento, e foi circuncidado ao oitavo dia, conforme a Lei
(Lv 12.3; Lc 1.59; At 7.8).
4.2 “Da linhagem de Israel”. Com estas palavras Paulo
estava afirmando que era da linhagem de Jacó, que posteriormente passou a
se chamar Israel (Gn 32.28; Rm 11.2). Consequentemente, ele declara que
não descendia de uma raça mista, como muitos habitantes da Palestina,
mas da descendência dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, que eram
herdeiros da promessa (Dt 1.8; 6.10; 9.5; II Rs 13.23).
4.3 “Da Tribo de Benjamim”. Paulo era da tribo de
Benjamim, uma herança extremamente considerada pelos judeus. De sua
tribo, havia nascido Saul, o primeiro rei de Israel (I Sm 10.20-24), de
quem se deriva o nome do próprio apóstolo, Saulo (I Sm 9.1,2). Para os
judeus isto tinha bastante relevância porque, quando as doze tribos se
dividiram –reino do Norte e reino do do Sul – somente Benjamim se
manteve fiel a linhagem de Judá (I Rs 12.21).
4.4 “Hebreu de Hebreus”. O termo hebreu deriva-se
de Eber, descendente de Sem, filho de Noé (Gn 10.21) e que, antes do
cativeiro babilônico falavam hebraico, mas, após o cativeiro, o
aramaico. Paulo declara que não era um meio-judeu, e sim, um judeu,
filho de pais judeus. Em outras palavras, ele estava dizendo que a sua
genealogia demonstrava que sua origem era judaica, tanto por parte de
pai como também de mãe.
4.5 “Segundo a lei, fui fariseu”. Os fariseus faziam
parte de um partido religioso cujo principal interesse era a observância
da Lei de Moisés. E Paulo foi um deles . Ele praticara desde a
infância, com grande zelo, tudo quanto os fariseus afirmavam ser
importantes (At 22.2; 23.6; 26.5).
4.6 “Segundo o zelo, perseguidor da Igreja”. Por causa
de seu zelo para com a Lei (Jo 16.1-3) e de sua sua ignorância e
incredulidade, Paulo, que também se chamava Saulo, desejou aniquilar os
seguidores de Jesus e exterminar o Cristianismo (I Co 15.9; Fp 3.6; I Tm
1.13). Por isso, ele pediu cartas ao sumo sacerdote para perseguir os
cristãos e conduzi-los presos à Jerusalém (At 9.2; 22.5; 26.12).
4.7 “Segundo a justiça que há na lei, irrepreensível”. O termo grego para “irrepreensível” é amemptos, que significa “inculpável”, “sem falta”, ou “sem nenhum defeito”. Isto demonstra claramente o quanto o apóstolo viveu de forma íntegra, procurando agradar a Deus, antes mesmo de sua conversão.
V- PRIORIDADES DA VIDA CRISTÃ
Depois de demonstrar que não tinha motivos para se gloriar na “carne”,
ou seja, rituais, genealogia e justiça própria, o apóstolo declara quais
são as prioridades da vida centralizada em Cristo (Fp 3.7,8). Vejamos:
5.1 “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo (Fp 3.7). Nesse
texto, Paulo demonstra que todos os seus privilégios raciais e zelo
pela observância da Lei era, na verdade, um empecilho para a autêntica
vida espiritual. A palavra “ganho” deriva-se do grego kerde e significa “vantagem”, “lucro”, “proveito”. Já o termo grego para “perda” é zemia, que quer dizer “dano”, “desvantagem”.
Em outras palavras, ele diz que tudo aquilo que ele considerava
importante e de valor duradouro, passou a considerar como “perda”. Ele
passou a ter um novo conceito de perdas e ganhos (cf Lc 9.23,24; I Co
3.21,23).
5.2 “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”
(Fp 3.8a). Paulo diz neste texto que, depois do
encontro com Cristo, todas as coisas que ele poderia se gloriar, como a
sua genealogia e partido religioso, por exemplo, passou a reputar como
perda pela excelência do conhecimento de Cristo.
5.3 “... pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3.8b). O
apóstolo declara que as coisas terrenas são, simplesmente,
incomparáveis, em relação a Cristo. É como aquele homem que achou um
tesouro escondido em um campo, e, por causa dele, vendeu tudo quanto
tinha e comprou o campo (Mt 13.44); ou como outro homem que vendeu tudo
quanto tinha para comprar uma pérola de grande valor (Mt 13.45,46).
CONCLUSÃO
Como pudemos ver, os mesmos conselhos paulinos para os filipenses,
servem também para nós hoje. Por isso, tal qual os crentes em Filipos,
devemos nos alegrar no Senhor, independente das circunstâncias; estar
atento quanto aos falsos obreiros, falsos mestres e suas heresias;
compreender que a verdadeira circuncisão é espiritual; e, por isso,
devemos reconhecer que não devemos nos gloriar na carne, ou seja,
genealogia, religião e justiça própria, mas, em Cristo, pois Ele é o
nosso maior tesouro e a razão do nosso viver.
REFERÊNCIAS
· Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. CPAD.
· CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado Versículo por Versículo. HAGNOS.
· MARTIN, Ralph P. Filipenses, Introdução e Comentário. VIDA NOVA.
· STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
COMENTÁRIOS- SUPERINTENDÊNCIA DAS EBD'S DA ASSEMBLEIA DE DEUS EM RECIFE/PE
Fonte: http://www.rbc1.com.br/licoes-biblicas/index/cod/278 Acesso em 12 ago. 2013.
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