Superintendência
das Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor
Presidente: Aílton José Alves
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1524
2º
TRIM/2016 (Rm 4.17-22)
INTRODUÇÃO
Nesta
lição veremos a definição da palavra justificação; estudaremos a doutrina da
justificação pela fé; analisaremos a insuficiência da Lei para a justificação;
pontuaremos Abraão e a doutrina da justificação; e concluiremos vendo os
elementos da justificação.
DEFINIÇÃO DE JUSTIFICAÇÃO NA BÍBLIA
O sentido de “justiça” no AT procede de dois termos
hebraicos: “tsedeq”, cujo sentido primário é “ser retilíneo”, “ser reto”,
“retidão”; e, “mishpat”, traduzido por “justiça” e “juízo” (2Cr 12.6; Ec
12.14; Sl 1.5; Sl 11.7). O NT emprega a palavra “dikaiosyne” para
designar os termos “justiça”, “retidão”, “justo”, “reto” e “justificação”. No
AT embora o termo “justificar” tenha, às vezes, uma conotação moral ou ética,
grande parte de sua ocorrência deixa evidente o aspecto forense (jurídico) do
termo, onde uma pessoa é declarada judicialmente justa por ter uma vida
coerente com as exigências da Lei (Êx 23.7; Is 5.23; Dt 25.1; Pv 17.15). Já o
sentido no NT do termo “justificar” é mais amplo, pois se trata de uma pessoa
declarada justa ante o tribunal de Deus, com base na justiça de Cristo (VINE,
2006, p. 733).
I
– A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
Podemos definir a
justificação como um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com base na
justiça de Cristo, que todas as reivindicações da Lei são satisfeitas com
vistas ao pecador (Rm 5.1-10; At 26.18). A justificação traz a absolvição da
culpa por sermos declarados justos, e, está claramente associada à expiação dos
nossos pecados (Rm 4.25).
1.1
O que é a doutrina da justificação pela fé? A doutrina da justificação pela fé é o cerne da teologia paulina,
utilizada especialmente quando em confronto direto com o ensino judaico ou dos
judeu-cristãos, que defendiam que o homem encontra a graça de Deus quando
cumpre a vontade divina por meio da Lei judaica (legalismo). Paulo
contra-argumenta que basta ao ser humano ter fé na eficácia do sacrifício de
Cristo na cruz para Deus o declarar justo (Gl 1.6,9). A Escritura nos ensina
que somos justificados pela fé (At 13.39; Rm 3.26,28,30; 4.3,5; 5.1; Gl 2.16;
3.8) ou mediante a fé (Rm 5.1; Gl 2.16; Fp 3.9), mostrando, assim, que existe
uma estreita relação entre a justificação e a fé (GILBERTO, 2004, p.147).
1.2
O aspecto forense da doutrina da justificação pela fé. O termo forense está relacionado ao “sistema e
práticas judiciais”. Neste caso, a justificação tem como base a justiça
de Cristo. Sendo o homem incapaz de se auto-justificar, Deus o justifica. Surge
então a questão: como Deus, sendo absolutamente justo, pode justificar o homem
injusto e pecador? Paulo responde e deixa claro que Cristo se fez justiça por
nós (Rm 3.24-26; 4.5; 1Co 1.30). Portanto, Deus não é injusto ao justificar o
injusto, pois o fundamento é a justiça de Cristo e Deus considera a justiça
dEle pertencente ao homem.
1.3
Jesus e a doutrina da justificação pela fé. A doutrina da justificação pela fé está presente na mensagem propagada
por Jesus, como pode ser constatada em diversas parábolas e também no seu
próprio estilo de vida. Paulo apresenta uma compreensão da mensagem de Jesus
maior do que qualquer outro autor do NT. Um ensinamento tão crucial como a
doutrina da justificação não poderia estar ausente nos ensinamentos do “Mestre
dos mestres”, o Senhor Jesus Cristo (Lc 23.43; Lc 18.9-14). O pecador é
justificado gratuitamente pela graça de Deus (Rm 3.4) e não há nenhuma
possibilidade de justificação pelas obras da lei (Rm 3.28; Gl 2.16; 3.11). A
base da justificação só pode ser encontrada na justiça perfeita de Cristo,
imputada ao pecador na justificação e apropriada pela fé (Rm 3.24; 5.9,19; 8.1;
10.4; 1Co 1.30; 6.11; 2Co 5.21; Fp 3.9).
II
- A INSUFICIÊNCIA DA LEI PARA A JUSTIFICAÇÃO
A justificação é uma providência tomada por Deus de
nos declarar justificados em Cristo Jesus para todo o sempre. Éramos pecadores,
filhos da ira e condenados. Agora, passamos à posição de filhos de Deus, irmãos
mais novos de Jesus e cidadãos dos Céus (Jo 1.11-12; Fl. 3.20-21).
2.1
A justiça do homem é como trapo de imundícia. Como poderia um pecador, um ser humano decaído e
miserável, sobreviver diante do tribunal de um Deus absolutamente santo e
justo? A justiça inerente do homem é insuficiente para a justificação,
considerada como trapos de imundícia (Is 64.6; Fp 3.8,9), sendo necessária uma
justiça superior que está fora do homem e que lhe seja atribuída. A essência da
justificação é de que o homem é perdoado com justiça, entretanto, é preciso
entender que tal justiça é alcançada por Cristo por sua perfeita obediência e o
sacrifício de si mesmo, sendo posteriormente atribuída ao crente. Essa
justificação traz como efeito o perdão, a paz com Deus e a certeza da salvação.
As boas obras não são consideradas como causa, mas como consequências da
justificação (Rm 5.19; 1Co 1.30; 2Co 5.21).
2.2 A justificação pela fé e a
santificação. A justificação pela fé
não significa que uma vez justificado, o crente pode fazer o que bem entender.
Precisa-se tomar cuidado com algumas afirmações teológicas, como por exemplo, a
que ensina que “uma vez salvo, salvo para sempre”. A justificação, como já vimos, é imediata, instantânea. No
entanto, uma vez justificado, o crente deve manter sua vida de comunhão com
Deus e desenvolver a santificação, que é progressiva. Na verdade, na justificação,
Deus realmente remove de nós a culpa pelo pecado, isto é, a sujeição do pecador
à punição eterna, mas não a culpabilidade inerente a qualquer pecado que seja
praticado (Sl 25.7; 51.5-9).
III
- ABRAÃO E A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO
Paulo
inicia o tema da Justificação em Romanos 1.18 e só o conclui em Romanos 4.25.
Estes capítulos incluem: a necessidade da justificação (Rm 1.18-20), o meio da
justificação (Rm 3.21-31) e, exemplos da justificação (Rm 4.1-25). O assunto
principal dos quatro primeiros capítulos de Romanos é a Revelação da Justiça
Salvífica de Deus. A fim de provar a universalidade do pecado (Rm 3.9-20,23), e
a necessidade de justificação geral (Rm 3.22) (GILBERTO, 2004, p.148).
3.1 A justificação de Abraão não foi por
obras meritórias. Os judaizantes do
passado pregavam que a justiça provinha das obras (At 15.1; Gl 2.21). O
apóstolo Paulo diz pela inspiração que somos salvos pela fé e não pelas obras
(Ef 2.8-10). Paulo retrocede no tempo, para além de Moisés, e toma Abraão como
exemplo de fé. Abraão tinha fé em Deus, isto é, cultivava um dedicado e leal
relacionamento com seu Deus, cria nas suas promessas (Rm 4.20,21; Gn 12.1-3;
15.5,6) e vivia em obediência ao Senhor (Gn 12.1-4; 22.1-19; Hb 11.8-19; Tg
2.21,22;). A fé de Abraão foi "imputada" por justiça.
"Imputar" significa creditar na conta da pessoa. A Escritura nos
ensina que somos justificados pela fé (Rm 3.28,30) ou mediante a fé (Rm 5.1; Gl
2.16; Fp 3.9), mostrando, assim, que existe uma estreita relação entre a justificação
e a fé.
3.2 A justificação de Abraão não foi por
meio da circuncisão. Um dos
argumentos mais fortes utilizados pela epístola aos Romanos é da paternidade de
Abraão de todos aqueles que creem (Rm 4.9-12). O período em que Abraão foi declarado
justo pela sua fé na Palavra de Deus, conforme descrito em Gênesis 15.6,
correspondia a uma época bem anterior à sua circuncisão. Se a fé e a
justificação de Abraão ocorrem antes da circuncisão, ele também é pai dos
gentios, que creem independentes de circuncisão. A lei mosaica foi estabelecida
depois da promessa e justificação de Abraão pela fé (430 anos depois).
Portanto, não influenciou na justificação. Dessa forma, Abraão foi justificado
antes da circuncisão e do estabelecimento da Lei (Rm 4.12; Ef 2.8) (GILBERTO,
2004, p.148).
IV
- ELEMENTOS DA JUSTIFICAÇÃO
A justificação é uma das
mais importantes doutrinas da salvação, pois sem ela não haveria salvação.
Tanto o arrependimento como a fé, o perdão e a regeneração conduzem à
justificação. Há quatro elementos da obra de justificação que são: (1) a
remissão dos pecados; (2) a imputação da justiça de Cristo; (3) a
adoção de filhos; e (4) o direito a vida eterna ao pecador. Vejamos:
4.1
A remissão dos pecados. A remissão dos pecados está baseada na obediência completa e absoluta de
Cristo, isto é, em seu perfeito cumprimento da Lei (Sl 32.1; Is 43.25; 44.22;
Jr 31.34). O perdão concedido por Deus na justificação aplica-se a todos os
pecados, passados, presentes e futuros, e, por isso, envolve a remoção da culpa
e de toda a penalidade. Passagens como Romanos 5.21; 8.1,32-34; Hebreus 10.14;
Salmos 103.12; Isaías 44.22 nos asseguram que ninguém pode lançar nada na conta
da pessoa justificada, que está isenta de condenação e é herdeira da vida
eterna.
4.2
A imputação da justiça de Cristo. Na justificação, Cristo não apenas tira de nós a
nossa iniquidade, mas também nos nos reveste com a sua própria santidade (At
26.18; Rm 5.1-2; Gl 4.5). A justificação é uma necessidade para que o crente
tenha certeza absoluta de que está salvo, seguro, aceito por Deus e para criar
uma relação de Pai para filho e filho para Pai entre o crente e Deus. A
salvação e a justificação são só pela graça mediante a fé (Rm. 3.20,28; 11.6;
Ef. 2.8-9).
4.3
Adoção de filhos. Os crentes são, antes de tudo, filhos de Deus por adoção. Por
intermédio dessa adoção, Deus coloca o pecador no estado de filho e passa a
tratá-lo como filho. Em virtude de sua adoção, os crentes são inseridos na
família de Deus, ficam sob a lei da obediência filial e passam a ter direito a
todos os privilégios da filiação. A adoção como filhos e a filiação moral dos
crentes andam de mãos dadas. Por um lado, eles são adotados por Deus como
filhos. Por outro, eles passam a se comportar como filhos de Deus (Gl 4.4-6).
4.4
O direito à vida eterna. Quando os pecadores são adotados por Deus, eles passam a ter todos os
direitos de filhos e, por isso, tornam-se herdeiros de Deus e co-herdeiros com
Cristo (Rm 8.17). Isso significa, antes de tudo, que eles se tornam herdeiros
de todas as bênçãos da salvação nesta vida. A
justificação é a mudança de posição externa e legal do pecador diante de Deus:
de condenado para justificado. Pela justificação passamos a pertencer aos
justos (1Co 6.11; Rm 8.30,33b; 5.1; 3.24; G1 2.16).
CONCLUSÃO
Tendo sido justificados pela graça, mediante a fé,
experimentamos grandes benefícios de agora em diante. "Temos paz com
Deus" (Rm 5.1) e estamos preservados "da ira de Deus" (Rm 5.9).
Temos a certeza da glorificação final (Rm 8.30) e a libertação presente e
futura da condenação (Rm 8.1,33,34). A justificação nos toma "herdeiros,
segundo a esperança da vida eterna" (Tt 3.7).
REFERÊNCIAS
- ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário
Teológico. CPAD.
- GILBERTO,
et al. Teologia Sistemática
Pentecostal. CPAD.
- STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal. CPAD.
- VINE, E. W; et al. Dicionário Vine: o significado exegético e expositivo das palavras
do AT e NT. CPAD.
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