Os desafios do cristão no ambiente universitário
A notícia sobre a pesquisa que identificou que nos Estados Unidos
aproximadamente apenas 40% dos jovens continuam na igreja depois da
formatura, e que apenas 16% dos calouros da faculdade se sentem bem
preparados pelos ministérios de jovens de suas igrejas para continuarem
na igreja depois do período escolar (CPAD News), coloca em debate a velha polêmica entre fé cristã e vivência universitária.
Estudo idêntico realizado em 2006 por Steve Hernderson, presidente do
Instituto Consulting for Colleges and Ministries, também demonstrou que
na época cerca de 58% dos jovens cristãos nos Estados Unidos se
afastaram da igreja ao ingressar à universidade. A pesquisa foi também
aplicada dentro das universidades brasileiras e o resultado foi
basicamente o mesmo.
Todavia, nesta nova avaliação, realizada pelo Instituto Juventude
Completa, um ponto geralmente desprezado foi agora enfocado. Conforme
relata a matéria, “os jovens não estão abandonando a sua fé por causa de
um ambiente universitário hostil - como professores universitários e
seus colegas que confundem suas crenças”. Para o professor associado de
Sociologia na Faculdade de New Jersey, Tim Clydesdale, “o que muitos
estudantes universitários estão fazendo, no entanto, é armazenar as suas
crenças e práticas religiosas em um cofre de identidade”.
Em outros termos, o problema do desvio (ou esfriamento espiritual) dos
adolescentes e jovens cristãos foi deslocado da pressão exercida pela
educação anti-teísta (motivo externo), para a ausência de identidade
cristã (manifestação pública da sua crença) por parte do próprio jovem
(motivo interno).
Universidade: ambiente de desafios
O ambiente universitário sempre foi desafiador ao cristão. Ocorre que a
própria vida cristã é por si mesma um enorme desafio. A questão é que a
universidade possui a agravante de expor educacionalmente os crentes
aos ensinamentos de [alguns] pensadores e filósofos ateus, agnósticos ou
céticos que formularam críticas ferrenhas contra Deus e a Igreja, como é
o caso de Voltaire, Nietzche, Bertrand Russel, David Hume, Michel
Foucault e outros.
Como observou Phillip E. Johnson no prefácio do livro Verdade Absoluta
(Nancy Pearcey, CPAD, p. 12), “cedo ou tarde o jovem descobrirá que os
professores da faculdade (às vezes, até professores cristãos) agem
conforme a suposição implícita de que as crenças religiosas são o tipo
de coisa que se espera que a pessoa deixe de lado quando se dá conta de
como o mundo de fato funciona; e que, em geral, é louvável ´crescer´
afastando-se gradualmente dessas crenças como parte do processo natural
de amadurecimento”.
Além disso, o mundo acadêmico potencializa o risco do abandono da fé em
virtude da nova percepção de vida que o jovem geralmente possui no
período em que cursa o nível superior, que coincide com uma fase de
busca de maior liberdade, independência e tentativa de rompimento com os
paradigmas anteriormente vivenciados, principalmente a religião.
Não bastassem tais fatores, é possível mencionar ainda a influência
negativa exercida pelas más associações (Sl. 1), resultado da amizade
com pessoas destituídas de propósito e perspectiva de vida, os quais
estão mais preocupados em “curtir” a vida por meio da sexualidade
hedonista, consumo de álcool e drogas, ao invés de se dedicarem aos
estudos.
A importância do estudo universitário
Apesar desses indicadores nocivos à vida cristã, [em parte] comprovados
pelas pesquisas anteriormente mencionadas, a inserção do cristão nas
universidades continua sendo algo vital. Utilizo a expressão “em parte”
porque os estudos mencionados não traçam o paralelo para apontar o
diferencial entre o abandono da fé cristã daqueles que ingressam no
estudo de nível superior em relação àqueles que não ingressam. Tal
paralelo seria importante para quebrar alguns mitos, afinal o percentual
de jovens que abandonam a fé cristã independentemente de cursarem uma
faculdade também é muito alto.
Frank Turek, que há pouco tempo debateu sobre esse tema nos Estados Unidos, conforme publicação do Christian Post,
de igual forma concluiu que o abandono da fé também é gritante entre os
que não vão para a faculdade. Turek ressalta que após o término do
ensino médio é comum que jovens cristãos pretendam dar uma pausa para o
seu relacionamento com a igreja. Ele afirma ainda que isso ocorre tanto
em relação aos católicos quanto aos evangélicos, e que isso se deve em
grande parte ao “cristianismo fácil e de entretenimento” tão pregado
atualmente, o qual não incentiva as pessoas a desenvolverem uma vida
cristã focada na verdade, mas sim na emoção.
De qualquer forma, reforço a afirmação de que a inserção do cristão no
mundo acadêmico continua sendo algo vital, apesar das pesquisas. Isso
porque, exatamente dos bancos das universidades estão saindo os líderes
que irão influenciar culturas e ditar o(s) caminho(s) da política e da
educação. Nesse sentido, se negligenciarmos o ensino de nível superior
por causa do ataque à fé cristã, estaremos também negligenciando a
necessidade de influenciar a cultura, a política e a educação por meio
do evangelho de Cristo.
Parafraseando James Dobson, citado no livro As portas do inferno não
prevalecerão (CPAD, p. 183) é possível dizer que: As crianças (e os
jovens) são o prêmio aos vencedores da guerra social. Aqueles que
controlam o que é ensinado aos jovens e o que eles vivenciam – o que
vêem, ouvem, pensam e acreditam – determinarão os rumos do futuro da
nação. Sob esta influência, o sistema de valores predominante de toda
uma cultura pode ser redirecionado em uma geração, ou certamente em
duas, por aqueles que têm acesso ilimitado aos jovens.
Preparando os jovens cristãos
Cientes desse cenário, ao invés de a igreja desestimular a ida dos
cristãos para a universidade, precisa quebrar a velha e ultrapassada
dicotomia entre fé e educação superior, preparando os cristãos a
testificar sobre o Reino naquele ambiente. E felizmente isso tem sido
cada vez mais frequente, com o surgimento de instituições que visam
ajudar o cristão a viver a fé dentro do campus, como por exemplo a ABU –
Aliança Bíblica Universitária e a Agência Pés-Formosos.
A preparação a que me refiro pode se dar em dois aspectos:
Primeiro, em relação ao ataque contra Deus e o cristianismo, o preparo
precisa ser intelectual. Os jovens precisam receber educação cristã de
qualidade, especialmente apologética, com vistas a rebater os argumentos
que lhes são apresentados. Como bem escreveu Nancy Pearcey, “a
apologética básica tornou-se habilidade crucial para a simples
sobrevivência. (…) A tragédia é representada inúmeras vezes quando os
adolescentes cristãos arrumam as malas, despedem-se dos pais e vão para
universidades seculares, apenas para perder a fé antes de se formarem,
tornando-se presas das mais recentes novidades intelectuais” (Verdade
Absoluta, CPAD), p. 142).
Segundo, no que se refere à identidade do cristão, a preparação é
eminentemente espiritual. O testemunho do jovem crente dentro da
universidade decorre da sua comunhão com o Senhor, baseado em uma vida
de entrega devocional irrestrita. Nesse caso, a espiritualidade
vivenciada apta a produzir frutos não se contenta com o simples
nominalismo, antes, deve estar consubstanciada em um compromisso
verdadeiro de uma vida de dependência ao Senhor, oração e leitura da
Bíblia. Nesse sentido, fazendo outra paráfrase, agora das palavras de
Jesus, baseado em tudo o que já foi dito. Não peçamos para que Deus tire
os jovens cristãos do campus (mundo), mas que os livre do mal (Jo.
17.15).
Valmir Nascimento
Fonte: http://cpadnews.com.br
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