Texto Áureo: Rm. 9.20 – Leitura
Bíblica: Lc. 12.13-21
Pb. José Roberto A. Barbosa
Twitter: @subsidioEBD
INTRODUÇÃO
Testemunhamos, nessas últimas décadas, a expansão de um
movimento teológico denominado de Teologia da Prosperidade. Ao longo deste
trimestre estudaremos a respeito da prosperidade, a partir de uma perspectiva
bíblica, diferentemente daquela apregoada por essa que poderia muito bem ser
referida como Teologia da Ganância. Nesta aula, definiremos esse movimento, em
seguida, apontaremos seus fundamentos, e, ao final, destacaremos alguns dos
seus ensinamentos.
1. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: CONTEXTUALIZAÇÃO
A teologia, em si mesma, não é negativa, na verdade, todo
discurso sobre Deus é uma teologia, é justamente essa a etimologia da palavra:
Theos – Deus, e Logia – Discurso, portanto, toda discussão que trata a respeito
de Deus, seja ela bíblica ou não é uma teologia. Em sentido amplo, qualquer
pessoa pode muito bem ser considerado teóloga ou teólogo. Uma teologia bíblica,
isto é, fundamentada na revelação, consoante ao exposto na Escritura, pode
contribuir para a edificação da igreja. A teologia serve à evangelização e às
missões, a fim de que possamos levar corretamente a mensagem da salvação, à
apologética, a fim de confrontar os ensinamentos contrários à Palavra de Deus,
à edificação do Corpo de Cristo, na medida em que esse cresce na doutrina, no
conhecimento e na graça do Senhor Jesus. Mas nem toda teologia é bíblica,
existem muitos movimentos teológicos heterodoxos, que não se coadunam com os
princípios bíblicos. A teologia bíblica parte do pressuposto de que Deus se
revelou (Hb. 1.1,2) e que o Verbo se fez carne (Jo. 1.1,14), por esse motivo,
podemos conhecê-LO. Para tanto, precisamos reconhecer que a Bíblia não é de
particular interpretação (II Pe. 1.20) e que não pode ser lida sem que se
atente para determinados princípios hermenêuticos. A Teologia da Prosperidade
(ou Teologia da Ganância) utiliza a Bíblia para reforçar os interesses dos
líderes, por isso, não se trata de uma teologia exegética (que busca o sentido
no texto), mas eisegética (que leva o sentido para o texto). A Teologia da
Prosperidade utiliza textos isolados e descontextualizados da Bíblia para
defender que os filhos do Rei não podem passar por sofrimento ou privação
financeira. Seus adeptos argumentam que os sofredores e os pobres são infiéis,
e que não estão determinando ou requerendo de Deus o que lhes é de direito. A
espiritualidade do cristão costuma ser atrelada aos bens materiais que consegue
adquirir, por outro lado, a ausência deles costuma ser associada à infidelidade
na doação de ofertas, na maioria das vezes, exigidas acima da capacidade
financeira das pessoas que frequentam suas igrejas.
2. OS FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
O avô da Teologia da Prosperidade foi Emanuel Swedenborg
(1688-1772), um importante cientista sueco. Em 1973 ele publicou um livro
intitulado Infinite [Infinito], posterioremente, lançou outro com o título de
Heavenly Secrets [Segredos Celestiais], no qual advoga ser o único revelador do
Senhor. Ele defendia que havia dialogado um ano com Paulo e conversado
várias vezes com Lutero, como se isso não fosse bastante, que havia estado com
Moisés. Muitos dos seus escritos foram distribuídos e amplamente lidos nos
Estados Unidos, e acabaram influenciando pessoas como Ralph Waldo Trine, Warren
Felt Evans e outros que fundaram o movimento Novo Pensamento. O mentor
intelectual desse movimento foi Phineas Quimby (1802-1866), que, através da
hipnose, desenvolveu a ideia de curas através da mente. A base da sua teoria
era a de que a mente tem poder e habilidade para criar e influenciar, desse
argumento surgiria a Confissão Positiva, isto é, a teologia da determinação, e
a crença de que as palavras têm poder para realizar o que bem se deseja. Um dos
seguidores de Quimby foi Warren Felt Evans (1817-1889), que se tornou o
escritor responsável pela divulgação da ideias de Quimby através dos seus
livros. O mais representativo escritor desse movimento, no entanto, seria Ralph
Waldo Trine (1866-1958), através do qual o Novo Pensamento adquiriu
popularidade. Alguns cristãos acabaram incorporando à doutrina bíblica aos
pressupostos do Novo Pensamento, dentre eles, Norman Vicent Peale (1898-1993),
pastor da Marble Collegiate Church, em Nova Iorque. Ele
ficou conhecido pelo seu livro The Power of Positive Thinking [O Poder do
Pensamento Positivo]. Mas a Teologia da Prosperidade, como a conhecemos
atualmente, ganhou força através do Pastor E. W. Kenyon (1867-1948), sendo esse
o responsável pela relação entre o Novo Pensamento e a Teologia da
Prosperidade. Ele aderiu à Confissão Positiva, colocou o ser humano em posição
elevada e passou a defender a Teologia da Prosperidade e da Saúde.
Posteriormente, Kenneth Hagin (1917-2003) assumiu o posto de principal
evangelista da Teologia da Prosperidade. Ele é o pai do movimento Palavra da
Fé, movimento difundido no Brasil, por vários líderes eclesiásiticos, entre
eles Valnice Milhomens. Alguns líderes neopentecostais (ou pseudopentecostais)
aderiram a esse movimento, dentre eles, Edir Macedo, R. R. Soares e Valdomiro
Santiago os quais, através da utilização da mídia, principalmente a televisiva,
massificaram a Teologia da Prosperidade no país.
3. OS ENSINAMENTOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
A Teologia da Prosperidade, conforme se depreende desse
relato histórico, foi importada dos Estados Unidos, e ainda é bastante popular
naquele país. Atualmente é defendida por líderes como Joel Osteen, T. D. Jakes
e Joyce Meyer. Muitas pessoas assistem pela TV os ensinamentos dessa teologia,
mas não sabem o quanto ela destoa da ortodoxia bíblica. Trata-se também de um
movimento bastante heterogêneo, isso porque cada pastor-celebridade apresenta
determinadas especificidades em relação ao movimento. Os lideres da Teologia da
Prosperidade costumam, em geral, têm uma visão deturpada de Deus. Alguns deles
negam a doutrina da trindade, outros exageram, tal como Benny Hinn, que, a
partir de uma suposta revelação, passou a defender que cada pessoa da divindade
é triuna, resultando em nove pessoas distintas. A visão predominante de Deus na
Teologia da Prosperidade é a de uma divindade sem soberania, isso porque seus
líderes colocam o ser humano em primazia. Para eles o poder não está em Deus, mas
no próprio ser humano, este, através do poder da confissão positiva, deve
determinar, obrigar Deus a fazer o que deseja. A Teologia da Prosperidade acaba
por supervalorizar o ser humano em detrimento de Deus. Ela inverte o papel do
Criador e da Criatura, os seres humanos, e não Deus, é o centro do universo.
Alguns deles, como Paul Crouch e Kenneth Copeland, advogam que o ser humano é
deus ou que têm um deus dentro de si. A ênfase é posta na saúde e na riqueza,
como explicita Oral Roberts, em um de seus livros, que Jesus nunca foi
pobre, e , por conseguinte, nenhum cristão pode aceitar a pobreza. Robert
Tilton vai mais além, argumentando que ser pobre é pecado, já que Deus promete
prosperidade. Para incentivar os adeptos a alcançarem a prosperidade, eles os
desafiam a darem bastante, às vezes, tudo o que têm, com promessas de que serão
recompensados por Deus, em uma espécie de barganha. A visão de salvação deles
também é equivocada, tendo em vista que o pecado é a pobreza, a redenção
acontece quando alguém consegue enriquecer, negando, assim, a condição de
pecado apresentada na Bíblia, e a necessidade de um Salvador. A morte de Jesus
perde a razão de ser, por esse motivo, pouco se fala em arrependimento e novo
nascimento, bem como em ser uma nova criatura.
CONCLUSÃO
A Teologia da Prosperidade ou da Ganância tem causado
estragos ao movimento evangélico brasileiro. Isso porque muitos se fizeram
pastores, outros por acharem pouco, se dizem bispos e apóstolos com o objetivo
de extorquir os incautos. O culto às personalidades se tornou uma prática
recorrente, as mesmas caras estão sempre na televisão, fazendo apelos,
determinando e prometendo saúde e prosperidade. Eles negam a mensagem da cruz
de Cristo, e, com ela, a possibilidade do cristão sofrer. A generalização da
mídia acaba causando deturpações, pois as pessoas pensam que todos os
evangélicos são iguais. Oramos ao Soberano Deus para que, através das próximas
lições, possamos assumir uma posição apologética contra essa famigerada
teologia, que nada tem de bíblica e que se opõe ao genuíno evangelho de Jesus
de Cristo.
BIBLIOGRAFIA
HANEGRAAFF, H. Cristianismo em crise.
Rio de Janeiro: CPAD,
2004.
JONES, D. W., WOODBRIDGE,
R. S. Health, wealth & happiness: has the prosperity gospel
overshadowed the gospel of Christ?. Grand
Rapids, Kregel, 2011.
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