3º
TRIM/2015
(Tt 2.11-14; 3.4-6)
INTRODUÇÃO
Escrevendo para o cooperador Tito em Tt 2.11-14, o apóstolo Paulo fala
sobre a graça de Deus manifesta através de Cristo para salvar o homem pecador.
Nesta lição traremos a definição desta palavra tanto no AT quanto no NT;
destacaremos qual a perspectiva paulina sobre este favor de Deus; trataremos da
questão bíblico teológica da graça de Deus e da responsabilidade humana; e, por
fim, pontuaremos quais os principais benefícios da graça.
I
– DEFINIÇÃO DA PALAVRA GRAÇA
“O conceito de graça é multiforme e
sujeito a desdobramentos nas Escrituras. No AT, 'hen', significa:
'favor' É o favor imerecido de um superior a um subalterno. No caso
de Deus e do homem, 'hen' é demonstrado por meio de
bençãos temporais, embora também o seja por meio de bênçãos espirituais e
livramentos, tanto no sentido físico quanto no espiritual (Jr 31,2; Êx 33.19).
No NT, é charis, que indica 'graciosidade', 'atrativo',
'favor'. Foi com a vinda de Cristo que a graça assumiu seu
significado pleno. O seu auto sacrifício é a graça propriamente dita (2 Co
8,9). Esta graça é absolutamente gratuita (Rm 6.14; 5.15-18; Ef 1.7; 2.8,9).
Quando recebida pelo crente, ela governa sua vida espiritual compondo favor
sobre favor. Ela capacita, fortalece e controla todas as fases da vida (2 Co
8.6,7; Cl 4.6; 2 Ts 2.16; 2 Tm 2,1)” (WYCLIFFE, 2007, p. 876 – acréscimo
nosso).
II
– A PERSPECTIVA PAULINA SOBRE A GRAÇA
“O
apóstolo Paulo foi o principal instrumento humano para transmitir o pleno significado
da graça em Cristo. Por isso foi intitulado por alguns estudiosos da Bíblia
como 'o apóstolo da graça'. A graça em sua mais completa
definição é o favor imerecido de Deus ao nos dar seu Filho, que oferece a
salvação a todos, e dá aqueles que o recebem como Salvador pessoal, uma graça
acrescentada para esta vida e uma esperança para o futuro” (WYCLIFFE, 2007, p.
876 – acréscimo nosso). À luz de Tito 2.11-13 destacaremos algumas verdades bíblicas sobre a graça:
2.1
A fonte da graça (Tt 2.11-a). No referido
texto, Paulo nos diz que a graça procede de Deus: “Porque a graça de
Deus[...]” (Tt 2.11-a). “No original grego é usado o genitivo
possessivo, porque o favor lhe pertence; mas também 'vem' dEle, como sua fonte
originária. Tal como por toda a parte da Bíblia, aprendemos que Deus é o grande
benfeitor dos homens (I Co 15.10; I Pe 5.10)” (CHAMPLIN, 2006, p. 432 –
acréscimo nosso).
2.2
O canal da graça (Tt 2.11-b). Segundo
a Bíblia Deus manifestou a sua graça em toda a sua plenitude na Pessoa de Seu
Filho, Jesus Cristo (II Co 8.9; 13.13; Gl 1.6; 6.18; Ef 2.7; Fp 4.23; Ap
22.21). O mediador da dispensação da Lei foi Moisés, mas o mediador da
dispensação da graça foi Cristo Jesus (Jo 1.17). “A expressão 'manifestar' no original se relaciona
ao substantivo 'epifania', ou seja, 'aparecimento' ou
'manifestação' (por exemplo, do sol ao amanhecer). A graça de Deus surgiu
repentinamente sobre os que estavam nas trevas e na sombra da morte (Ml 4.2; Lc
1.79; At 27.20; Tt 3.4). Ela despontou
quando Jesus nasceu, quando de seus lábios emanaram palavras de vida e beleza,
quando curava os enfermos, limpava os leprosos, expulsava os demônios,
ressuscitava os mortos, sofreu pelos pecados dos homens e quando deu sua vida
pelas ovelhas para a reassumir na manhã da ressurreição” (HENDRIKSEN, 2001, p.
453).
2.3
O propósito da graça (Tt 2.11-c).
Paulo nos diz que a graça de Deus se manifestou através de Cristo com um
propósito sublime “[...]trazendo salvação[...]”. “É usado aqui
o adjetivo 'soterios', que indica uma graça que proporciona a
salvação, e não meramente algum favor divino secundário, conforme há tantas
manifestações dessa ordem (Sl 104.10-30; 145.16; Mt 5.45; At
14.16-17; Rm 9.22). A salvação mencionada nesse texto, consiste na transformação
moral e espiritual segundo a imagem de Cristo para que sejamos aquilo que Ele é
e para que compartilhemos de sua natureza essencial, chegando a ser possuidores
daquilo que ele possui (Rm 8.17,29), para que recebamos 'toda a plenitude
de Deus' (Ef 3.19), em suas perfeições, atributos comunicáveis e
natureza, e para que participemos da própria natureza divina (II Pe 1.4)” (CHAMPLIN, 2006, p. 432).
2.4
O alcance da graça (Tt 2.11-d). Desde
o início, a proposta divina sempre foi estender a bênção da salvação a todos os
homens indiscriminadamente (Gn 12.3; Gl 3.8). O sentimento ultranacionalista
dos judeus fechou seus olhos a esta realidade de que, Deus os levantou a fim de
serem uma nação evangelizadora para todos os povos (Is 42.6; 49.6; Rm 2.17-20). Todavia, a
vinda do Messias mostrou claramente que Deus não faz acepção de pessoas (At
10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; I
Pe 1.17). Sua graça alcança os judeus e os gentios (Rm 3.29; 9.24,30; Gl 3.14;
Ef 3.6).
2.5
O poder da graça (Tt 2.12). A graça
tem poder transformador na vida daquele que a recebe por fé. O apóstolo Paulo
diz que ela ensina a renunciar o antigo estilo de vida “[...]à impiedade
e às concupiscências mundanas[...]” e a adotar um novo padrão de vida
segundo a Palavra de Deus “[...]vivamos neste presente século sóbria, e
justa, e piamente[...]”. “A expressão “ensinar “no grego é o
verbo “paideuo”, “treinar crianças”, embora também
tivesse o sentido geral de “criar”, de “educar”, de
“disciplinar” (CHAMPLIN, 2006, p. 432). “O verbo usado no original é do mesmo teor que o substantivo pedagogo que é alguém que conduz as crianças passo a passo. A graça educa
ensinando
(At 7.22; 22.3), disciplinando (I Tm 1.20; II Tm 2.25), aconselhando,
confortando, incentivando, admoestando, guiando, convencendo” (HENDRIKSEN, 2001, pp. 454,455 – acréscimo nosso). As três virtudes que Paulo cita em Tt 2.12-b definem, sucessivamente, o
relacionamento do cristão consigo mesmo, com o próximo, e com Deus, como
veremos a seguir:
AS TRÊS ÁREAS DE ATUAÇÃO DA GRAÇA
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VIRTUDES DA GRAÇA (Tt 2.12)
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No relacionamento consigo mesmo
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Sobriedade (equilíbrio; autocontrole;
moderação)
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No relacionamento com o próximo
|
Justiça (aquilo que é direito;
imparcial; correto)
|
No relacionamento com Deus
|
Piedade (bom temor)
|
2.6
A esperança da graça (Tt 2.13). O Aurélio define esperança como “o ato ou
efeito de esperar o que se deseja”, “expectativa”, “fé
em conseguir o que se deseja”. Esperança é a certeza de receber as
promessas feitas por Deus através de Cristo Jesus (Rm 15.13; Hb 11.1) e uma sólida
confiança em Deus (Sl 33.21,22). O termo deriva-se do grego “elpis”
e significa “expectativa favorável e confiante” (Rm 8.24,25).
Após alcançado pela graça, salvo e transformado, o pecador redimido passa a ter
a expectativa da segunda vinda de Cristo para buscar a sua igreja (Fp 3.20; Cl
1.5; II Ts 2.16).
III – A GRAÇA DE DEUS E A PARTICIPAÇÃO HUMANA
COSMOVISÕES ACERCA DA GRAÇA DIVINA
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DEFINIÇÃO
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O QUE A BÍBLIA DIZ
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Monergismo
Do grego monós, “único” + ergon,
“trabalho”.
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Doutrina que atribui a conversão do ser humano,
única e exclusivamente, a ação do Espírito Santo.
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A salvação é um dom divino dado por graça ao homem
(Ef 2.8); não pelas obras para que ninguém se glorie (Ef 2.9).
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Sinergismo
Do grego syn,
“com” + ergon “trabalho”.
|
Doutrina
que diz que a vontade do homem é uma realidade, podendo responder,
positivamente, à graça divina, devendo fazer parte daquilo que a graça divina
realiza.
|
A Escritura também nos mostra que apesar da salvação
ser uma providência divina, cabe ao homem responder positivamente a ela (Jo
3.16-18; At 3.19; 17.30; Rm 10.9).
|
IV – OS PRINCIPAIS
BENEFÍCIOS DA GRAÇA SEGUNDO A TEOLOGIA PAULINA
4.1 Adoção. No NT, o vocábulo descreve
o ato pelo qual Deus recebe, como filho, alguém que, legal e espiritualmente,
não goza do direito de tê-lo como Pai. A partir deste momento, passa esse
alguém a desfrutar de todos os privilégios que Deus preparou àqueles que
aceitam a Cristo como único e suficiente Salvador (Rm 8.15,23; 9.4; Gl 4.5; Ef
1.5).
4.2 Justificação.
Processo judicial que se dá junto ao
Tribunal de Deus, através do qual o pecador que aceita a Cristo é declarado
justo (At 13.39; Rm 3.24; 5.1; I Co 6.11; Gl 3.24).
4.3 Regeneração. Milagre que se dá na vida de quem aceita a
Cristo, tornando-o participante da vida e da natureza divina. Através da qual o
homem passa a desfrutar de uma nova realidade espiritual (II Co 5.17; Tt
3.5; I Pe 1.23).
4.4 Santificação. É a forma
pela qual o nascido de novo é aperfeiçoado à semelhança do Pai Celeste, por
meio do sangue de Cristo, da Palavra e do Espírito Santo (Jo 15.3;
17.17; I Co 6.11; I Jo 1.7; Rm 8.1).
4.5 Glorificação. No plano da salvação, a glorificação é a
etapa final a ser atingida por aquele que recebe a Cristo como Salvador e
Senhor de sua alma. A glória de Cristo será partilhada plenamente com seus
santos no arrebatamento da igreja. (Fp
3.20,21; I Co 15.51-54).
CONCLUSÃO
Deus fez brilhar sobre os homens o seu favor
através de seu bendito Filho, Jesus Cristo. Compete ao homem pela fé aceitar
esta graça, reconhecendo que somente por ela, ele, poderá ser redimido da
condenação do pecado.
REFERÊNCIAS
·
ANDRADE, Claudionor de.
Dicionário Teológico. CPAD.
·
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e
Filosofia. HAGNOS.
- HENDRIKSEN,
William. Comentário do Novo Testamento. CULTURA CRISTÃ.
·
PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário Bíblico Wyclliffe. CPAD.
·
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Fonte: http://portal.rbc1.com.br/licoes-biblicas/baixar-licao/cod/399
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