Por Ciro Sanches Zibordi
Para os defensores do evangelho
ecumênico – do grego oikoumenikós, “aberto para o mundo inteiro” -,
todas as religiões possuem pontos de concórdia, que devem ser
considerados mais importantes que os de discórdia. Tal principio,
difundido pela Igreja Católica Romana, pelas filosofias orientais e pela
Nova Era (crença que prega a paz mundial mediante a união de todas as
crenças), vem ganhando força entre alguns segmentos considerados
evangélicos.
Ao apoiar tal pensamento, ainda
que de forma sutil, alguns teólogos da atualidade – que Pedro preferiria
chamar de falsos doutores (2 Pd 2.1-2) – afirmam que não há tanta
diferença entre cristianismo e esoterismo, sendo possível uni-los
mediante práticas supostamente comuns a ambos, como a meditação.
Para enfatizar quão impossível
é, do ponto de vista bíblico, conciliar verdade e mentira, luz e trevas,
cristianismo e esoterismo (2 Co 6.15-18), farei uma breve abordagem
sobre a meditação, mostrando como ela é entendida por esotéricos e
evangélicos, e qual a diferença entre ambas as formas de praticá-la.
Meditação transcendental
O que é meditação, a luz do
esoterismo? Trata-se de prática oriunda dos hindus e budistas, por meio
da qual se obtém uma compreensão sobre a “verdade”. Segundo o budismo,
mente e coração são “recipientes de águas barrentas”, agitadas pela as
atividades do dia-a-dia. Através da ioga (do sânscrito yoga, “união,
conexão”), essas águas deixam de ser remexidas e ficam claras.
Meditar implica sentar-se ao
chão com a coluna ereta, braços esticados, pernas quase entrelaçadas e
permitir, através da quietude, que haja calma mental. Isso também pode
ser praticado enquanto a pessoa estiver em pé, ou andando, ou ainda
envolvida nas atividades cotidianas, desde que haja preparo psicologia
para isso. O objetivo final é despertar a fonte do poder espiritual
existente no “eu interior”.
Na yoga, a meditação
constitui-se em se esvaziar de pensamentos, sentimentos e vontades.
Acredita-se que, mediante tal prática, se pode vencer a dor e qualquer
outra influencia negativa, bem como se alcançar um estado “iluminado” ou
transcendência. Daí ser chamada de meditação transcendental.
O segmento zen –
meditação -, surgido na China, ensina que a “iluminação” deve vir de
dentro, tendo a sua origem no coração do individuo. Não há nenhuma
fórmula fixa para se alcançá-la; pode ocorrer de repente, como um raio.
Seria como uma piada que súbito se compreende. Os zen-budistas crêem que
Buda trouxe a iluminação para seu discípulo mais promissor simplesmente
segurando uma flor diante dele, sem nada dizer!
Meditação bíblica
O que significa meditação para os salvos em Cristo, que têm a Bíblia Sagrada como a sua fonte máxima de autoridade? Não
se esvaziar! Ao contrário, o crente deve estar cheio da Palavra de
Deus, pois esta é a base para sua meditação (Cl 3.16; Js 1.8 e Sl
119.15). E meditar na Palavra resulta em bênçãos (Sl 1.1-3; 119.99).
Quando viajo de avião, costumo
avistar as cidades onde já estive. E vejo também outras que só conheço
por cima. Para saber de seus detalhes, como igrejas, pontos turísticos,
nomes de ruas, restaurantes, o comportamento das pessoas etc, precisaria
de mais tempo, esforço, paciência e, o principal, estar em terra.
O que quero dizer com isso? Não
devemos apenas ler a Palavra de Deus. Isso equivale à viagem de avião,
pela qual se obtém uma visão panorâmica; tudo é visto por cima. Mas, ao
viajar de ônibus, carro, a cavalo ou a pé, vemos de perto muitos outros
detalhes. Isso representa a meditação.
Conheço pessoas que já leram a
Bíblia por dezenas de vezes, porém não retiveram quase nada. Por quê?
Fizeram apenas leituras superficiais, para se estabelecer recordes,
ignorando que a leitura mais necessária é aquela com meditação, isto é,
devagar, em oração, refletindo sobre tudo o que se lê e fazendo
apontamentos (Sl 119.48,78,148).
Em meditação, na presença de
Deus, você pode levar meses lendo e estudando apenas um livro das
Escrituras! E, se fizer isso, com certeza a Palavra não ficará apenas em
sua mente (Dt 6.6), quer dizer, então, que a leitura rápida e
sequencial não tem valor? É claro que sim, pois contribuiu para a
síntese da mensagem da Palavra de Deus. No entanto, pela meditação
descobrindo pormenores, verdades profundas do texto sagrado (Hb
5.12-14).
É possível conciliar?
Diante das antagônicas
definições acima, haveria alguma semelhança entre a meditação esotérica e
a cristã? O vocábulo, na língua portuguesa, é igual. Porém, à luz da
Palavra de Deus, meditar é refletir, em oração, como o espírito submisso
a Jesus Cristo, sobre o que está escrito nas Escrituras, a fim de se
compreender a revelação do Senhor (Sl 25.14 e 1 Co 2.14-15).
A meditação esotérica consiste,
como vimos, em esvaziar-se de tudo, para, depois disso, receber as
instruções que brotarão do coração, do “eu interior”. Nesse caso,
consideremos o seguinte:
1) Exclui-se completamente a dependência de Deus,
pois o indivíduo acredita que o seu próprio “eu iluminado” lhe servirá
de guia. De acordo com a Bíblia, no entanto, é a Palavra de Deus que
deve iluminar o nosso coração (Sl 119.11,105,130).
2) Não há espaço no coração
de um esotérico, budista ou qualquer outra pessoa que busque esse tipo
de transcendência para Jesus o u Espírito Santo. Entretanto, as
Escrituras mostram claramente que a experiência da salvação faz daquele
que a recebe uma morada do Deus-trino (Ef 2.22; Jo 14.23 e 1 Co
6.19-20).
3) Pensar que o ser humano pode ser guiado por seu próprio coração é uma atitude perigosa:
“Enganoso é o coração, mas do que todas as coisas, e perverso; quem o
conhecerá?, Jr 17.9. Por isso, o Senhor adverte: “Maldito o homem que
confia no homem”, Jr 17.5).
Diante do exposto, a chamada
meditação transcendental, como elimina qualquer auxílio divino,
contraria o que a Palavra de Deus ensina: “Humilhai-vos, pois, debaixo
da potente mão de Deus, para que ao seu tempo vos exalte”, 1 Pd 5.6.
Como, pois, alguém que se diz
teólogo cristão, pregador, ensinador ou seguidor de Cristo ousa defender
o pensamento de que a meditação é uma prática comum a evangélicos e
esotéricos? Não há possibilidade alguma de se conciliar cristianismo e
esoterismo. Que façamos nossas as palavras do salmista: “Oh! Quanto eu
amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia”, Sl 119.97.
Ciro Sanches Zibordi é pastor na AD em Cordovil, Rio de Janeiro; articulista, escritor e editor de Obras Nacionais da CPAD.
Fonte: Jornal Mensageiro da Paz, Outubro de 2005 – Pág. 14
Link externo: Ensinando e aprendendo
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