2º TRIMESTRE DE 2016 (Rm 6.1-12)
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, veremos que a situação espiritual do homem, quer seja judeu ou gentio,
destacada por Paulo na epístola aos Romanos é de pecado generalizado. Todavia,
Deus soberanamente decidiu, por sua graça, manifestar a salvação através de
Cristo Jesus. Pontuaremos as duas principais deturpações e as devidas
refutações quanto a compreensão da graça que surgiu na história da igreja; e,
por fim, destacaremos ainda que, somente pela graça o homem pode ser salvo.
I – A SITUAÇÃO DO HOMEM E A
MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA DE DEUS
1.1 A condição pecaminosa
dos judeus e gentios. Na epístola aos Romanos, o
apóstolo Paulo apresenta a situação geral do gênero humano: “Ninguém
é justo diante de Deus” (Rm 3.10-18). Portanto, os judeus não são
melhores que os gentios, pois ambos “estão debaixo do pecado” (Rm
3.9). Diversas passagens do AT mostram essa triste realidade (Is 59.4- 8; Ec
7.20; Sl 14.2-3; 53.2-3), pois todos estão corrompidos e precisam de um
Salvador (Rm 3.13-18; Sl 5.9; 10.2-8; 36.1; Is 59:7-8). Em Adão todos pecaram
(Rm 5.12), e consequentemente, estão destituídos da glória de Deus (Rm 3.23);
condenados (Rm 5.16); e, mortos (Rm 6.23-a).
1.2 A perfeição da Lei e a
imperfeição do homem. Deus deu a Lei natural aos
gentios (Rm 2.14) e a Lei de Moisés ao povo de Israel (Rm 9.4), ambas
condenaram ambos os povos (Rm 2.14; 23-25). Referindo-se especificamente ao
Decálogo (Dez Mandamentos), Paulo diz que: “o mandamento é santo, justo e
bom” (Rm 7.12). Todavia, o homem não tem condições de cumprir a Lei,
por causa de seu estado de pecado (Rm 7.14-21). Aliás, quando forneceu a Lei ao
homem, Deus não tinha o propósito de que por ela, o pecador viesse a ser salvo,
por isso, ele instituiu sacrifícios, porque sabia da fragilidade humana (Lv
1.5; 16.33). Na verdade a Lei, segundo Hoff (1995, p. 66) foi dada com três
objetivos: (a) Proporcionar uma norma moral aos homens (Êx 19.4-6; 20.1-
17); (b) demonstrar a natureza e o caráter de Deus (Lv 11.44,45; 19.2;
20.7,26; 21.8); e, (c) Mostrar à humanidade seu estado pecaminoso e
revelar que, só pela graça, podemos ser salvos (Rm 3.20; Gl 3.24,25).
1.3 A manifestação da
salvação pela graça. Se o gentio e o judeu são
igualmente culpados diante de Deus e não podem por si mesmos serem
justos, como poderá o homem ser salvo? Paulo nos responde: “Porque o
salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida
eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6.23). Embora o homem
merecesse a separação eterna de Deus por causa de sua rebeldia
deliberada, por sua graça, ou seja favor imerecido, Deus revolveu conceder
gratuitamente a vida eterna aqueles que não merecem. Portanto “a graça divina
é, então, Deus mesmo renunciando ao exercício do justo castigo por sua livre e
soberana decisão” (ALMEIDA, 1996, p. 28).
II – A GRAÇA DE DEUS E AS DETURPAÇÕES
Desde
o primeiro século da igreja até os dias atuais o ensino sobre a graça de Deus
tem sofrido deturpações (Rm 1.25; 2Pe 3.15,16). Há aqueles que acham que o
homem não pode ser salvo apenas pela graça, fazendo-se necessário a guarda da
Lei (At 15.1,5); e a outros que acreditam que, já que somos salvos pela graça,
independente das obras, nada que façamos de mal depois de salvos poderá nos
fazer perder esta salvação (Rm 6.1). Abaixo destacaremos pelos menos dois
principais grupos que deturparam este precioso ensino. Vejamos:
2.1
O Legalismo defendido pelos
judaizantes. “Os judaizantes foi um movimento surgido
nas primeiras décadas da Igreja Cristã, cujo objetivo era forçar os crentes
gentios a observar a Lei de Moisés (legalismo), principalmente a Lei
cerimonial, que incluía: a prática da circuncisão, a abstinência de alguns
alimentos e a guarda do sábado e dias tidos como especiais (Cl 2.16-23). Na
verdade, esse movimento pretendia reduzir o Cristianismo a uma mera seita
judaica” (ANDRADE, 2006, p. 242). Contra esta pretensão, que contrariava
frontalmente a Nova Aliança, levantou-se Paulo veementemente em suas cartas (Rm
3.28; Gl 2.16; 3.11; 3.24). Os modernos defensores do novo legalismo procuram
enganar os incautos com citação de textos bíblicos isolados, os quais eles
torcem em favor de seus pontos de vista. Portanto, as leis do Antigo Pacto
destinadas diretamente a nação de Israel, tais como: as leis sacrificiais,
cerimoniais, sociais ou cívicas (Lv 1.2-3; 24.10), já não são obrigatórias para
quem está no Novo Pacto (Cl 2.16-17; At 15.24-29; Hb 10.1-4).
2.2
O Antinomismo defendido
pelos gentios. Em Romanos 6.1 o apóstolo Paulo faz a
seguinte pergunta: “Que diremos pois? Permaneceremos no pecado,
para que a graça abunde?”. Em seguida ele responde: “De modo
nenhum” (Rm 6.2-
a). “Paulo destrói a aparente lógica
desse argumento apontando que o desejo de continuar pecando (uma vez que o
perdão de Deus esta garantido) mostra que o indivíduo não entendeu o
significado da graça ou a gravidade do pecado” (TOKUMBOH, 2010, p. 1395).
Alguns intérpretes da Bíblia alegam que esta pergunta de Paulo foi formulada
porque certos grupos libertinos, levaram seus ensinamentos ao extremo, por
exemplo o da justificação pela fé independente das obras (Rm 3.28). Estes
afirmavam que, desde que uma pessoa tivesse fé em Cristo (isto é, cresse nas
coisas certas a respeito de
sua divindade e em sua obra realizada para
conceder perdão), não importaria se os atos dela fossem bons ou maus. Aqueles
que pensam dessa forma são chamado de antinomistas. A palavra Antinomismo “Do
grego “anti” que significa: “contra”, e “nomos”,
“lei”. Alegam os antinomistas que, salvos pela fé em Cristo Jesus, já
estamos livres da tutela de Moisés. Ignoram, porém, serem as
ordenanças morais do Antigo Testamento pertencentes ao elenco do direito
natural que o Criador incrustara na alma de Adão. Todo crente piedoso os
observa; pois o Cristo não veio ab rogá-los; veio cumpri-los e sublimá-los”
(ANDRADE, 2006, p. 51 – acréscimo nosso).
III – SOMENTE PELA GRAÇA O
SER HUMANO PODE SER SALVO
O apóstolo Paulo foi o principal instrumento
humano para transmitir o pleno significado da graça em Cristo. Não é de admirar
que mais tarde ele viesse a ser conhecido como “o apóstolo da graça”.
Com maestria, ele nos fala sobre a graça de Deus na epístola aos Romanos de
forma abundante (Rm 1.5,7; 3.24; 4.4,16; 5.2; 5.15,17,18; 5.20; 5.21; 11.6). No
NT, a palavra graça no grego é “charis”, que indica “graciosidade,
favor”. Abaixo destacaremos algumas verdades sobre este
maravilhoso favor segundo a teologia paulina:
3.1 A graça é um ato
soberano (Rm 1.7; 5.15; Tt 2.11). Nos referidos textos, Paulo nos diz que a graça procede
soberanamente de Deus. Isto porque o favor lhe pertence e vem dEle, como
sua fonte originária (I Co 15.10; I Pe 5.10). Segundo a Bíblia Deus manifestou
a sua graça em toda a sua plenitude na Pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo (II Co
8.9; 13.13; Gl 1.6; 6.18; Ef 2.7; Fp 4.23; Ap 22.21). “A expressão 'manifestar'
no original se relaciona ao substantivo 'epifania', ou
seja, 'aparecimento' ou 'manifestação' (por
exemplo, do sol ao amanhecer). A graça de Deus surgiu repentinamente
sobre os que estavam nas trevas e na sombra da morte (Ml 4.2; Lc 1.79; At
27.20; Tt 3.4)” (HENDRIKSEN, 2001, p. 453).
3.2
A graça é imerecida (Rm 3.24; 11.6; Ef 2.5.7-8) . A
palavra traduzida como graça significa “favor imerecido”. Para
falar sobre este favor imerecido ao pecador, Paulo usa a seguinte
argumentação: “Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é
imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não
pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como
justiça” (Rm 4.4,5). Nestes versículos, o apóstolo deixa claro que a
salvação é concedida ao homem sem ele merecer. Não há nada que o homem
faça para o tornar digno de ser salvo, pois a graça aniquila qualquer obra que
visa receber a salvação por mérito “Não vem das obras, para que ninguém
se glorie” (Ef 2.9). Segundo Soares (p. 76) “A graça é o favor
imerecido de Deus para com o pecador; é a bondade para quem apenas merece o
castigo”.
3.3
A graça é suficiente (Rm 3.24; Ef 2.8). Paulo
nos mostra que a Lei não é suficiente para salvar o homem. Até porque seu
propósito é revelar o pecado e não extirpá-lo (Rm 7.7). Todavia, a graça de
Cristo faz por nós aquilo que a Lei nunca poderia. Um dos pontos da Reforma
Protestante é o “sola gratia” que diz que embora a fé seja o
caminho dado por Deus para a salvação, não é ela quem nos salva, mas a graça “Porque
pela graça sois salvos” (Ef 2.8-a). Lutero refutou o ensino católico
romano da salvação pelas obras, alegando com base no que diz a Bíblia, que é
pela graça, o favor imerecido de Deus, que ele nos concede a bênção da salvação
(At 15.11; Rm 11.6).
3.4
A graça não faz acepção (Rm 1.16; 3.29; 9.24) . Desde
o início, a proposta divina sempre foi estender a bênção da salvação a
todos os homens indiscriminadamente (Gn 12.3; Gl 3.8). É errôneo pensar embora “todos
pecaram” (Rm 3.23), somente os eleitos serão salvos. Em Tito 2.11 Paulo
diz “[...] a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a
todos os homens”. A vinda do Messias mostra claramente que, Deus
não faz acepção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; I Pe
1.17). Portanto, a graça de Deus que nos é oferecida mediante o evangelho, é
derramada sobre todos em pé de igualdade, ou seja ela alcança tanto judeus como
gentios (Gl 3.14; Ef 3.6).
3.5
A graça pode ser resistida (At 18.5,6). A
ideia de que a graça é irresistível está ligada a Agostinho. “De acordo com ele,
a graça de Deus atua incondicional e irresistivelmente nos eleitos, garantindo
a salvação deles, produzindo a reação favorável dos homens para com o evangelho
e garantindo que essa reação seja absolutamente completa e eficaz” (CHAMPLIN,
2004, p. 957). A Bíblia, no entanto, nos mostra que o homem pode por seu livre
arbítrio aceitar ou rejeitar o plano divino para a sua salvação (At 4.4; 9.42;
17.4; Hb 3.15; 4.7). O povo de Israel é a maior prova de que a graça não é
irresistível, pois o apóstolo João diz: “Veio para o que era seu, e os
seus não o receberam” (Jo 1.11). Jesus quando estava em frente ao Monte
das Oliveiras declarou: “Jerusalém, Jerusalém, [...] quantas vezes QUIS
EU ajuntar os teus filhos, [...] e TU NÃO QUISESTE!” (Mt
23.37). Confira ainda: (At 7.51; 18.6).
CONCLUSÃO
Apesar
da queda da raça humana, Deus, por sua maravilhosa graça decidiu soberanamente
salvar o homem caído em pecado, por meio de Jesus Cristo. Esta graça alcança a
todos os homens indistintamente e apesar de nos salvar independente das obras,
nos impele a uma vida de santificação que é a evidência visível da salvação.
REFERÊNCIAS
·
ALMEIDA,
Abraão de. O Sábado, a Lei e a Graça. CPAD.
·
ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
·
CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
·
HOFF,
Paul. O Pentateuco. VIDA.
·
TOKUMBOH, Adeyemo. Comentário Bíblico
Africano. MUNDO CRISTÃO.
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