2º TRIMESTRE
DE 2016 (Rm 7.1-15)
INTRODUÇÃO
Na
lição de hoje estudaremos o papel do cristão em relação à Lei, a carne e o
Espírito. Paulo apresenta um estudo a respeito desses temas no capítulo sete.
Ele se utiliza de três analogias para discorrer sobre os assuntos: a analogia
do casamento, a analogia de Adão no paraíso e a analogia da carne versus o
espírito.
I - AS TRÊS ANALOGIAS
DE ROMANOS 7
Romanos
7 é um dos capítulos de maior complexidade para se interpretar de toda a
Bíblia. A lei tem domínio sobre o homem durante toda a sua vida. Vejamos
três analogias que o apóstolo usa:
1.1 A analogia do casamento
(Rm 7.1-6). Paulo compara a lei com um marido e os
crentes com uma esposa e usou o casamento para mostrar o nosso relacionamento
com a Lei. Paulo usa a analogia da morte de um cônjuge no casamento para
ilustrar a morte do crente para a lei, pelo fato de ele estar unido com Cristo
(Rm 7.1-6). Isto significa que tendo “morrido” somos exonerados de toda
obrigação e dever para com a Lei, e que ficamos livres para nos “casar”
novamente. Desta vez nos casamos, não com a Lei, mas com Cristo (BARCLAY, sd,
p. 102). A culpa não é do marido (a Lei), pois é perfeito, santo, justo e bom.
O problema é que essa esposa (homem) nunca consegue agradá -lo, pois é
imperfeita, carnal, rendida ao pecado e sempre frustra as expectativas do
marido. Na metáfora do casamento, o marido morre e a esposa casa-se novamente. No
caso em apreço, contudo, não é o marido quem morre (a lei), mas a
esposa (o crente). O crente morre ao identificar-se com Cristo na sua
morte. Assim como a morte do marido liberta a esposa do vínculo
pela morte de Cristo recebemos nossa libertação de todas as exigências da lei
(LOPES, 2010, p. 259).
1.2
A analogia de Adão (Rm
7.6-13). Paulo se via em Adão mostrando que ele é o
cabeça e representante da raça humana. Logo, é o objetivo do apóstolo
vincular a desobediência de Adão a toda humanidade, pois, Paulo mostra que ele
é o cabeça e representante da raça humana, e, se Adão pecou, logo todos
pecaram. As palavras de Paulo "eu vivi sem lei" (Rm
7.9), só têm sentido se aplicado na vida do primeiro homem, pois Paulo como
fariseu e judeu que era vivia a lei desde a infância (2Tm 3.15). Paulo explica
que como descendência de Adão estamos em ruína (Rm 5.9), em pecado (Rm
5.12,15,21), mortos (Rm 5. 12,16,21), separados de Deus (Rm 5.18), em
desobediência (Rm 5.12,19) e em punição (Rm 5.18).
1.3
A analogia da carne versus o
espírito (Rm 7.14-25). Paulo faz uma analogia para
mostrar a luta da carne com o Espírito falando de um conflito entre a
nossa “nova natureza” em Cristo e o “velho homem”
residente em nós. Paulo chama a atenção para o viver "em novidade do
Espírito" (Rm 7.6) como forma de vencer as inclinações da carne.
Esse conflito é inevitável, pois, duas leis se chocam, a lei do pecado e a lei
de Deus. Podemos chamá-las de “lei carnal e lei espiritual”. O
campo de batalha
entre
essas duas forças é interior ao homem e o apóstolo declara que o problema não
está na Lei de Deus, mas na natureza pecaminosa do homem. Essa escravidão
envolve toda a personalidade do homem (CABRAL, 2005, pp 85,86).
II - A MORTE DE
CRISTO E A MORTE DA LEI
2.1
A analogia da “morte” para a
Lei (Rm 7.1-11). A apóstolo Paulo fala sobre
esta “morte para a Lei (Rm 7.4-6). Estar em Cristo e “estar morto para a
lei” aponta para uma mesma condição diante de Deus, ou seja, uma nova criatura.
Dizer que o cristão está “em Cristo” é dizer que ele é uma nova criatura. Dizer
que o cristão está “morto para a lei” é o mesmo que dizer: você é uma nova
criatura (2Co 5.17 ).
2.2
A lei do matrimônio e a Lei
de Deus. Como já vimos acima, um cônjuge não está mais
ligado pela lei matrimonial com o consorte falecido. A morte liberta a
ele ou a ela dessa lei e semelhantemente, a morte de Cristo, que compartilhamos
em nossa união com Ele, nos liberta de todas as obrigações legais constantes na
Lei de Deus. Com esta analogia, Paulo mostra que os salvos em Cristo, pela fé,
já estão livres da lei do pecado e agora pertencem a Jesus Cristo. Em Cristo,
estamos “mortos” para a lei do pecado (RICHARDS, 2012, p. 743).
2.3
A analogia da morte de
Cristo e a nova condição dos homens como livres da lei e do pecado. Foi
através do corpo humano que Deus preparou para o seu Filho (Hb 10.5),
que os cristãos passaram a estar mortos para a Lei. Quando Paulo faz referência
ao corpo de Cristo, ele está fazendo referência à morte de Cristo, ou seja, ao
corpo que foi apresentado imaculado como oferta a Deus. Deste modo, por causa
do corpo de Cristo, que foi entregue pelos pecadores, os cristãos estão mortos
para a lei (2Co 5.14,15). Ora, foi através da oferta do corpo de Cristo que os
cristãos deixaram a condição de “velha criatura” e passaram à condição de “nova
criatura” (Hb 10.10). Os cristãos andam em novidade de vida porque ressurgiram
com Cristo, ou seja, só é possível ‘andar em novidade de vida’ quando se vive
no Espírito, ou seja, após morrer e ressurgir com Cristo (Rm 6.4; Gl 5.25).
III - A SANTIDADE DA
LEI
O
apóstolo levanta duas perguntas importantes sobre o caráter da lei: A lei é
pecado? (Rm 7.7). E a causadora da morte? (Rm 7.13). Ambas as perguntas têm a
mesma resposta: “De modo nenhum!” (Rm 7.7,13). Diante do exposto, levantamos
dois pontos:
3.1 Em
primeiro lugar, as virtudes da lei (Rm7.12). A lei
é santa e o mandamento, santo, justo e bom. Em si mesma a lei é valiosa
e esplêndida. O significado básico do termo hagios, “santo”, é diferente.
Descreve o que provém de uma esfera alheia a este mundo, algo que pertence a um
campo que está mais além da vida e da existência humana. A lei é também justa.
E ela que estabelece todas as relações, humanas e divinas. Finalmente, Paulo
diz que a lei é boa, ou seja, foi promulgada para promover o supremo bem. Na
qualidade de santa, justa e boa, a lei reflete o caráter de Deus, sendo a cópia
de suas perfeições.
3.2
Em segundo lugar, a
malignidade do pecado (Rm 7.13). A lei não é a
causadora da morte, mas sim o pecado, assim como o problema de um
criminoso não é a lei, mas sua transgressão. Ao exigir de mim o que não faço, a
lei me condena e me leva à morte. A lei não me deu poder para fazer o que era
certo nem para evitar o que era errado. Mas não há falha na lei; a falha está
em mim que não consigo obedecer. Desta forma, a lei revela a gravidade do meu
pecado, que produz a morte. Sendo santa, a lei mostra o caráter maligníssimo do
meu pecado.
IV - O MINISTÉRIO DA
LEI
Se a lei não é pecado (Rm 7.7) nem provoca a
morte (Rm 7.13), qual é seu papel? Qual é seu ministério? Qual é seu propósito?
Paulo oferece três respostas:
4.1
Em primeiro lugar, o
propósito da lei é revelar o pecado (Rm 7.7). O
pleno conhecimento do pecado vem pela lei (Rm 3.20). A lei é um espelho
que revela o ser interior e mostra como somos imundos (Tg 1.22-25). É como um
prumo que mostra a sinuosidade da nossa vida. E como um raio-X que diagnostica
os tumores infectos da nossa alma. A lei detecta as coisas ocultas na escuridão
e as arrasta à luz do dia. É a lei que destampa o fosso do nosso coração e traz
à tona a malignidade do nosso pecado.
4.2
Em segundo lugar, o
propósito da lei é despertar o pecado (Rm 7.8). A lei
não só expõe o pecado, mas também o estimula e o desperta. Tudo o que é
proibido desperta em nós desejo imediato. O pecado encontra no mandamento uma
base para despertar em nós toda sorte de desejos. A lógica de Paulo é
irrefutável: sem lei, está morto o pecado (Rm 7.8). Onde não há proibição, não
há transgressão. Sem lei, o pecado não pode ser caracterizado juridicamente (Rm
5.13). Unicamente pelo encontro com a lei o pecado se torna passível de ação
judicial. No entanto, pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.
4.3 Em
terceiro lugar, o propósito da lei é condenar o pecado (Rm 7-9-11). Onde
não há lei, também não há transgressão. Por isso, sem lei o homem tem a
sensação de que está vivo. A expressão de Paulo: “Sem a lei, eu vivia”. A
palavra “vivia” não pode ter o sentido de vida eterna ou de vida para Deus.
Paulo falava sobre a vida baseada na justiça própria, sem perturbações e
autocomplacente, que ele levava antes de agirem sobre ele as comoções
turbulentas e a convicção de pecado descritas nos versículos anteriores. O
propósito da lei não é matar, mas dar vida. Contudo, aquilo que era destinado a
nos dar vida nos matou, porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo
mesmo mandamento nos enganou e nos matou. Assim, o propósito da lei não é
apenas revelar e despertar o pecado, mas também condená-lo.
V - O ESPÍRITO E A
NOVIDADE DE VIDA
5.1
Somente após o homem ser
gerado de novo através da fé em Cristo é possível servir a Deus em espírito .
Paulo demonstra que os judeus não serviam a Deus, antes, só tinham zelo,
porém, sem entendimento (Rm 10.2). Por quê? Porque só é possível servir a Deus
em espírito e em verdade, ou seja, quando o homem é gerado do Espírito, é o
mesmo que ser circuncidado no coração. Somente em Cristo é possível ao homem
alcançar a condição de servir a Deus em espírito (Jo 4.23). A condição “em
espírito” só é possível quando o homem é gerado de Deus (Jo 3.6).
5.2
Somente após o homem
“morrer” para o que estava retido (a Lei) é possível servir a Deus em espírito.
Através da circuncisão do coração!
Quando Moisés apregoou a circuncisão do coração ao povo de Israel, tal
circuncisão só era possível através da fé em Deus, Aquele que tem o poder de
circuncidar o coração, ou seja, Ele transforma o homem gerado em Adão e concede
um novo coração (Dt 30.6). Somente após alcançar novo coração (novo nascimento)
o homem compreende a Palavra de Deus (Dt 29.4).
5.3
A lei de Moisés (velhice da
letra) não poderia proporcionar o novo nascimento. O
objetivo de terem morrido para a lei, ou antes, morrido com Cristo é
para servirem a Deus com um novo espírito e um novo coração (Ez 36.25-27). Ora,
o novo coração e o novo espírito só são possíveis alcançar através da
regeneração em Cristo. Somente o evangelho de Cristo, que é a “água limpa
aspergida pelo Espírito Eterno”, faz nascer o novo homem para louvor de sua
glória (Jo 3.5; Ez 36.26). É através do
evangelho que o homem recebe
poder para ser criado em verdadeira justiça e santidade (Jo 1.12; Ef 4.24). Ao
escrever aos cristãos de Coríntios (2Co 5.17). Paulo aponta a nova condição dos
cristãos efetiva no presente. Ora, se alguém (sujeito indeterminado) está
(presente) em Cristo (condição), é uma nova criatura.
CONCLUSÃO
O
crente justificado é sepultado pela morte para o pecado e surge para uma nova
vida em Cristo, uma nova disposição na relação com Deus. Uma nova identidade,
não mais relacionada ao primeiro Adão, mas da descendência de Cristo, o segundo
Adão, e membro de sua família. Esta nova vida, não significa que o crente nunca
mais irá pecar, mas que não viverá na prática do pecado, como seu escravo.
REFERÊNCIAS
·
BARCLAY, William. Comentário Bíblico de
Romanos. PDF
·
RICHARDS, Lawrence, Guia do Leitor da
Bíblia: Uma análise de Génesis a Apocalipse. CPAD.
·
CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho
da Justiça de Deus. CPAD.
·
RHODES, Ron. O Cristianismo Segundo a
Bíblia. CPAD.
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